São Paulo, quarta-feira, 23 de junho de 2004

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Isabela Capeto lavou a alma da moda

Estilista estréia na SPFW com desfile consistente; último dia teve também Marcelo Quadros, Forum, André Lima e Poko Pano

ERIKA PALOMINO
COLUNISTA DA FOLHA

JACKSON ARAUJO
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Isabela Capeto fez o mais consistente desfile de moda feminina na São Paulo Fashion Week, no último dia do evento, ontem, no parque Ibirapuera.
A estilista carioca, estreante no evento, apresentou uma coleção inspirada na cultura africana, mas sem ranço étnico. Aciona o repertório do retrô sem cheirar a naftalina, apenas evocando uma nostalgia da moda. É brasileiro sem precisar se vestir de verde-amarelo; é artesanal sem fiapo. O modelo da apresentação funcionou muito. A sala foi cercada de placas de madeira, criando um "vazio", em que no meio ficava um instrumentista tocando arqui-alaúde. As modelos entravam na sala por trás do público e desciam ao nível do chão para caminhar em quadrados, sem nunca sair de cena.
O ponto de partida é Mali, o trabalho de Seydou Keita e Malick Sidibê, mas o resultado é urbano, num mix especial de estampas, apliques, pins e patchworks. Deus e Isabela Capeto estão nos detalhes. Assim, ela cuida de babadinhos, sianinhas, frufrus, tudo para conseguir uma roupa extremamente feminina e usável. Poética, quase, do vestido decorativo usado com paletozinho no início, em Lucy Horn, até a grande saia romântica de Marcelle Bittar, com megaflores.
Marcelo Quadros mostrou progressos, num desfile conciso e no tom certo: glamouroso e sem pretensão. O estilista usa a imagem de "Querelle", filme de Fassbinder (1946-1982), para colocar na passarela a estética marinheira que trouxe a brincadeira do masculino/feminino, remetendo também ao fotógrafo Helmut Newton (1920-2003). Os melhores looks ficaram por conta das listras em preto e branco (tendência) em paetê, regatas e vestidos do início, o vestido dourado de renda e o preto com bordado de nós.
Na Poko Pano, última marca de moda praia a desfilar, a cultura popular pernambucana serviu de referência para o trabalho de estamparia e para a trilha sonora, que teve a Nação Zumbi tocando ao vivo. Mas a riqueza do tema foi pouco explorado -num segmento em que a estamparia serve como diferencial de uma grife para a outra. O melhor: biquínis e maiôs amarrados com fitilhos.
A Forum fez o mais esperado desfile da noite, mas decepcionou. Sua incursão em uma moda romântica, retrô, feminina, suave, etérea (etc.) resultou na coleção em que mais se ressente da personalidade da grife de Tufi Duek. É Forum, mas poderia ser Alphorria, Carlos Tuvfesson, Walter Rodrigues... qualquer coisa. O DNA Forum aparece nas calças capri, as melhores peças da coleção. No máximo, nos corsets, que bem poderiam aparecer com calças jeans. Do jeito que está, a marca parece perdida num labirinto de colunas neoclássicas (!) como as de seu cenário. Um vestido-coluna de jérsei não faz um verão.
Já André Lima criou belos momentos na passarela com desfile narrado pela jornalista Cristina Franco, lembrando seus áureos tempos de "Jornal Hoje", que fizeram a história de gerações e gerações de fashionistas no Brasil. André gosta de misturar tudo, e a moda adora está baguncinha. A imagem da coleção é da cantora Clara Nunes, que vira estampa nos looks tropicalistas, orienta os cabelos encaracolados e tem na modelo Mariana Weickert a síntese desse verão: uma mulher desejável, sexy e muito esvoaçante.
A mineira Vide Bula encerrou a SPFW de verão 2005 com desfile de inspiração brasileira, de moda real, simples e bem comercial.


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