São Paulo, sábado, 23 de novembro de 2002

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FILMES

TV ABERTA

Spike Lee e a questão racial tomada a peito

A Invasão
Globo, 16h20.
 

(The Arrival). EUA, 96, 109 min. Direção: David N. Twohy. Com Charlie Sheen, Ron Silver. Charlie Sheen é um radio-astrônomo. Seja isso o que for, ele capta e grava ruídos do espaço sideral, dando conta da possível existência de vida extraterrestre. Devidamente demitido, ele prosseguirá suas pesquisas por conta própria e, como o título bem informa, constará que a invasão da Terra está sendo articulada. Sintomaticamente, o lugar de onde partem os invasores é o México. Cucarachos e alienígenas são mais ou menos a mesma coisa.

Oh! Que Bela Guerra
Rede TV!, 18h15.

(Oh! What a Lovely War). EUA, 69, 144 min. Direção: Richard Attenborough. Com Laurence Olivier, John Gielgud. De um tão ilustre elenco, trabalhando com uma produção eficiente, a partir de uma peça antimilitarista em torno da Primeira Guerra, seria possível esperar mais. Este musical reúne uma série de vinhetas em uma guerra sem sangue. Attenborough dava início aqui à sua quadrada carreira de diretor.

Penitenciária Maluca
SBT, 22h30.

(Doin" Time). EUA, 84, 81 min. Direção: George Medeluk. Com Jeff Altman, Henry Bal. Comédia sobre vendedor acusado de estupro. Por engano. Mas, até que isso se prove, ele viverá a vida de detento. O que, no caso, resulta em comédia de alcance reduzido. Inédito.

Fatal Blade - Conexão Yakuza
Globo, 22h55.

(Fatal Blade). EUA, 2000. Direção: Talun Hsu. Com Seiko Matsuda, Kiyoshi Nakajo. A máfia japonesa, a Yakuza, que serve de tema para inúmeras produções de quinta categoria, está nesta produção inédita na TV. Para diferenciar um pouco, a história se passa em Los Angeles, onde eles entram em conflitos com os traficantes locais.

Um Tiro no Coração
SBT, 23h45.

(Shot through the Heart). EUA/Canadá, 98, 109 min. Direção: David Atwood. Com Linus Roache, Vincent Perez. Destinos de dois amigos separados pela guerra na Bósnia. Ambos são atiradores de elite. Um deles, terminado o conflito, alveja pessoas na rua, a esmo. O outro é convocado a detê-lo. Feito para TV.

Olhos Noturnos 4
Bandeirantes, 1h30.

(Night Eyes 4). EUA, 95, 101 min. Direção: Rodney McDonald. Com Paula Barbieri, Jeff Trachta. Policial que protege a casa de uma bela médica é seduzido por ela e termina envolvido com os muitos perigos que a cercam. Quarto exemplar de série tipo "thriller" erótico, centrado na figura do policial voyeur.

O Poder da Notícia
SBT, 2h.

(Winchell). EUA, 98, 105 min. Direção: Paul Mazursky. Com Stanley Tucci, Glenne Headly. Biografia do colunista Walter Winchell, que revolucionou a imprensa popular dos EUA com uma maneira agressiva de tratar os bastidores da vida política e artística. Isso lhe deu o poder de que fala o título. Feito para TV.

Crimes e Pecados
Globo, 2h45.

(Crimes and Misdemeanors). EUA, 89, 104 min. Direção: Woody Allen. Com Martin Landau, Woody Allen. Allen narra paralelamente várias histórias, como a do oftalmologista (Landau) às voltas com uma perigosa amante. Rolam outras, envolvendo um elenco muito forte, em que a tônica é dada pelas palavras do título. Conto moral abaixo do melhor Woody Allen. Considerada a concorrência, é pegar e agarrar.

Irmãos de Sangue
SBT, 4h.

(Clockers). EUA, 95, 128 min. Direção: Spike Lee. Com Harvey Keitel, John Turturro. Os problemas da criminalidade na comunidade negra, a partir dos problemas de um "clocker" (o posto mais baixo na hierarquia do submundo, setor drogas). A questão racial tomada a peito, como sempre em Spike Lee, e vista com força e originalidade. Só para São Paulo. (IA)

TV PAGA

Excessos dão o tom à produção de Carlos Diegues

INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA

Nenhum cineasta brasileiro, mais do que Carlos Diegues, desperta no espectador o desejo de corrigir alguma coisa em seus filmes. Ora são os atores, ora os cenários, a música, ou tudo junto. É como se, com muita frequência, as idéias fossem melhores que o resultado final, e a inteligência maior que o talento. E fosse necessário corrigir o todo.
Desde o fim dos anos 60, pelo menos, o que estrutura seus filmes é a cenografia, na qual o excesso dá o tom. Os ambientes e figurinos destacam-se do conjunto pelo colorido intenso e cheio de contrastes. É como se o ritmo do filme fosse ditado bem mais pela necessidade quase ritualística de exibi-los do que por uma relação de verossimilhança.
Essa tensão na verossimilhança se mostra também, com frequência, na relativa exterioridade com que os atores desempenham seus papéis. Não são brechtianos, nem seguem "o método". Vestem seu personagem como quem veste uma fantasia, como se fossem peças adicionadas ao cenário.
Esses procedimentos encontram-se tanto em "Orfeu" (hoje, 21h, Canal Brasil) quanto em "Tieta do Agreste" (hoje, 23h, mesmo canal). Neste último, o papel central é mais de um ícone do que de uma atriz: é Sônia Braga, de volta ao Brasil, que faz Tieta, a mulher que volta enriquecida à sua pequena cidade.
Em ambos, o roteiro parece resistir a evoluir de maneira linear. Mas também não segue aos trancos. É um pouco como se víssemos, em transposição dramática, a passagem de uma escola de samba, em que as alas preservam sua independência, embora sirvam a um conjunto.
Dos dois filmes, sustenta-se melhor "Orfeu", onde tudo é questão de Carnaval, e fundo e forma se harmonizam quase didaticamente. Mas vale notar, por exemplo, o casario de "Tieta", irrealista, como a dizer que vemos não uma cidade, mas um filme, filme-desfile-de-escola.


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