São Paulo, terça, 24 de fevereiro de 1998

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Mostra, que abre em março no Rio, não traz obras famosas, mas pretende fazer panorama do trabalho do artista
Dalí "desconhecido' é apresentado ao Brasil

Américo Vermelho/Folha Imagem
Obra de Salvador Dalí chega ao Museu Nacional de Belas Artes, no Rio, onde será exposta a partir de março


FERNANDA DA ESCÓSSIA
da Sucursal do Rio

Os bigodes de Salvador Dalí (1904-1989) na fachada do MNBA (Museu Nacional de Belas Artes), no centro do Rio, serão a senha para a abertura, no dia 23 de março, da maior exposição do artista já realizada na América do Sul. "Dalí Monumental" traz ao Brasil, pela primeira vez, cerca de 300 peças do mestre do surrealismo, entre telas, desenhos, cenários, esculturas, gravuras e objetos decorativos, cenários e figurinos. Há documentos e mais de cem fotos da vida de Dalí feitas por seu colaborador Robert Descharnes, curador da exposição. Descharnes foi nomeado por Dalí gestor de sua obra e herdeiro dos direitos de reprodução de suas imagens. A exposição fica no MNBA de 23 de março a 31 de maio. Segue para o Masp (Museu de Arte de São Paulo), onde fica em cartaz de 8 de junho a 9 de agosto, e de lá vai para Buenos Aires. A mostra que vem ao Brasil não é uma retrospectiva nem traz os quadros mais conhecidos de sua obra. Os relógios moles -síntese de sua obra, para alguns- e a tela "Sono", clássicos da pintura surrealista, não estarão no MNBA nem no Masp. A exposição, segundo os organizadores, fala do Salvador Dalí que o público menos conhece, com um panorama de sua vida e de sua criação. "Não temos as obras mais conhecidas, como os relógios moles, porque eles já não saem mais dos museus para exposições itinerantes. Mas é a maior exposição sobre um único artista já realizada no Brasil", diz Ernesto Texo, produtor internacional do evento. O curador-assistente Nicolas Descharnes, filho do curador Robert Descharnes, diz que Dalí era um "Leonardo da Vinci do século 20". "Dalí era um homem multidisciplinar, com talento múltiplo e extremo rigor científico", diz Nicolas Descharnes. Salvador Dalí nasceu na cidade catalã de Figueras, no norte da Espanha. Frequentou a Escola Nacional de Belas Artes, em Madri, e, em 1927, mudou-se para Paris atraído pela onda surrealista lançada por André Breton. Em Paris conheceu Gala, mulher do poeta Paul Éluard, e se apaixonou por ela. Gala se tornou sua mulher, musa e empresária; nos quadros de Salvador Dalí, inspirou sonhos, nus e madonas. Em 1940, fugindo do avanço nazista sobre a França, Dalí se refugiou nos EUA, onde viveu oito anos. Lá se tornou uma celebridade e um fenômeno da autopromoção. No museu Salvador Dalí em St. Petersburg, na Flórida, estão algumas das principais obras do artista. Onze peças do acervo da Flórida vêm para a exposição no Brasil. Entre elas, o "Espectro de Vermeer", de 1934. Também dos EUA vem a primeira versão da "Madona de Port Lligat" (1949), uma das obras de Dalí mais reproduzidas no mundo. A "Madona", avaliada em US$ 6 milhões, tem Gala como modelo e estará, na exposição do MNBA, no espaço temático "Dalí de Gala". "Nu de Costas", um nu dorsal inteiro de Gala, pintado em 1945, está incluído na homenagem à musa de Dalí. A exposição "Dalí Monumental" foi dividida em 14 espaços temáticos. Os espaços se organizam em dois círculos concêntricos, um externo, sobre a obra de Dalí, e um interno, sobre sua vida. As peças da exposição virão de seis museus internacionais e 28 coleções particulares. Na semana passada, chegaram as primeiras obras, dez esculturas gigantes em bronze. Uma delas, o "Rinoceronte", pesa 3,5 toneladas. O valor das obras não é revelado por motivo de segurança. O produtor Ernesto Texo diz que há peças de até US$ 100 milhões. "Outras peças têm valor histórico incalculável. Um dos problemas em trazer exposições para o Brasil é convencer os colecionadores de que aqui há segurança, e não é seguro divulgar o valor das peças", diz Texo. A montagem de "Dalí Monumental" está orçada em US$ 4,5 milhões, e a expectativa de público no Rio é de 400 mil pessoas, a mesma da exposição do pintor Claude Monet, realizada no museu em 97. Dois patrocinadores já fecharam acordo com os organizadores, e as outras cotas de patrocínio estão sendo negociadas.
Exposição: Dalí Monumental Quando: de 23 de março a 31 de maio Onde: Museu Nacional de Belas Artes (av. Rio Branco, 199, centro do Rio) Quanto: preços provisórios - R$ 1 (estudante); R$ 3 (inteira); R$ 8 (venda antecipada); R$ 10 (venda antecipada do ingresso com o CD-ROM da exposição)


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