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28ª MOSTRA
Festival reúne filmes como "Contra a Parede" e "Edukators", que refletem sobre condição sociopolítica do país
Alemanha busca identidade em mundo global
CHRISTIAN PETERMANN
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Já se fala em uma nova geração
de cineastas alemães, pós-Tom
Tykwer e seu "Corra Lola, Corra"
(98), que foi o primeiro filme a recolocar a Alemanha no cenário
internacional desde os anos 60/70
-época de nomes como Fassbinder e Wim Wenders, que hoje
prefere fazer cinema nos EUA.
Estes jovens diretores distanciam-se dos exercícios estéticos
de Tykwer e trabalham geralmente temas sociopolíticos, sempre
em busca de uma identidade alemã em meio à globalização. A
Mostra traz alguns deles.
O mestre da classe é Fatih Akin,
que, com o ótimo "Contra a Parede" (exibições hoje e dias 26 e 27),
foi o primeiro cineasta alemão a
receber o Urso de Prata no Festival de Berlim em 18 anos. Ele conta uma história de amor que começa com um casamento arranjado, entre Cahit (Birol Ünel), um
vagabundo, e Sibel (Siebel Kekilli), que só quer fugir dos rigores
morais de sua família turca.
Akin entrega, em um enredo
bruto, uma imagem melancólica
da presença turca na Alemanha,
no caso Hamburgo. À base de gritos, sangue e baladas noturnas, o
filme avança com incrível musicalidade. Sua obra é pontuada por
canções folclóricas, rock e música
eletrônica e há vinhetas em estilo
Emir Kusturica com um sexteto
instrumental e uma cantora. Akin
ainda está presente na Mostra
com o curta "Velhas Canções
Malditas" (datas de exibição a definir) e um episódio do filme "Visões da Europa" (domingo, dias
25, 30 e 2/ 11).
Outro nome é Hans Weingartner, que, em "Edukators" (hoje,
domingo, dias 31 e 1º/11), imagina
três jovens que, com amor e atos
de protesto, procuram definir seu
lugar em um mundo perdido em
ideologias. Peter (Stipe Erceg) e
Jan (Daniel Brühl, de "Adeus, Lênin!") formam o grupo que invade mansões apenas para bagunçar seus móveis e deixar mensagens contra a burguesia.
Jule (Julia Jentsch), a namorada
de Peter, desequilibra o processo.
O astro Brühl protagoniza ainda
"Amor em Pensamento" (dias 26,
28, 1º e 4/11), de Achim von Borries, inspirado em fatos reais. É
mais uma crônica de juventude
desencontrada, mas desta vez
ambientada nos anos 20. Um fim
de semana de consumo de absinto, bissexualidade latente e ciúmes descontrolados entre bem-nascidos e um proletário (Brühl)
termina com a formação de um
clube de suicídio. O resultado trágico serviu por anos para os nazistas como prova da decadência
moral burguesa.
Como verificado também com
o sucesso de "Adeus, Lênin!", o cinema alemão ainda tem muitas
contas para ajustar com seu passado. Vale aí abrir uma brecha para um veterano, Edgar Reitz, que
volta à Mostra com a conclusão de
sua trilogia épica "Heimat" (Pátria), cujas partes anteriores datam de 1984 e 1992.
Está mais "conciso", com seis
capítulos distribuídos em pouco
mais de 11 horas, que começam a
ser exibidos hoje. Reitz estuda a
Alemanha do século 20 a partir da
crônica de três famílias na pequena cidade de Schabbach. Neste último recorte, ele vai da queda do
Muro à virada do milênio.
No microcosmos concebido, o
cineasta, de 72 anos, registra com
lucidez e incrível jovialidade as
mudanças que levaram o país a
recuperar o amor-próprio, mesmo com a difícil administração
das desigualdades alimentadas
pela unificação. Com Heimat,
obra que consagra toda uma vida,
Reitz tem muito o que ensinar a
qualquer geração.
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