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FREE JAZZ FESTIVAL
IRVIN MAYFIELD E GREG OSBY
Músicos funcionam melhor quando tocam juntos
EDSON FRANCO
EDITOR DO TV FOLHA
Pode ter sido o maior momento
da edição 2000 do Free Jazz. Às
22h30 de sexta-feira, o saxofonista Greg Osby voltou ao palco New
Directions para o bis. Sua banda
começou a tocar um blues lento.
De repente, o trompetista Irvin
Mayfield -a atração anterior-
passou a trocar solos com Osby.
Deu-se então o êxtase. Sobre
uma textura harmônica extraída
da mais profunda raiz do jazz, os
músicos despejaram melodias
contemporâneas, criando focos
de tensão resolvidos de maneira
sempre surpreendente. Na platéia, não houve quem chegou sentado à última nota dessa música.
Foi a coroação de uma noite que
começou dando a impressão de
que o público sairia sem ouvir novas direções para o jazz atual.
Irvin Mayfield trouxe a São Paulo uma fórmula calcada no hard
bop e com uma ou outra deslizada por searas mais vanguardistas.
E esses poucos momentos de modernidade estiveram concentrados em seu sopro, apesar de sua
banda contar com virtuoses em
seus respectivos instrumentos.
E, por falar em sopro, alguém
precisa estudar a composição das
águas do rio Mississippi para decifrar o que torna tão resistentes
os pulmões dos trompetistas de
Nova Orleans.
Melódico e suave em "The
Great M.D.", música que abriu a
noite, o trompete de Mayfield assumiu contornos rebeldes em
"Body and Soul", em que ele fez o
instrumento chorar feito bicho ferido e manteve notas suspensas
por vários segundos, enquanto a
banda fazia a harmonia dançar.
Houve um momento de ousadia. O trompetista resolveu enfrentar "Giant Steps", composta
por John Coltrane. Mas, esperto,
Mayfield aproveitou essa música
para "homenagear" o Brasil e
transformou-a num sambinha, o
que domesticou o andamento.
Premeditado ou não, o procedimento deu certo duplamente. Primeiro porque tornou possível ao
trompetista solar sobre o empilhamento de acordes da composição. Segundo porque arrebatou a
platéia, no que foi auxiliado pela
iluminação da casa, que banhou o
palco de verde e amarelo. Mayfield foi embora aplaudidíssimo.
Chegou a vez de Osby. E com ele
o futuro do jazz subiu ao palco.
Mesmo quando interpretou clássicos como "What's New", o saxofonista passou a maior parte do
tempo driblando o previsível.
Biscoito fino que a platéia não
soube consumir. O burburinho
chegava a cobrir as passagens
mais suaves que emanavam do
palco. Consciente disso, Osby não
fez pausas entre as canções, criando ligas melódicas entre elas.
Mais por consideração pelo que
desembolsou pelo ingresso, a platéia pediu sua volta ao palco e recebeu um presente musical que
valeria cinco vezes o valor do bilhete. E Osby ganhou com atraso
os aplausos que fez por merecer.
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