São Paulo, Quinta-feira, 23 de Dezembro de 1999


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LIVRO LANÇAMENTOS
Obra fluída de Leda Catunda ganha antologia

CELSO FIORAVANTE
da Reportagem Local


Às vésperas do Natal, a artista paulistana Leda Catunda, 38, já ganhou um livro: "Leda Catunda", um belo volume antológico de sua carreira.
Leda, a artista, surgiu em 1983, na exposição "Pintura como Meio", no MAC-USP. Sua primeira individual aconteceu em 1985, no Rio, na galeria Thomas Cohn. De lá para cá, muito e pouco falou-se sobre sua produção.
Falou-se muito pois ela é pintora e surgiu justamente durante uma das ressurreições da pintura, junto com a "geração 80". Também falou-se pouco pois, embora todas as suas mostras tenham merecido críticas nos principais veículos de comunicação do país, os textos relativos a elas iam pouco além da descrição das técnicas, materiais e métodos que usava.
Assim sendo, basicamente, o que se sabe de Leda é que suas primeiras pinturas eram feitas sobre toalhas de banho infantis e que ela cobria partes das imagens com camadas de tinta. Essa utilização de materiais industrializados (toalhas) e de imagens da cultura de massa sempre foi lida pela crítica como influência da arte pop. Também costura seus trabalhos, e a costura foi relacionada com questões do universo feminino.
"Não é fácil definir o trabalho de Leda Catunda; descrever os materiais significa apenas dar um passo dentro de sua oficina", escreve Lisette Lagnado no texto "Formas Prenhes", de 1994, no livro. Talvez por isso mesmo a edição tenha optado, para a abertura do volume, por um texto cronológico de Tadeu Chiarelli sobre sua carreira em paralelo com a produção contemporânea brasileira na época.
O texto de Chiarelli cumpre bem seu papel como crônica de uma época passada (anos 80), mas mesmo o presente (anos 90) já é tratado superficialmente, em apenas dois dos 15 tópicos de seu texto. Será que a produção de Leda Catunda perdeu nos anos 90 a relevância que tinha nos anos 80?
Paulo Herkenhoff dá um passo interessante em texto de 1996, reproduzido no livro. "Encontramos gotas vermelhas, gotas pretas, gotas brancas que, no entanto, são mais da ordem das águas sólidas. Não são vertidas como líquido. São o corpo e a carne da pintura... A gota pode ser, do ponto de vista pragmático, o conteúdo de uma pincelada", escreveu, relacionando assim o apego da artista às formas líquidas.
Realmente um apego obsessivo e ainda inexplicado, que se manifesta em toda a carreira da artista, nos materiais utilizados (toalhas, cortinas e tapetes de banheiro), nos títulos das obras ("Gotas", "A Cachoeira", "Aquário", "Capa") e nas figuras representadas (lagos, rios, cachoeiras).


Avaliação:   


Livro: Leda Catunda
Textos: Tadeu Chiarelli, Lisette Lagnado e Paulo Herkenhoff Projeto gráfico: Carla Brandão e Cláudio Rodrigues de Moraes Editora: Cosac & Naify Edições Quanto: R$ 92 (192 págs.)


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