São Paulo, domingo, 23 de maio de 2004

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FÓRUM DAS CULTURAS

Mostra em Barcelona traz, em 180 trabalhos, a forma como a raça humana representou a si mesma

Exposição revela a história do homem pelo homem

IVAN PADILLA
FREE-LANCE PARA A FOLHA, DE BARCELONA

A arte é um espelho do ser humano. Ao longo dos séculos, o homem representou sua própria imagem em pinturas, esculturas, máscaras, miniaturas, fotografias... A forma varia de acordo com a época e a civilização. A mostra "A Condição Humana", parte da programação do Fórum das Culturas de Barcelona, reúne 180 obras antropomórficas de diversos períodos históricos.
"Tentamos fugir do eurocentrismo e expor pontos de vista diversos, sem nenhum julgamento, deixando que a arte fale pelos povos", afirmou o comissário Pedro Azara, professor de estética da Escola de Arquitetura de Barcelona, na inauguração da exposição, aberta ao público até o final do evento, no dia 26 de setembro.
As peças vão de simples retratos a figuras mitológicas, das mais realistas às mais fantasiosas, e pertencem a cerca de 80 museus e coleções particulares do mundo inteiro. Até conseguir reunir o acervo, os organizadores solicitaram cerca de 2.000 obras, durante dois anos. A mostra está instalada no Museu de História da Cidade, no bairro gótico de Barcelona, e se divide em quatro grandes temas.
A maior parte das peças fica na ala "O Homem, Centro do Mundo", um olhar sobre a figura humana como parte de um macrocosmo. Na tentativa de identificar sua comunidade e se localizar no mundo, o homem sempre se preocupou em registrar o nascimento, a vida e a morte através de representações cotidianas.
Esculturas etruscas do século 5 a.C., desenhos iranianos em papel do século 17 e estatuetas incas simbolizam o amor filial. Quadros de pintores consagrados, como "Dona no Café", de Henri Toulouse-Lautrec, de 1886, e "Dois Banhistas", de Joan Miró, de 1936, lançam um olhar mais contemporâneo ao dia-a-dia. Uma série de fotos em preto-e-branco de pessoas anônimas, cada uma de uma idade, de um bebê de oito semanas a uma senhora de cem anos, sintetiza o ciclo da vida.
"A Natureza" aborda a relação entre o homem e o ambiente. Imagens híbridas, nas quais se misturam traços humanos e de animais, carregam diferentes significados de acordo com cada período. Na Antigüidade, a fusão de traços remetia ao divino. Com o tempo, passou a ser associada à barbárie. Nas artes moderna e contemporânea, representa um mundo de fantasia.
Nessa ala está a peça mais antiga da exposição. Trata-se de uma placa de pedra com uma figura humana esculpida no centro chamada "Feiticeiro", de mais de 15 mil anos. Foi encontrada em uma caverna em Vienne, na França. Ao lado, encontra-se uma estátua de centauro em mármore branco do século 2, de propriedade do Museu do Vaticano.
"O Sobrenatural" reúne obras que simbolizam o culto aos mortos, ídolos e ícones. Entre os destaques, estão uma ala de guardiões de tumbas da dinastia chinesa Han, uma máscara nigeriana de argila queimada do século 5 a.C. e uma máscara de cerâmica nepalesa de Bharaiva do século 16.
"A Vida Artificial" é uma tentativa de mostrar imagens dos seres criados pelo homem através de obras de Picabia, Man Ray e De Chirico. Representa a época da industrialização e mecanização da vida. De acordo com o comissário Pedro Azara, essas peças remetem a uma "antiga aspiração do ser humano em adquirir o dom divino da criação".



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