São Paulo, sábado, 23 de dezembro de 2006

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Apesar do sucesso, escritor viveu em ambiente promíscuo e miserável

DA REDAÇÃO

A dedicatória de "A Dama-Fantasma" é reveladora do espírito do autor: "Ao apartamento 605 do Hotel M... com gratidão infinita (por não estar lá)".
Cornell Woolrich se refere, provavelmente, ao hotel Marseilles, em Nova York, onde viveu com sua mãe por mais de 20 anos, até a morte dela, em 1957. Foi um período em que ele se concentrou na escrita de forma intensa: de 1934 a 1948, publicou mais de 200 contos; de 1940 a 1948, 11 novelas. Ele já tinha alcançado o sucesso, mas a Depressão minou suas finanças e fez com que se obrigasse a uma produção febril.
Nascido em Nova York em 1903, cresceu no México, onde morou com o pai. No início da adolescência, voltou aos EUA para viver com a mãe. Em 1921, entrou no curso de jornalismo na Universidade Columbia, mas acabou enveredando pela literatura. Seu primeiro livro publicado, de 1926, é um romance ambientado no mundo do jazz, "Cover Charge". Do mesmo gênero, "Children of the Ritz", do ano seguinte, marca o início de sua trajetória no mundo do cinema.
Passou a escrever roteiros para Hollywood e, em 1930, casou com a filha de um magnata do cinema mudo. Ao que dizem seus biógrafos, o casamento nunca chegou a ser consumado, pois Woolrich se martiriza perdido entre sua vida "normal" e sua homossexualidade supostamente secreta.
Durante o casamento, escreve seu biógrafo Francis Nevins, o escritor abandonava a mulher no meio da noite, colocava um uniforme de marinheiro que guardava em uma mala chaveada e saía pela cidade em busca de parceiros.
Logo se divorciaram, e Woolrich deixou para a mulher um diário em que relatava suas aventuras com detalhes. A partir daí, o escritor voltou a morar com a mãe, no tal hotel ao qual dedica "A Dama-Fantasma", convivendo num ambiente promíscuo e miserável, apesar de estar bem financeiramente.
Sua obra, aliás, continuava de grande qualidade enquanto ele se deteriorava física e mentalmente. Chegou a perder uma perna por causa de uma ferida gangrenada e sofreu com os demônios do alcoolismo. Morreu de um ataque cardíaco, em 1968. (RL)


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