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MÚSICA
Acusado de protagonizar tiroteio em NY e em queda de vendas, rapper passa péssimo momento
Puff Daddy vive seu inferno astral
PAULO VIEIRA
especial para a Folha
O império não está exatamente
ruindo, mas Sean Combs, vulgo
Puff Daddy, entrou 2000 em curva descendente. Depois de ganhar
manchetes em 99 pelas festas nababescas que deu em Londres e
Nova York para promover o CD
"Forever" e implementar sua própria revista de comportamento, a
"Notorious" -uma "Vibe" miscigenada-, Puffy enfrenta processos judiciais e, pior, vendas
muito aquém do esperado.
Ele pode pegar 15 anos, se processado (leia texto nesta página).
A má fase, como disse o rapper à
"Vibe", está levando-o a ter pesadelos ególatras, em que se vê
"pendurado numa forca por dias
a fio", com uma "população inteira" ansiando por vê-lo morto.
Dias se passam e ele continua
pendurado. Por fim, é libertado e
sai caminhando.
À frente da gravadora Bad Boy,
Puffy conseguiu vendagens astronômicas, tirou Notorious B.I.G.
da bandidagem -para morrer,
logo em seu segundo disco, como
um dos mais famosos rappers dos
90. Em 97, os artistas Bad Boy revezaram-se no primeiro lugar da
"Billboard" por 22 semanas consecutivas, e "No Way Out", o primeiro disco de Puffy, foi ouro na
semana de lançamento.
O jogo virou. "Forever" demorou um mês para chegar ao ouro e
a Bad Boy perdeu 75% do faturamento em relação ao ano anterior. Na Internet, sites "antipuffy"
se multiplicaram.
Em um deles, em formato de
quadrinhos, surge o conhecido
vingador, Mister T, cuja missão é
destruir o "plagiador" Puffy. Ao
saber que está em perigo, Puffy
"tem uma idéia": "Chamo gente
mais "talentosa" que eu para escrever minhas músicas e convido-os
para estrelar meus vídeos". O rapper, no site, conclui: "Fico com o
crédito. Diabo, sou um gênio."
O chiste não está longe da realidade. Puffy chegou ao sucesso
com bases musicais nada anônimas. Sobre "Every Breath You Take", hit do Police, gravou "I"ll Be
Missing You", que dedicou a Notorious, então recém-tombado;
para a trilha de "Godzilla", canibalizou "Kashmir", do Led Zeppelin, com irrestrita anuência, é
verdade, de Jimmy Page.
Outros rappers também fazem
isso, mas Puffy ousou mexer em
baús recentes, e sua sem-cerimônia preferia músicas que ficaram
entre as Top10 da "Billboard".
Crescido no Harlem nova-iorquino, Puffy perdeu o pai logo aos
3, assassinado. Mas chegou à faculdade, fugindo do perfil médio
de seus coetâneos, normalmente
envolvidos com tráfico antes do
rap. Para muitos, Puffy não pode
representar um "posse", alguém
com suficiente conhecimento de
causa para falar do "gueto".
Numa entrevista dos bons tempos à especializada "The Source",
Puffy disse que "mantinha o poder" estando aberto "a aprender"
e se obrigando a repetir: "Não sei
nada, absolutamente". Disse também que rap é "estilo de vida",
"carisma", "espiritualidade",
anotando que "nenhuma outra
forma de música tem essa relação
com a audiência".
Se é assim, Puffy precisa tomar
mais cuidado. O uso reiterado de
diamantes não difere de outros
rappers e executivos de gravadoras, mas não é fácil aparecer um
sorriso em sua carranca, que já foi
comparada a um "bloco de gelo".
Tem causado estranheza, também, os personagens que têm escolhido para dividir flashs.
A "Vibe", em editorial, arriscou
uma comparação: "Master P, que
fatura mais que Puffy, se encaixa
muito melhor na idéia que as pessoas têm de um rapper. Ele não
vai convidar David Copperfield
para suas festas. Puffy, contudo,
adora aparecer ao lado de Jerry
Seinfeld e Donald Trump".
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