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CINEMA
Em entrevista em Paris, diretor afirma ainda que não vive como o personagem-título de 'Deconstructing Harry'
Woody Allen diz que religiões são 'idiotas'
MARIANE COMPARATO
de Paris
Parece que apenas Woody Allen
consegue a proeza de reunir tantas
estrelas em seus filmes. Em "Deconstructing Harry", que deve estrear no Brasil em fevereiro, desfilam Demi Moore, Billy Cristal e
Elisabeth Shue.
Há também Robin Williams, que
pode ser apenas 'notado': aparece
cinco minutos, no papel de um
ator que está fora de foco...
O filme conta a história de um
escritor que, diz a crítica, tem muitos pontos de identidade com o cineasta. Leia a seguir os principais
trechos da entrevista que Allen
concedeu no hotel Ritz, em Paris:
Divulgação
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Woody Allen, Elisabeth Shue e Billy Cristal em cena do filme "Deconstructing Harry", que deve estrear no Brasil em fevereiro
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Pergunta - Nesse filme você passa rapidamente de uma cena para
a outra, em vez de fazer longas cenas, como nos filmes precedentes.
Woody Allen - A história sempre influencia o ritmo do filme.
Imaginei que essa história tinha de
ser editada nervosamente, para
mostrar como a vida de Harry era
nervosa. E a ficção (as histórias
que Harry escreve), pelo contrário, tinha de ter um ritmo calmo
para mostrar que ele estava em casa criando.
Pergunta - Vários atores disseram que não conheciam o roteiro
todo. Foi de propósito?
Allen - Eu ligo para um ator e
digo: "Preciso de você por três
dias". E eles aceitam. Aí eu mando
a parte deles, que dá umas seis, sete
páginas. Eles ficam felizes da vida
por eu não mandar o roteiro inteiro (risos). Na vida real, você nunca
sabe o que a outra pessoa está fazendo ou pensando.
Pergunta - É inevitável pensar
que é um filme autobiográfico...
Allen - Algumas idéias que
Harry tem são minhas. No caso,
sobre mulheres e religião. Mas não
vivo como Harry: não bebo, não
tomo montes de remédios, nunca
sequestraria uma criança, não
chamo prostitutas em casa para
me amarrarem... Quando estou
pensando numa história, só fico
imaginando uma maneira interessante, engraçada de retratar um
personagem: na hora, não estou
pensando em me descrever.
Folha - Você assiste aos seus filmes antigos?
Allen - Nunca assisti a nenhum
deles. Seria uma tortura, eu ia ficar
pensando: "Quero mudar isso,
aquilo", e você não pode mais,
porque o ator já morreu... Tenho
outras idéias para executar... Quero, por exemplo, fazer um filme no
qual a minha hostilidade escapa de
mim e sai por aí fazendo coisas
ruins e me envergonhando...
Folha - Você é religioso?
Allen - Eu? Não. Penso apenas
intelectualmente na religião. Essas
religiões estigmatizadas são máquinas de fazer dinheiro: as religiões judaicas, católicas, protestantes são totalmente desonestas.
Um grupo que lhe diz que você não
pode comer isso, não pode se casar
com tal pessoa... Para mim, a religião judaica fala por todas as outras porque é a que conheço. Todas
as religiões são idiotas.
Folha - O documentário "Wild
Man Blues", que a diretora Barbara Kopple fez sobre a turnê da sua
banda de jazz pela Europa, é bastante íntimo. Você estava à vontade para mostrar sua vida privada?
Allen - No começo, eu não entendi que ia ser desse jeito (risos).
Depois, era tarde demais. Achei
que fosse ser apenas nos bastidores dos shows. Mas aí ela dizia:
"Deixa eu subir no avião com você". Eu ia dar uma volta sozinho
no jardim e ela pedia para ir junto,
como se de nada fosse, e o próximo passo era eu tomando café no
meu quarto de hotel (risos). Gostei
do resultado, acho que ficou bem
próximo da realidade.
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