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ARTES PLÁSTICAS
Em sua inauguração, instituição, que tem curadoria de Emanoel Araújo, atesta vínculos com São Paulo
Museu Afro-Brasil abre revendo estereótipos
FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL
A reversão de preconceitos e estereótipos marca a inauguração,
hoje, do Museu Afro-Brasil. Vinicius de Moraes disse que São Paulo é o "túmulo do samba", mas,
logo na entrada do novo espaço,
dezenas de retratos de sambistas
paulistanos, como Nenê da Vila
Matilde, realizados por Wagner
Celestino, apontam que é preciso
ter cuidado com generalizações.
Além da série de sambistas, a
entrada do museu recebe ainda
fotos realizadas por Augusto Militão no século 19, retratos distintos
de "uma população que sumiu ou
se mesclou à cidade", conta Emanoel Araújo, curador da nova instituição. "Buscamos abrir o museu com uma homenagem a São
Paulo, afinal, é preciso mostrar logo de início os vínculos da cultura
negra com a capital paulista." As
mostras fotográficas são temporárias, ficam em cartaz até meados de novembro.
É no andar superior que se localiza a exposição permanente do
museu, organizada a partir da
doação de 1.100 peças do acervo
de Araújo, que contam a presença
do negro na cultura brasileira do
ponto de vista histórico, religioso
e artístico. Para visitar a mostra,
há dois caminhos possíveis, um
pelo corredor da arte, outro pelo
da história.
Quem começar pelo corredor
da arte defronta-se com uma série
de trabalhos contemporâneos
realizados por artistas negros ou
que dialogam com a cultura afro-brasileira, caso dos totens de Jorge
dos Anjos, das serigrafias de Rubens Valentim e das esculturas de
Mestre Didi e do próprio Emanoel Araújo. "Há quatro obras
minhas porque também sou filho
de Deus. Sempre me excluí das
exposições que organizei, mas
achei que não deveria ficar fora
desta." O segmento segue com fotos de Eustáquio Neves, Walter
Firmo, Maureen Bisilliat e outros.
Depois da arte, o corredor da
memória, onde o curador elenca,
por meio de fotos, uma série de
personalidades negras, de Carlos
Gomes e Machado de Assis a Garrincha e Pelé. O final do segmento
tem uma série de imagens de Madalena Schwartz, de outras personalidades, como a cantora Clementina de Jesus e Mãe Menininha do Gantois. Esse segmento
termina com a parte das festas,
onde estão máscaras e objetos da
Cazumba do Maranhão e dos Folguedos de Reis, de Alagoas.
É na área chamada "Sagrado e
Profano" que o museu começa a
ganhar densidade de fato, ao
mostrar a mestiçagem, por exemplo, da pintura de Manuel da Costa Athayde, que, ao pintar a igreja
da Ordem Terceira de São Francisco, em Ouro Preto, retratou
Nossa Senhora e os anjos à sua
volta como negros, imagem reproduzida na mostra.
Daí em diante, martírio e perseguição são constantes e um totem
representando a resistência elenca três heróis: Zumbi dos Palmares, Henrique Dias, líder da expulsão dos holandeses em Pernambuco, no séc. 17, e João Cândido, o
almirante negro que comandou a
Revolta das Chibatas, em 1910.
Um dos destaques desse corredor histórico é a reprodução de
um navio negreiro, a partir de
uma gravura de Rugendas, com
sons do mar e de vozes em tom de
sofrimento. "Isso pode assustar
um pouco, mas a idéia é essa mesmo", diz Araújo.
MUSEU AFRO-BRASIL. Curadoria:
Emanoel Araújo. Quando: abertura hoje,
às 11h (para convidados); de qua. a seg.,
das 10h às 17h. Onde: pavilhão Manoel
de Nóbrega (pq. Ibirapuera, portão 1, SP,
tel. 0/xx/11/5908-1721). Quanto:
entrada franca. Patrocinador: Petrobras.
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