São Paulo, quinta, 23 de julho de 1998

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RIO CINE FESTIVAL
Elo perdido do cinema americano é exibido no Rio

Reprodução
Cena do filme "Ricardo 3º", dirigido por James Keane e estrelado por Frederick Warde



Desaparecido por 80 anos, o mais antigo longa dos EUA, "Ricardo 3º", é a atração de domingo do evento, que abre hoje à noite com "Slam", vencedor do indie Sundance


CRISTINA GRILLO
da Sucursal do Rio

Durante 80 anos, cinéfilos consideraram perdido o filme "Ricardo 3º", uma superprodução norte-americana dirigida por James Keane em 1912 e estrelada pelo inglês Frederick Warde, um dos mais conceituados atores de teatro shakespeariano da época.
Em 1996, a surpresa: em uma caixa enviada pelo colecionador e ex-projecionista William Buffum, então com 78 anos, ao AFI (American Film Institute), estavam os cinco rolos da primeira versão ci nematográfica de Shakespeare.
Uma cópia do filme, restaurado pelos técnicos do AFI, é uma das atrações da 14ª edição do Rio Cine Festival, que começa hoje no Rio. "Ricardo 3º", o mais antigo longa-metragem da história do cinema norte-americano, é exceção em um festival que vai apresentar, até o dia 30, quase 50 filmes da recente produção cinematográfica mundial -entre eles, "Slam", de Marc Levin, vencedor do Festival de Sundance deste ano, e "The Big Lebowski", mais recente filme dos irmãos Coen.
A história da redescoberta de "Ricardo 3º" é quase inacreditável. Buffum colecionava curtas-metragens do cinema mudo em sua casa, em Portland (EUA). Tinha cerca de 30 filmes quando sua mulher pediu que se livrasse da coleção, com medo de um incêndio em casa. Buffum trocou a coleção por dois filmes dos quais nunca tinha ouvido falar: "Ricardo 3º" e "When Bearcat Went Dry", clássico de 1919. Apesar de não conhecer os filmes, durante anos rebobinava todo o filme para evitar a decomposição do nitrato e promovia também sessões para amigos. Cansado do trabalho, decidiu doar os filmes para o AFI. Pagou US$ 70 para enviá-los à sede da instituição, em Los Angeles. Ken Wlaschin, vice-presidente de Preservação do AFI, levou um susto ao descobrir o que havia recebido.
"Wlaschin sabia que o filme havia sido feito, mas, como todo cinéfilo, acreditava que não existiam mais cópias dele. O cuidado do colecionador em "oxigenar' a cópia evitou que ela se perdesse", diz Carlos Brandão, diretor do Centro de Pesquisadores do Cinema Brasileiro. A exibição do clássico é um dos eventos especiais do encontro anual que o centro promove paralelamente ao Rio Cine. Wlaschin, convidado pelos pesquisadores brasileiros para participar de um seminário sobre recuperação e preservação da memória cinematográfica brasileira, decidiu então trazer uma das cópias do filme feitas pelo AFI. "Ricardo 3º" é uma superprodução para os padrões de então. Custou US$ 30 mil -um orçamento astronômico para a época- e utiliza centenas de figurantes em suas cenas de batalha.
Algumas sequências do filme, que tem 55 minutos de duração, foram pintadas à mão, processo comum na época. Em sua exibição no Rio (domingo, às 18h, no cinema Estação Botafogo, na zona sul), "Ricardo 3º" será acompanhado pelo pianista Cadu Pereira, especialista que costuma acompanhar exibições de clássicos do cinema mudo na cidade.


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