São Paulo, domingo, 23 de outubro de 2005

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CRÍTICA

Com a palavra: leitores-telespectadores

BIA ABRAMO
COLUNISTA DA FOLHA

E a coluna hoje é sobre... os leitores. Semana passada, falei sobre o excesso de reprises e a programação relapsa da TV paga, o que motivou muitos e-mails. Aparentemente, a coluna conseguiu dar voz a uma insatisfação enorme dos consumidores de TV por assinatura.
Mesmo depois de um tempo razoável assinando uma coluna com espaço e universo fixos, escolher o assunto da semana é sempre uma dificuldade. Afinal, a coluna não tem, a rigor, nenhum outro propósito a não ser pensar um pouco sobre o que vai pela TV. Então optar por um ou outro tema obedece a alguns critérios jornalísticos de atualidade etc. mas também a outros tantos que pertencem ao terreno do acaso. E, nessa combinação, juntar uma aposta no que vai, de fato, interessar aos leitores está para além da categoria do difícil: é mesmo um mistério.
Assim, quando os leitores se manifestam é uma grande satisfação; quando, ainda por cima, o fazem em quantidade e qualidade torna-se mesmo uma alegria. Além disso, as mensagens dos leitores abordaram outros aspectos da mesma questão que escaparam à coluna; passo então a palavra a eles.
Uma leitora de Belo Horizonte, com uma lógica cristalina e irrefutável, se pergunta: "Se vamos pagar, não haverá propaganda, certo? Na TV aberta, quem paga o que vemos são as propagandas dos intervalos, na outra, eu pago e pronto". Claro, a leitora já se deu conta que não é bem assim: apesar de o raciocínio fazer todo o sentido, continuamos pagando duplamente.
Uma outra, de São Paulo, faz uma lista de 21 reclamações justíssimas e engraçadíssimas, entre as quais destaco (e reproduzo) duas, por supor que seja também a de vários outros leitores. Na de nš 6, ela chama a atenção para a (grande) variação na altura do áudio entre filmes e publicidade. "O filme fala, a publicidade GRITA. A Polishop GRITA MAIS ALTO AINDA."
Na de nš 13, ela comenta o descuido com as traduções: ""collarbone", a popular clavícula, é traduzida como colar de ossos. "Vietnam vet" é in-va-ria-vel-men-te traduzido como veterinário do Vietnã, e não com veterano do Vietnã. Afinal, havia grande demanda por veterinários no Vietnã, uma vez que a divisão de cavalaria teve um papel fundamental nos combates, certo?". Um leitor mais esperançoso (e corajoso) relata que tentou interpelar o serviço de atendimento ao cliente e obteve como explicação (?) o fato de a programação ser decidida na Flórida e não em São Paulo, ao que o leitor, acabrunhado, calou: "Nada mais disse e me recolhi à minha insignificância".
São apenas alguns excertos; mas dão (ou deveriam dar) a exata dimensão de que o telespectador não é o tolo passivo que imagina a TV, aberta ou fechada. Convidado a opinar, ele o faz. E deveria ser não apenas ouvido mas também atendido.


@ - biabramo.tv@uol.com.br


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