São Paulo, sexta-feira, 24 de março de 2000


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NOITE ILUSTRADA - ERIKA PALOMINO
Viva! Tecno-rebeldes se juntam nas pistas brasileiras

GOSTA de tecno? Já ouviu falar nos "techno-rebels"? Pois dois deles, dois dos "techno-rebels" originais, estarão aqui em abril. Não juntos, mas tanto melhor. Derrick May vem dia 7 de abril para tocar no Lov.e, dentro de um projeto patrocinado pela Levi's, o Levi's Players (era para ser hoje, mas eles acharam melhor ganhar um pouco mais de tempo para avisar as pessoas). Juan Atkins vem participar do evento de dance music J&B Club Arenas, dia 28 de abril. Tem de ir! O tecno de Detroit é seco, minimalista, essencial. Visionários, anti-heróis por excelência, Atkins e May (juntamente com Kevin Saunderson) introduziram na música conceitos que hoje você, leitor, toma no café-da-manhã, como tecnologia e futuro.
Isso lá nos anos 80, inspirados pela leitura de Alvin Toffler ("A Terceira Onda") e pela desoladora situação da juventude da industrial Detroit. Pois Detroit seja aqui! Ao menos em abril. Êêêê!

E a inteligência musical eletrônica de São Paulo está fervendo. Quem vai tocar aqui é Adam Beyer e Cari Lekebush, os reis do tecno sueco (que o Pareto e sua turma apelidaram de "suecno"). Eles tocam amanhã no Rio e dia primeiro de abril na Lôca. É o povo do selo Svek, que virou coqueluche entre os DJs no ano passado.

E o underground começa a correr atrás do prejuízo, depois de alguns meses de ostracismo (desde o ano passado, né?). Oscar Bueno, promoter das noites do after hours Lov.e in Paradise e personagem tarimbadíssimo da noite de São Paulo, abre mês que vem seu próprio clube, com o Julio.
O clube ainda não tem nome, mas o ponto é na rua Augusta, do lado do centro, recuperando o charme underground daquele lado da cidade. Oscar está em ótima forma, até porque está correndo nove quilômetros todo dia no Ibirapuera.

E continua a escalada da música brasileira. Sai, também em abril, um disco só com a nova produção eletrônica do país. Quem está bancando o projeto é a cineasta Iara Lee ("Modulations", "Prazeres Sintéticos"), pelo selo Caipirinha. O álbum se chama "Caipiríssima". Confira as faixas aqui: 1. João Parahyba /"Central do Brasil"; 2. DJ Dolores/"Monica no Samba (She Loves Drum n" Cavaco)"; 3. BiD/"Batuk de Amor"; 4. Arto Lindsay/"Whirlwind"; 5. Amon Tobin/"Sub Tropic"; 6. Suba vs. M.A.U./"Pupila Dilatada"; 7. DJ Soul Slinger/"Masterplan"; 8. Apollo 9/"Não Fique Aí"; 9. Anvil FX/"1000"; 10. cYz / "Zumbi"; 11. I.N. Project/"Santa Teresa"; 12. Ramilson Maia/"Bahia Sou"; 13. Chelpa Ferro/"Miniatura Chelpa". Muito bem. Vai ser um sucesso lá na More Music.

FOI bonita a festa da Fórmula 1 no Mube, da Lucky Strike, organizada por Angelo Leuzzi (que também era o aniversariante). O lugar estava bem iluminado, bem dividido e bem decorado. As pessoas eram bonitas e estavam a fim de se divertir, ainda mais com a bebida free, que deixou os bares um inferno. Lotou de um jeito que não dava para andar e faltou também mais lugares para sentar (véia). O DJ francês Colt engrenou ao final de seu set, mas depois o som ficou barulhento demais para uma festa como aquela, em minha modesta opinião, claro. Joguei a toalha então à 1h30. Tudo: os doces e os brindes da Lucky Strike (o meu era um moletom) deixados elegantemente no carro das pessoas.

A geração Semana de Moda chega ao shopping. Depois da loja Slam no MorumbiShopping, o empresário e padrinho Mario Vianna abrirá, no novo shopping Villa-Lobos, as lojas individuais de Caio Gobbi, Mulher do Padre, Sommer e Slam, mais um cybercafé da On Speed. Os projetos de arquitetura são de Gustavo Menegazzo e valem hype próprio. A de Caio Gobbi, por exemplo, será toda em fórmica cinza com fachada de néon pink Caio Gobbi, puff gigante de pele de coelho preta, lustre de cristal e seis metros de altura de pé-direito. Os provadores são três, cada um com dois metros, tão grandes que a pessoa poderá dançar lá dentro -a idéia é essa. A inauguração será dia 19 de abril. Dia 18, tem a festa de lançamento do shopping em si com a exposição das fotos gigantes de Helmut Newton, comandada pelo produtor Cacá Ribeiro, para 2.000 pessoas.

E, por falar em Cacá Ribeiro, é ele quem vai fazer também a festa dos 500 anos na marquise do Ibirapuera, daqui a um mês, dia 23 de abril.

