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ANÁLISE
A palavra de ordem poderia ser: Deus salve o petróleo
INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA
A memória? Se a questão for
federal, não pergunte ao Instituto do Patrimônio Histórico e
Artístico Nacional. O Iphan acabou de se livrar da Cinemateca
Brasileira, por sinal. Se a questão
for estadual... pergunte na Secretaria de Cultura se alguém sabe
onde fica a Cinemateca, ou o Condephaat.
O melhor é ir direto ao guichê
certo, o da Petrobras (e/ou BR). E
que diabo tem o petróleo com a
preservação de bens culturais, filmes em particular? Ninguém pergunte demais. O certo é que ninguém parece mais empenhado,
fora do gueto cinematográfico,
em permitir que filmes continuem a existir.
Há algum tempo ela patrocinou
o restauro de "Aviso aos Navegantes". No Festival do Rio estreará um remoçado "Menino de Engenho", de Walter Lima Jr. Há
poucos anos, pela televisão, a filha
de Joaquim Pedro de Andrade lamentava o estado de "O Padre e a
Moça". Bem, agora teremos sua
obra inteira restaurada.
Não vem ao caso chover no molhado e ressaltar a importância do
cinema de Joaquim Pedro. Ele foi
um cineasta central da segunda
metade do século 20, portanto do
cinema brasileiro, apesar dos altos e baixos. Perder "O Padre e a
Moça" ou "Macunaíma" seria crime de lesa-pátria.
Um consolo para um cinema
que perdeu, há pouco, a Cinemateca do MAM, do Rio de Janeiro.
A história da preservação cinematográfica é, no Brasil, uma história
de perdas. Os ganhos, para que
existam, exigem tantas lutas que
mal se compreende por que ainda
existem pessoas preocupadas
com isso.
A memória é um incômodo. Para um governante vale muito mais
patrocinar um filme (e ainda mais
um espetáculo musical, uma peça) do que um restauro. Para um
cineasta, vale muito fazer um filme agora do que saber se ele existirá daqui a 50 anos.
A memória é uma tranqueira.
Só a Petrobras e a BR parecem
lembrar-se dela. É um caso interessante, pois já era assim no governo passado e continuou.
Poucos avaliarão a importância
dessa política (muitos saberiam
queixar-se quando os filmes enfim se perdessem). No meio cinematográfico, a palavra de ordem
bem poderia ser: Deus salve o petróleo.
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