São Paulo, sexta-feira, 24 de março de 2000


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O DIRETOR
"Limpo o excesso teatral"

da Redação

Originalmente, a versão brasileira de "Closer" que estréia hoje em São Paulo seria dirigida por Bia Lessa, com quem Renata Sorrah, produtora da peça com José Mayer, fez "As Três Irmãs", de Tchecov, no ano passado.
Na entrevista a seguir, Hector Babenco fala sobre a peça e conta como resolveu voltar a dirigir um texto para o teatro após 12 anos afastado dessa função. (MV)

Folha - Como você entrou nesse projeto?
Hector Babenco -
No réveillon passado, a Renata me ligou e pediu que eu lesse o texto. E eu estava com a cabeça em outro lugar, pois eu estou adaptando o livro "Estação Carandiru", do Drauzio (Varella), para o cinema. Mas aí eu li a peça, fiquei louco, porque é um texto muito irreverente, ousado, que não tenta ser moderno, ele é moderno na sua escrita, na sua concepção, na forma como a estrutura é tecida entre os personagens...

Folha - O que mais chamou sua atenção no texto?
Babenco -
Essa peça é como se fosse uma revisão de "Cenas de um Casamento", do Bergman, que é um marco do início da década de 70, que lidava com psicanálise, com culpa, com infidelidade sexual, com repressões de desejos.
É uma peça que expõe. Não propõe nada, não discute nada, não tenta resolver nada. É como se fosse uma radiografia, uma tomografia do comportamento das pessoas de hoje em relação ao amor. É um texto quase jornalístico, é como se alguém tivesse gravado várias conversas e tivesse feito uma série de 12 esquetes, 12 curtas, 12 episódios. São 12 polaróides, é assim que eu vejo.

Folha - Como foi o processo de direção desse espetáculo?
Babenco -
Eu não sou autor, como diretor. Sou simplesmente o diretor. Estou aqui para ordenar as informações do texto.
A minha direção é quase anônima. Eu quero que as pessoas, quando virem o espetáculo, digam: "Mas houve diretor nessa peça?". Eu quis que a minha mão estivesse totalmente ausente no palco. Minha função foi limpar qualquer ranço de interpretação, qualquer gesto que tentasse completar o que a palavra diz. Quando alguém fala "grande", ninguém se mexe; quando fala "pequeno", ninguém se encolhe.
O espetáculo tem uma estética do homem comum, do móvel comum, da roupa comum. A peça não quer ser um acontecimento, é simplesmente um flash de fotografia. Por exemplo, você vai ver uma peça do Gerald Thomas e fica impressionado, mas você não fala da peça. Ele cria ali um evento visual. Eu estou humildemente limpando esse espetáculo de qualquer excesso teatral.

Folha - Quais são as diferenças entre dirigir peças e filmes?
Babenco -
No cinema você trabalha com a euforia daquele dia de trabalho. No dia seguinte você já se esqueceu do dia anterior. No teatro é diferente, você trabalha com a repetição.
Todos os dias você está sempre à mercê do ator, que pode fazer algo diferente do que fez no dia anterior. E você tem de ir fazendo suas opções e ir dizendo a ele o que você acha, porque o ator está sempre te propondo coisas novas.


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