São Paulo, segunda-feira, 23 de outubro de 2000

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FREE JAZZ FESTIVAL

IRVIN MAYFIELD E GREG OSBY
Músicos funcionam melhor quando tocam juntos

EDSON FRANCO
EDITOR DO TV FOLHA

Pode ter sido o maior momento da edição 2000 do Free Jazz. Às 22h30 de sexta-feira, o saxofonista Greg Osby voltou ao palco New Directions para o bis. Sua banda começou a tocar um blues lento. De repente, o trompetista Irvin Mayfield -a atração anterior- passou a trocar solos com Osby.
Deu-se então o êxtase. Sobre uma textura harmônica extraída da mais profunda raiz do jazz, os músicos despejaram melodias contemporâneas, criando focos de tensão resolvidos de maneira sempre surpreendente. Na platéia, não houve quem chegou sentado à última nota dessa música.
Foi a coroação de uma noite que começou dando a impressão de que o público sairia sem ouvir novas direções para o jazz atual.
Irvin Mayfield trouxe a São Paulo uma fórmula calcada no hard bop e com uma ou outra deslizada por searas mais vanguardistas. E esses poucos momentos de modernidade estiveram concentrados em seu sopro, apesar de sua banda contar com virtuoses em seus respectivos instrumentos.
E, por falar em sopro, alguém precisa estudar a composição das águas do rio Mississippi para decifrar o que torna tão resistentes os pulmões dos trompetistas de Nova Orleans.
Melódico e suave em "The Great M.D.", música que abriu a noite, o trompete de Mayfield assumiu contornos rebeldes em "Body and Soul", em que ele fez o instrumento chorar feito bicho ferido e manteve notas suspensas por vários segundos, enquanto a banda fazia a harmonia dançar.
Houve um momento de ousadia. O trompetista resolveu enfrentar "Giant Steps", composta por John Coltrane. Mas, esperto, Mayfield aproveitou essa música para "homenagear" o Brasil e transformou-a num sambinha, o que domesticou o andamento.
Premeditado ou não, o procedimento deu certo duplamente. Primeiro porque tornou possível ao trompetista solar sobre o empilhamento de acordes da composição. Segundo porque arrebatou a platéia, no que foi auxiliado pela iluminação da casa, que banhou o palco de verde e amarelo. Mayfield foi embora aplaudidíssimo.
Chegou a vez de Osby. E com ele o futuro do jazz subiu ao palco. Mesmo quando interpretou clássicos como "What's New", o saxofonista passou a maior parte do tempo driblando o previsível.
Biscoito fino que a platéia não soube consumir. O burburinho chegava a cobrir as passagens mais suaves que emanavam do palco. Consciente disso, Osby não fez pausas entre as canções, criando ligas melódicas entre elas.
Mais por consideração pelo que desembolsou pelo ingresso, a platéia pediu sua volta ao palco e recebeu um presente musical que valeria cinco vezes o valor do bilhete. E Osby ganhou com atraso os aplausos que fez por merecer.


Irvin Mayfield:     

Greg Osby:     



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