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CINEMA
São quatro brasileiros que estão no festival; "Fé" e "Nós Que Aqui Estamos por Vós Esperamos" competem
Documentário nacional molda Amsterdã
AMIR LABAKI
enviado especial a Amsterdã
Como nunca o documentarismo brasileiro molda o principal
festival do gênero, o de Amsterdã
na Holanda, cuja 12ª edição será
aberta amanhã.
A influência vai além da seleção
de quatro produções brasileiras
dentro do programa oficial, sendo dois deles dentro da mostra
competitiva de filmes (ver quadro).
"Fé", de Ricardo Dias, e "Nós
Que Aqui Estamos Por Vós Esperamos", de Marcelo Masagão,
participam da mais importante
disputa internacional de documentários, concorrendo com realizadores do porte de Michael Apted, Jon Bang Carlsen, Werner
Herzog e Zhang Yuan.
É como se emplacássemos dois
títulos na briga pela Palma de Ouro de Cannes. Feito raro -e sinal
da vitalidade da atual produção.
O filme de Dias, em cartaz na cidade, é um impressionante painel
da diversidade religiosa no Brasil.
Masagão, por sua vez, retrabalha
um extenso material de arquivo
para compor um pessimista balanço do século 20 por meio de
personagens reais e imaginários.
"Nós Que Aqui Estamos" arrebatou Ally Derks, a diretora de
Amsterdã. Não satisfeita em premiá-lo em abril último ao passar
pelo Brasil, selecionou-o para seu
festival e acabou por inspirar-se
nele para a organização de um ciclo dedicado aos grandes mitos
do século 20.
A mostra "Ícones do Século"
reúne nove títulos dedicados a figuras emblemáticas dos últimos
cem anos.
Há um quê de revisita pop à história do gênero. É assim que a
mostra traz documentários tanto
sobre Marilyn Monroe quanto sobre a garota vietnamita Kim, celebrizada por uma foto durante a
guerra contra os americanos.
Na próxima segunda à tarde,
um seminário discute essa "Memória do Século".
Os dois outros selecionados
brasileiros participam do ciclo
paralelo "Reflecting Images"
(Imagens Reflexivas). São o compassado "Confidências do Rio das
Mortes", de Paschoal Samora, e o
curta "A Pessoa É para o Que Nasce", de Roberto Berliner, sobre
três irmãs cegas da Paraíba.
O desenvolvimento do projeto
para um longa-metragem valeu a
Berliner um dos prêmios da última rodada do Fundo Jan Vrijman, vinculado ao festival.
Com três títulos cada, Alemanha, EUA e Holanda apresentam
as maiores representações dentro
da mostra competitiva de 25 filmes.
O Brasil vem logo a seguir, ao lado de Grã-Bretanha e Suécia (dois
cada). Nada menos que 16 dos
concorrentes são europeus.
O Festival Internacional de Documentários de Amsterdã é o
principal encontro do gênero.
Neste ano, serão treze ciclos simultâneos. Há ainda o mais importante fórum de co-produção
de projetos, ainda exclusivo para
profissionais europeus.
Duas mostras celebram o cineasta alemão Werner Herzog
(leia nesta página). Outra lembra
o maior documentarista belga,
Henri Storck (1907-1999), morto
em setembro último. Storck foi
assistente de Jean Vigo em "Zero
de Conduta" (1933) e co-dirigiu
com Joris Ivens o clássico "Borinage" (1933), sobre as sofríveis
condições de trabalho nas minas
belgas de carvão.
Um documentário-homenagem ao filme de Ivens e Storck,
"Les Enfants du Borinage - Lettre
à Henri Storck" de Patrick Jean, é
um dos destaques da mostra
competitiva de vídeo.
Entre os mais fortes concorrentes estão "Angelo's Film", outra
compilação sobre o destino dos
judeus europeus assinada pelo
húngaro Peter Forgácz, e "The
Valley", já considerado o documentário definito sobre a recente
guerra em Kosovo.
Até 2 de dezembro, Amsterdã
apresenta ainda um ciclo dedicado a estreantes, outro de novidades holandesas, uma mostra de
filmes apoiados pelo Fundo Jan
Vrijman, uma seleção de documentários para crianças e outra
de títulos educativos.
Por fim, uma retrospectiva com
clássicos reúne títulos de mestres
como Santiago Alvarez, Bert
Haanstra, Joris Ivens e Richard
Leacock.
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