|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Isabela Capeto lavou a alma da moda
Estilista estréia na SPFW com desfile consistente; último dia teve também Marcelo Quadros, Forum, André Lima e Poko Pano
ERIKA PALOMINO
COLUNISTA DA FOLHA
JACKSON ARAUJO
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Isabela Capeto fez o mais consistente desfile de moda feminina
na São Paulo Fashion Week, no
último dia do evento, ontem, no
parque Ibirapuera.
A estilista carioca, estreante no
evento, apresentou uma coleção
inspirada na cultura africana, mas
sem ranço étnico. Aciona o repertório do retrô sem cheirar a naftalina, apenas evocando uma nostalgia da moda. É brasileiro sem
precisar se vestir de verde-amarelo; é artesanal sem fiapo. O modelo da apresentação funcionou
muito. A sala foi cercada de placas
de madeira, criando um "vazio",
em que no meio ficava um instrumentista tocando arqui-alaúde.
As modelos entravam na sala por
trás do público e desciam ao nível
do chão para caminhar em quadrados, sem nunca sair de cena.
O ponto de partida é Mali, o trabalho de Seydou Keita e Malick
Sidibê, mas o resultado é urbano,
num mix especial de estampas,
apliques, pins e patchworks. Deus
e Isabela Capeto estão nos detalhes. Assim, ela cuida de babadinhos, sianinhas, frufrus, tudo para conseguir uma roupa extremamente feminina e usável. Poética,
quase, do vestido decorativo usado com paletozinho no início, em
Lucy Horn, até a grande saia romântica de Marcelle Bittar, com
megaflores.
Marcelo Quadros mostrou progressos, num desfile conciso e no
tom certo: glamouroso e sem pretensão. O estilista usa a imagem
de "Querelle", filme de Fassbinder (1946-1982), para colocar na
passarela a estética marinheira
que trouxe a brincadeira do masculino/feminino, remetendo também ao fotógrafo Helmut Newton
(1920-2003). Os melhores looks ficaram por conta das listras em
preto e branco (tendência) em
paetê, regatas e vestidos do início,
o vestido dourado de renda e o
preto com bordado de nós.
Na Poko Pano, última marca de
moda praia a desfilar, a cultura
popular pernambucana serviu de
referência para o trabalho de estamparia e para a trilha sonora,
que teve a Nação Zumbi tocando
ao vivo. Mas a riqueza do tema foi
pouco explorado -num segmento em que a estamparia serve
como diferencial de uma grife para a outra. O melhor: biquínis e
maiôs amarrados com fitilhos.
A Forum fez o mais esperado
desfile da noite, mas decepcionou. Sua incursão em uma moda
romântica, retrô, feminina, suave,
etérea (etc.) resultou na coleção
em que mais se ressente da personalidade da grife de Tufi Duek. É
Forum, mas poderia ser Alphorria, Carlos Tuvfesson, Walter Rodrigues... qualquer coisa. O DNA
Forum aparece nas calças capri,
as melhores peças da coleção. No
máximo, nos corsets, que bem
poderiam aparecer com calças
jeans. Do jeito que está, a marca
parece perdida num labirinto de
colunas neoclássicas (!) como as
de seu cenário. Um vestido-coluna de jérsei não faz um verão.
Já André Lima criou belos momentos na passarela com desfile
narrado pela jornalista Cristina
Franco, lembrando seus áureos
tempos de "Jornal Hoje", que fizeram a história de gerações e gerações de fashionistas no Brasil. André gosta de misturar tudo, e a
moda adora está baguncinha. A
imagem da coleção é da cantora
Clara Nunes, que vira estampa
nos looks tropicalistas, orienta os
cabelos encaracolados e tem na
modelo Mariana Weickert a síntese desse verão: uma mulher desejável, sexy e muito esvoaçante.
A mineira Vide Bula encerrou a
SPFW de verão 2005 com desfile
de inspiração brasileira, de moda
real, simples e bem comercial.
Texto Anterior: Desfiles Próximo Texto: Lama visita SPFW e abençoa evento Índice
|