São Paulo, sábado, 23 de maio de 1998

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SEGUNDA GERAÇÃO
"Into the Sun", do filho de John e Yoko Ono, tem influências da bossa nova e de Astrud Gilberto
Sean Lennon lança primeiro álbum-solo

Reprodução
Sean Lennon, filho de John e Yoko Ono, que lança "Into the Sun"


JAMES McNAIR
do "The Independent"

Volte no tempo para 1980 e ao álbum "Double Fantasy", de John Lennon e Yoko Ono. É um trabalho em que Lennon está amando, renovado, depois de cinco anos de intervalo, e seu contentamento se espalha em composições belas. "Woman" é outra prova de devoção a Yoko, enquanto "Beautiful Boy" é um afago ao seu filho Sean, então com 5 anos.
É difícil ter uma idéia de como os anos se passaram para ele, mas Sean Lennon tem hoje 23 anos e lançou no último dia 18 seu primeiro álbum solo, "Into the Sun", pelo selo dos Beastie Boys, Grand Royal.
Em 1995, ele colaborou com a mãe, Yoko, no álbum "Rising", mas foi quando seu trio IMA se separou, em 1996, que ele começou a escrever o material mais contemplativo e íntimo, que aparece em "Into the Sun".
Produzido por sua namorada, Yuko Honda -metade da dupla de pop alternativo de Nova York Cibo Matto-, o álbum é descrito por Sean como um tipo de "cápsula do tempo musical", documentando os primeiros seis meses de vida em comum do casal.
Nas letras, é uma expressão tão nua do relacionamento do casal como a capa de "Two Virgins", de John e Yoko. "Mystery Juice", por exemplo, tem Sean confessando: "Não suporto quando você fala daquele outro cara". Em "Two Fine Lovers", as coisas ficam um pouco melhores.
Musicalmente, é um álbum subestimado, mas surpreendentemente eclético. E, como Lennon passeia por influências que vão do pop latino ao grunge e jazz; da guitarra ao baixo, à bateria ao teclado, é fácil reconhecer um talento musical com uma habilidade impressionante de atravessar tanto gêneros como eras.
"São golpes diferentes para pessoas diferentes", explica Sean. "Queria que fosse assim para que as pessoas não pensassem que sou apenas um imitador dos Beatles ou algo do gênero."
Com uma modéstia surpreendente para quem teve um pai tão famoso, Lennon pode se empolgar com seus ídolos. Brian Wilson, dos Beach Boys, que ele irá entrevistar para a revista de rock "Raygun" em breve, é um de seus maiores heróis, e ele reverencia "I Just Wasn't Made for these Times", o aclamado documentário sobre o líder dos Beach Boys.
"Eu nunca encontrei um talento tão explosivo como esse cara -eu devo chorar ao vê-lo."
O mais jovem dos Lennon também tem a mesma empolgação com música fora das listas do rock e do pop. Tom Jobim (que ele passou a admirar quando Yuka lhe deu uma caixa com trabalhos do compositor no Natal) é uma influência óbvia na leve faixa título.
A canção é um dueto bossa nova no qual Sean canta com Miho, cantora do Cibo Matto, que ele acha que tem algo do jeito de "Astrud Gilberto cantar".
Quando indagado sobre o ponto principal da gravação do álbum, Lennon opta por uma sessão na qual um grupo de jazz tocou ao vivo para formar o exato clima instrumental de "Photosynthesis". "Eu estava no piano, e Yuka numa Fender Rhodes", ele lembra. "Ter todos esses músicos que eu respeito e admiro -Dave Douglas no trompete, Brad Jones e EJ Rodriguez, dos Jazz Passengers- foi fantástico".
Nos shows mais recentes dos EUA, a mídia e o público ficaram impressionados com a versão de "God Only Knows", dos Beach Boys. É esperar para ver.


Tradução: Denise Bobadilha


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