São Paulo, Segunda-feira, 24 de Janeiro de 2000


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MÚSICA
Acusado de protagonizar tiroteio em NY e em queda de vendas, rapper passa péssimo momento
Puff Daddy vive seu inferno astral

PAULO VIEIRA
especial para a Folha

O império não está exatamente ruindo, mas Sean Combs, vulgo Puff Daddy, entrou 2000 em curva descendente. Depois de ganhar manchetes em 99 pelas festas nababescas que deu em Londres e Nova York para promover o CD "Forever" e implementar sua própria revista de comportamento, a "Notorious" -uma "Vibe" miscigenada-, Puffy enfrenta processos judiciais e, pior, vendas muito aquém do esperado.
Ele pode pegar 15 anos, se processado (leia texto nesta página). A má fase, como disse o rapper à "Vibe", está levando-o a ter pesadelos ególatras, em que se vê "pendurado numa forca por dias a fio", com uma "população inteira" ansiando por vê-lo morto. Dias se passam e ele continua pendurado. Por fim, é libertado e sai caminhando.
À frente da gravadora Bad Boy, Puffy conseguiu vendagens astronômicas, tirou Notorious B.I.G. da bandidagem -para morrer, logo em seu segundo disco, como um dos mais famosos rappers dos 90. Em 97, os artistas Bad Boy revezaram-se no primeiro lugar da "Billboard" por 22 semanas consecutivas, e "No Way Out", o primeiro disco de Puffy, foi ouro na semana de lançamento.
O jogo virou. "Forever" demorou um mês para chegar ao ouro e a Bad Boy perdeu 75% do faturamento em relação ao ano anterior. Na Internet, sites "antipuffy" se multiplicaram.
Em um deles, em formato de quadrinhos, surge o conhecido vingador, Mister T, cuja missão é destruir o "plagiador" Puffy. Ao saber que está em perigo, Puffy "tem uma idéia": "Chamo gente mais "talentosa" que eu para escrever minhas músicas e convido-os para estrelar meus vídeos". O rapper, no site, conclui: "Fico com o crédito. Diabo, sou um gênio."
O chiste não está longe da realidade. Puffy chegou ao sucesso com bases musicais nada anônimas. Sobre "Every Breath You Take", hit do Police, gravou "I"ll Be Missing You", que dedicou a Notorious, então recém-tombado; para a trilha de "Godzilla", canibalizou "Kashmir", do Led Zeppelin, com irrestrita anuência, é verdade, de Jimmy Page.
Outros rappers também fazem isso, mas Puffy ousou mexer em baús recentes, e sua sem-cerimônia preferia músicas que ficaram entre as Top10 da "Billboard".
Crescido no Harlem nova-iorquino, Puffy perdeu o pai logo aos 3, assassinado. Mas chegou à faculdade, fugindo do perfil médio de seus coetâneos, normalmente envolvidos com tráfico antes do rap. Para muitos, Puffy não pode representar um "posse", alguém com suficiente conhecimento de causa para falar do "gueto".
Numa entrevista dos bons tempos à especializada "The Source", Puffy disse que "mantinha o poder" estando aberto "a aprender" e se obrigando a repetir: "Não sei nada, absolutamente". Disse também que rap é "estilo de vida", "carisma", "espiritualidade", anotando que "nenhuma outra forma de música tem essa relação com a audiência".
Se é assim, Puffy precisa tomar mais cuidado. O uso reiterado de diamantes não difere de outros rappers e executivos de gravadoras, mas não é fácil aparecer um sorriso em sua carranca, que já foi comparada a um "bloco de gelo".
Tem causado estranheza, também, os personagens que têm escolhido para dividir flashs.
A "Vibe", em editorial, arriscou uma comparação: "Master P, que fatura mais que Puffy, se encaixa muito melhor na idéia que as pessoas têm de um rapper. Ele não vai convidar David Copperfield para suas festas. Puffy, contudo, adora aparecer ao lado de Jerry Seinfeld e Donald Trump".


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