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São Paulo, quinta-feira, 23 de outubro de 2003

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27ª MOSTRA INTERNACIONAL DE CINEMA DE SP

Documentário "Resist", dos alemães Dirk Szuszies e Karin Kaper, quer introduzir ideais do grupo americano para novas gerações

Filme ilumina ativismo do Living Theatre

Divulgação
Participante de workshop que o grupo Living Theatre realizou no Líbano, em atuação registrada no documentário "Resist"


VALMIR SANTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

O ativismo político do grupo norte-americano Living Theatre ganha retrato bem acabado no documentário "Resist", uma produção belga dos alemães Dirk Szuszies e Karin Kaper.
A próxima e última exibição do filme acontece neste domingo, dentro da 27ª Mostra Internacional de São Paulo.
Durante três anos (2000-2003), os diretores acompanharam as atuações e bastidores da trupe da atriz alemã Judith Malina, 77, co-fundadora do grupo com o norte-americano Julian Beck (1925-85).
O Living Theatre nasceu em 1947, em Nova York. Ganhou projeção a partir de seu exílio (1963-68), percorrendo sobretudo países da Europa.
Um dos espetáculos emblemáticos desse período de contracultura é "Paradise Now", criação coletiva que pede a revolução individual e se opõe a tabus sexuais ou quaisquer formas de violência.
"Paradise Now" é uma das peças do repertório cujas imagens, em preto-e-branco, dialogam com a fase atual do grupo, graças a citações de obras dos documentaristas Sheldon Rochlin ("Signals Through The Flames", 1983) e Jonas Mekas ("The Brig", 1964).
O diretor Dirk Szuszies, 46, é um sujeito bem-humorado. Esteve em São Paulo na semana passada, acompanhando a estréia de "Resist". Também ator, ex-integrante do Living (1979-84), ele credita valor afetivo ao segundo documentário que assina, mas pretende ter sido o mais independente possível na abordagem.
O que o moveu, diz, é a tentativa de trazer às novas gerações os ideais estéticos e políticos do Living, ideais feitos de esperança.

Teatro de protesto
Em 90 minutos, editados a partir de cerca de 120 horas gravadas, Szuszies concentra-se na atuação pública. Ontem, como hoje, o espaço do teatro de protesto do Living é a rua, a praça, a fábrica, o estaleiro, o presídio, o hospital. O teatro vivo do nome.
Ainda que em salas convencionais, o Living não dissocia do espírito do teatro de rua, da relação direta com uma platéia sempre instada a "tomar partido".
O documentário quer espelhar uma ponte construída a partir da própria evolução histórica do grupo. Os ímpetos revolucionário e anarco-pacifista dos primeiros anos fazem coro, por exemplo, com a militância antiglobalização dos dias que correm.
Numa das passagens de "Resist", daquelas que o diretor costuma chamar de "cenas com sentimentos de blues", os atores do Living Theatre estão em Gênova, em 2001, durante o encontro do G-8, reunião dos países mais industrializados do planeta.
Vão realizar ali uma performance que preparam durante três dias. Antes de concluí-la, são surpreendidos pela repressão policial, enxotados como "pacifistas de merda". Os choques resultam na morte do manifestante Carlo Giuliani, de 23 anos.
Em depoimento no local, um dos atores do Living rejeita romantizações, heroísmos em torno do assassinato e faz autocrítica quanto aos ideais que cegam. "Não podemos chegar a lugar algum sem ter dúvidas", afirma.
Szuszies reforça a predisposição do Living para atuar em áreas de conflito. O documentário mostra, por exemplo, intervenções no "ground zero", o ponto zero da reconstrução dos edifícios no World Trade Center, em NY, após os ataques de 11 de Setembro; num presídio do Líbano, local em que crianças e mulheres foram torturadas nos anos 80; e ainda a lembrança de Malina sobre a prisão do grupo em Ouro Preto (MG), em 1970, quando seus integrantes foram denunciados como "maconheiros" por um padre local, prato cheio para o regime militar que os expulsou.

RESIST. Idem. Bélgica, 2003. Direção: Dirk Szuszies e Karin Kaper. Onde: Cineclube DirecTV - sala 3 (r. Augusta, 2.530, SP, tel. 0/xx/11/3085-7684). Quando: domingo (dia 26), às 21h50. Quanto: R$ 12.


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