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Estrangeiros valorizam processo criativo
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Vindos da França, Inglaterra,
Áustria e Alemanha, os coreógrafos estrangeiros que participam
da Mostra Internacional Sesc de
Dança representam uma vertente
de criadores que tendem a valorizar mais o processo criativo do
que o produto final de suas concepções.
"Nossa proposta é discutir a
tríade corpo-tempo-dança, ou seja, entender como o corpo está inserido no seu tempo e produz
dança", diz Rosana Cunha, coordenadora técnica da mostra.
O diferencial, entre os convidados estrangeiros, deve ficar por
conta do grupo À Fleur de Peau,
que a brasileira Denise Namura
dirige na França com o alemão
Michael Bugdhan.
Dessa companhia sediada em
Paris vem somente a dupla de diretores, que interpretará "Histoires Courtes en Plusieurs Cris" e
"Rétrospective en Duo". Em ambas, enfocam a condição humana
por meio de uma linguagem que
funde dança, teatro e mímica (dia
29, às 20h, no Sesc Ipiranga).
O grupo do coreógrafo francês
de origem albanesa Angelin Preljocaj, que encerra a mostra na
próxima semana, é um dos destaques da programação estrangeira.
Além das companhias do austríaco Willi Dorner e do alemão Thomas Lehman, o evento traz o suíço radicado na Inglaterra Gilles
Jobin e o francês Boris Charmatz.
"Não concebo a dança a partir
do vocabulário coreográfico tradicional. Procuro estimular reflexões sobre a verdadeira razão do
movimento, que existe no corpo
que funciona, mesmo quando
permanece imóvel. Entretanto,
considero-me um coreógrafo,
embora eu faça parte dos criadores que hoje, na Europa, atuam no
limite do que é dança e do que não
é identificado como dança", diz
Jobin, que abre a mostra com
"The Moebius Strip".
Ao extrair o título de seu espetáculo das histórias em quadrinhos
de Moebius, Jobin procurou representar o movimento sem fim.
"Moebius é uma figura bidimensional, com uma só face, que
avança, mas jamais chega ao outro lado. Sua imagem, para mim,
representa o infinito. Por isso,
achei que seria um bom nome para minha coreografia, que representa uma viagem no tempo, algo
que começa e jamais pára, como
uma transmissão de vida."
Depois da sombria "Braindance", apresentada em São Paulo
ano passado, que salientava a
morte física do corpo, Jobin decidiu explorar um viés mais espiritual em "The Moebius Strip".
"Agora falo de um corpo que representa mais plenamente o espírito. Na concepção coreográfica,
lido com o que chamo de movimento organicamente organizado. Na simplicidade do espaço cênico, os bailarinos se deslocam no
interior de uma rede que delimita
o espaço. Os movimentos são feitos com muita liberdade de escolha, mas não há improvisações",
acrescenta Jobin que, como nas
criações anteriores, usa música de
Franz Treichler.
Depois de Jobin, a mostra traz o
francês Boris Charmatz, que vem
ao Brasil pela primeira vez com
duas criações: "A Bras le Corps" e
"Aatt Enen Tionon". Ex-bailarino
da companhia de Régine Chopinot, Charmatz criou a primeira
peça em parceria com Dimitri
Chamblas.
"A escritura da peça é estrita,
mas as questões que propõe, de
acordo com sua interpretação e
recepção, estão em movimento
permanente. Trata-se de uma
criação que se transforma radicalmente, dependendo do lugar onde é apresentada. Sua proposta é
fazer emergir o dançarino como
produtor da imagem do corpo, o
qual é influenciado, por exemplo,
pela fadiga ou pela ausência de
distância entre ele e a platéia",
afirma Charmatz.
Já "Aatt Enen Tionon" é uma
criação só de Charmatz. "O título
é uma espécie de poesia sonora,
que compartilha o espetáculo. A
cada intervenção da voz, a cada sílaba, nós interrompemos o processo da performance."
Segundo Charmatz, "Aatt Enen
Tionon" suprime o contato habitual entre os intérpretes. "Não há
a relação que normalmente une o
grupo. Há um espaço comum, no
qual foram eliminados os suportes comuns, como o toque. Mas,
bizarramente, sem as referências
habituais, se produz uma outra
forma de comunidade, que escapa ao que havíamos imaginado
no início do trabalho."
(AFP)
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