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CRÍTICA
Com a palavra: leitores-telespectadores
BIA ABRAMO
COLUNISTA DA FOLHA
E a coluna hoje é sobre... os
leitores. Semana passada, falei sobre o excesso de reprises e a
programação relapsa da TV paga, o que motivou muitos e-mails. Aparentemente, a coluna
conseguiu dar voz a uma insatisfação enorme dos consumidores
de TV por assinatura.
Mesmo depois de um tempo
razoável assinando uma coluna
com espaço e universo fixos, escolher o assunto da semana é
sempre uma dificuldade. Afinal,
a coluna não tem, a rigor, nenhum outro propósito a não ser
pensar um pouco sobre o que vai
pela TV. Então optar por um ou
outro tema obedece a alguns critérios jornalísticos de atualidade
etc. mas também a outros tantos
que pertencem ao terreno do
acaso. E, nessa combinação, juntar uma aposta no que vai, de fato, interessar aos leitores está para além da categoria do difícil: é
mesmo um mistério.
Assim, quando os leitores se
manifestam é uma grande satisfação; quando, ainda por cima, o
fazem em quantidade e qualidade torna-se mesmo uma alegria.
Além disso, as mensagens dos
leitores abordaram outros aspectos da mesma questão que escaparam à coluna; passo então a
palavra a eles.
Uma leitora de Belo Horizonte,
com uma lógica cristalina e irrefutável, se pergunta: "Se vamos
pagar, não haverá propaganda,
certo? Na TV aberta, quem paga
o que vemos são as propagandas
dos intervalos, na outra, eu pago
e pronto". Claro, a leitora já se
deu conta que não é bem assim:
apesar de o raciocínio fazer todo
o sentido, continuamos pagando
duplamente.
Uma outra, de São Paulo, faz
uma lista de 21 reclamações justíssimas e engraçadíssimas, entre
as quais destaco (e reproduzo)
duas, por supor que seja também
a de vários outros leitores. Na de
nš 6, ela chama a atenção para a
(grande) variação na altura do
áudio entre filmes e publicidade.
"O filme fala, a publicidade GRITA. A Polishop GRITA MAIS
ALTO AINDA."
Na de nš 13, ela comenta o descuido com as traduções: ""collarbone", a popular clavícula, é traduzida como colar de ossos.
"Vietnam vet" é in-va-ria-vel-men-te traduzido como veterinário do Vietnã, e não com veterano do Vietnã. Afinal, havia
grande demanda por veterinários no Vietnã, uma vez que a divisão de cavalaria teve um papel
fundamental nos combates, certo?". Um leitor mais esperançoso
(e corajoso) relata que tentou interpelar o serviço de atendimento ao cliente e obteve como explicação (?) o fato de a programação
ser decidida na Flórida e não em
São Paulo, ao que o leitor, acabrunhado, calou: "Nada mais
disse e me recolhi à minha insignificância".
São apenas alguns excertos;
mas dão (ou deveriam dar) a exata dimensão de que o telespectador não é o tolo passivo que imagina a TV, aberta ou fechada.
Convidado a opinar, ele o faz. E
deveria ser não apenas ouvido
mas também atendido.
@ - biabramo.tv@uol.com.br
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