São Paulo, Terça-feira, 23 de Novembro de 1999
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CINEMA
São quatro brasileiros que estão no festival; "Fé" e "Nós Que Aqui Estamos por Vós Esperamos" competem
Documentário nacional molda Amsterdã

AMIR LABAKI
enviado especial a Amsterdã

Como nunca o documentarismo brasileiro molda o principal festival do gênero, o de Amsterdã na Holanda, cuja 12ª edição será aberta amanhã.
A influência vai além da seleção de quatro produções brasileiras dentro do programa oficial, sendo dois deles dentro da mostra competitiva de filmes (ver quadro).
"Fé", de Ricardo Dias, e "Nós Que Aqui Estamos Por Vós Esperamos", de Marcelo Masagão, participam da mais importante disputa internacional de documentários, concorrendo com realizadores do porte de Michael Apted, Jon Bang Carlsen, Werner Herzog e Zhang Yuan.
É como se emplacássemos dois títulos na briga pela Palma de Ouro de Cannes. Feito raro -e sinal da vitalidade da atual produção.
O filme de Dias, em cartaz na cidade, é um impressionante painel da diversidade religiosa no Brasil. Masagão, por sua vez, retrabalha um extenso material de arquivo para compor um pessimista balanço do século 20 por meio de personagens reais e imaginários.
"Nós Que Aqui Estamos" arrebatou Ally Derks, a diretora de Amsterdã. Não satisfeita em premiá-lo em abril último ao passar pelo Brasil, selecionou-o para seu festival e acabou por inspirar-se nele para a organização de um ciclo dedicado aos grandes mitos do século 20.
A mostra "Ícones do Século" reúne nove títulos dedicados a figuras emblemáticas dos últimos cem anos.
Há um quê de revisita pop à história do gênero. É assim que a mostra traz documentários tanto sobre Marilyn Monroe quanto sobre a garota vietnamita Kim, celebrizada por uma foto durante a guerra contra os americanos.
Na próxima segunda à tarde, um seminário discute essa "Memória do Século".
Os dois outros selecionados brasileiros participam do ciclo paralelo "Reflecting Images" (Imagens Reflexivas). São o compassado "Confidências do Rio das Mortes", de Paschoal Samora, e o curta "A Pessoa É para o Que Nasce", de Roberto Berliner, sobre três irmãs cegas da Paraíba.
O desenvolvimento do projeto para um longa-metragem valeu a Berliner um dos prêmios da última rodada do Fundo Jan Vrijman, vinculado ao festival.
Com três títulos cada, Alemanha, EUA e Holanda apresentam as maiores representações dentro da mostra competitiva de 25 filmes.
O Brasil vem logo a seguir, ao lado de Grã-Bretanha e Suécia (dois cada). Nada menos que 16 dos concorrentes são europeus.
O Festival Internacional de Documentários de Amsterdã é o principal encontro do gênero. Neste ano, serão treze ciclos simultâneos. Há ainda o mais importante fórum de co-produção de projetos, ainda exclusivo para profissionais europeus.
Duas mostras celebram o cineasta alemão Werner Herzog (leia nesta página). Outra lembra o maior documentarista belga, Henri Storck (1907-1999), morto em setembro último. Storck foi assistente de Jean Vigo em "Zero de Conduta" (1933) e co-dirigiu com Joris Ivens o clássico "Borinage" (1933), sobre as sofríveis condições de trabalho nas minas belgas de carvão.
Um documentário-homenagem ao filme de Ivens e Storck, "Les Enfants du Borinage - Lettre à Henri Storck" de Patrick Jean, é um dos destaques da mostra competitiva de vídeo.
Entre os mais fortes concorrentes estão "Angelo's Film", outra compilação sobre o destino dos judeus europeus assinada pelo húngaro Peter Forgácz, e "The Valley", já considerado o documentário definito sobre a recente guerra em Kosovo.
Até 2 de dezembro, Amsterdã apresenta ainda um ciclo dedicado a estreantes, outro de novidades holandesas, uma mostra de filmes apoiados pelo Fundo Jan Vrijman, uma seleção de documentários para crianças e outra de títulos educativos.
Por fim, uma retrospectiva com clássicos reúne títulos de mestres como Santiago Alvarez, Bert Haanstra, Joris Ivens e Richard Leacock.


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