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O DIRETOR
"Limpo o excesso teatral"
da Redação
Originalmente, a versão
brasileira de "Closer" que
estréia hoje em São Paulo seria dirigida por Bia Lessa,
com quem Renata Sorrah,
produtora da peça com José Mayer, fez
"As Três Irmãs", de Tchecov, no ano passado.
Na entrevista a seguir,
Hector Babenco fala sobre a
peça e conta como resolveu
voltar a dirigir um texto para
o teatro após 12 anos
afastado dessa função.
(MV)
Folha - Como você entrou
nesse projeto?
Hector Babenco - No réveillon passado, a Renata me
ligou e pediu que eu lesse o
texto. E eu estava com a cabeça em outro lugar, pois eu
estou adaptando o livro "Estação Carandiru", do Drauzio (Varella), para o cinema.
Mas aí eu li a peça, fiquei louco, porque é um texto muito irreverente, ousado, que não tenta ser moderno, ele é moderno na sua escrita, na sua concepção, na
forma como a estrutura é tecida entre os personagens...
Folha - O que mais chamou sua atenção no texto?
Babenco - Essa peça é como se fosse uma revisão de
"Cenas de um Casamento",
do Bergman, que é um marco do início da década de 70,
que lidava com psicanálise,
com culpa, com infidelidade
sexual, com repressões de
desejos.
É uma peça que expõe.
Não propõe nada, não discute nada, não tenta resolver
nada. É como se fosse uma
radiografia, uma tomografia
do comportamento das pessoas de hoje em relação ao
amor. É um texto quase jornalístico, é como se alguém
tivesse gravado várias conversas e tivesse feito uma série de 12 esquetes, 12 curtas,
12 episódios. São 12 polaróides, é assim que eu vejo.
Folha - Como foi o processo de direção desse espetáculo?
Babenco - Eu não sou autor, como diretor. Sou simplesmente o diretor. Estou
aqui para ordenar as informações do texto.
A minha direção é quase
anônima. Eu quero que as
pessoas, quando virem o espetáculo, digam: "Mas houve diretor nessa peça?". Eu
quis que a minha mão estivesse totalmente ausente no
palco. Minha função foi limpar qualquer ranço de interpretação, qualquer gesto que
tentasse completar o que a
palavra diz. Quando alguém
fala "grande", ninguém se
mexe; quando fala "pequeno", ninguém se encolhe.
O espetáculo tem uma estética do homem comum,
do móvel comum, da roupa
comum. A peça não quer ser
um acontecimento, é simplesmente um flash de fotografia. Por exemplo, você vai
ver uma peça do Gerald
Thomas e fica impressionado, mas você não fala da peça. Ele cria ali um evento visual. Eu estou humildemente limpando esse espetáculo
de qualquer excesso teatral.
Folha - Quais são as diferenças entre dirigir peças e
filmes?
Babenco - No cinema você
trabalha com a euforia daquele dia de trabalho. No dia
seguinte você já se esqueceu
do dia anterior. No teatro é
diferente, você trabalha com
a repetição.
Todos os dias você está
sempre à mercê do ator, que
pode fazer algo diferente do
que fez no dia anterior. E você tem de ir fazendo suas opções e ir dizendo a ele o que
você acha, porque o ator está
sempre te propondo coisas
novas.
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