E a moda de Sommer também vai estar na Daslu Homem. Li Camargo acaba de comprar 500 peças para atender aos clientes da loja. É o underground no mainstream, tá vendo?

A marca Clements Ribeiro, do brasileiro Inacio Papaulo Ribeiro e sua mulher, a inglesa Susanne Clements, fechou polpudo contrato e vai assinar também a marca francesa Cacharel. Felizes da vida, compraram um basquiatzinho, para comemorar.

EM entrevista à "ace" deste mês, Marky Mark assume de vez o estrelato, ao que parece. Sobre sua fama no Brasil: "Está ficando ridículo. É difícil sair na rua sem que as pessoas me parem". Marky também fala mal da música feita aqui: "Nunca gostei muito de música brasileira. É muito soft".

E tem lugar novo em São Paulo! Renato De Cara recebe. É o Jazzy, na Clodomiro Amazonas quase na Tabapuã, onde era o restaurante de Arthur de Mattos Casas. É bar, mas você pode dançar (Pil Marques, Marcão Morcerf, Xerxes), os drinks são super bem-preparados (recomendo o Bloody Mary) e a comida é leve e gostosa. Estava faltando mesmo. Para um público adulto, cool e descolado. Helô Ricci, agora fora do Lov.e, é a porta.

E, amanhã, rola no Ceagesp a 10ª edição da Giovanna, a mais famosa festa universitária da cidade, com cinco anos de existência, frequentada por alunos das melhores faculdades. É à fantasia, organizada pelo povo da GV e chega a reunir 2.500 pessoas. Os ingressos já estão esgotados. E está uma guerra para achar convites.

HOJE tem festinha de aniversário de um ano da BASE/Diesel (o que foi o Carnaval na churrascaria Jardineira, pelo amor de Deus?). A casa anuncia reformas e novo show. O DJ convidado de hoje é Felipe Venancio.

E o Paul Oakenfold, hein, que desfilou vestido de anjo e tudo, na Beija-Flor? Bom, no camarote diz que ele já enlouqueceu, com a mulherada e com as baterias, claro. Toda vez que passava uma (bateria), ele corria para ver e gritava: "Is it real? Is it real? I am so lucky to be here!" (uma coisa dicionário, hoje, né?). Pois ele perturbou tanto que fez o gigante louro Henrique Cury ir até Nilópolis pegar as fantasias arranjadas por meio de uma garota que eles conheceram no bondinho de Santa Teresa. Depois, em Maresias, onde ele tocou no Sirena, continuou seu caso de amor com o Brasil e testou o fôlego clubber de seu anfitrião, Marcos Campos. No Rio, onde ele tocou na X-Demente, passou meio batido. Tudo bem, né?

E sabe o que eu descobri? Que nos camarotes têm umas meninas que ficam guardando o lugar na "janela" para as pessoas famosas. Chamam-se oficialmente "bundas".

ÊTA Carnaval que o assunto não acaba. Faltou ainda contar da festa do barco, que começou ao meio-dia e foi até as 19h. Eles pararam atrás das ilhas Cagarras, pularam em alto-mar com golfinho e tudo. Tipo incrível. Foi incrível também quando eles pararam em frente ao posto 9, com house altíssimo rolando. Vieram todas para a frente do barco, para acenar para as amigas, e o barco quase virou! E faltou contar da festa da praia, com house e tecno em plena areia, em Ipanema, em frente ao Caesar Park. São umas festas que acontecem assim, sem ninguém avisar, totalmente free, durando até o dia raiar. Diz que a mistura de pessoas é incrível. O único problema é que a luz da praia é mais clara do que o sol, segundo um frequentador. Assim, na próxima, don't forget your sunglasses!

E ficou faltando a opinião do especialista Hermano Vianna sobre o Carnaval eletrônico da Bahia. "Estava na hora de acontecer algo do gênero. É claro que foi a primeira experiência. A combinação da manipulação dos toca-discos com aquele tipo de percussão com efeitos ao vivo é certamente promissora." Para ele, é difícil prever quais as consequências da atitude da Daniela Mercury.
"Tomara que gere muitas outras experiências. A cultura afro-contemporânea de todos os lugares está conectada em rede. O importante é incentivar as conexões mais inusitadas e dar um tempo para as novidades apresentarem seus melhores frutos. Fiquei triste quando a maioria dos críticos recebeu tão mal as primeiras experiências de funk eletrônico produzidas nas favelas cariocas."
Os garotos estavam começando a aprender a brincar com as máquinas! Hoje, há indícios claros de que coisas muito interessantes estão prestes a tomar conta dos bailes. Já reparou como as compilações das equipes de som cariocas estão cada vez mais parecidas (apesar de totalmente diferentes) com os CDs lancados pelos DJs mais radicais daquilo que de mais novo é produzido no Ghetto Tech de Detroit? Shake your cyberbooty! Ou melhor: sacode teu ciberpopozão!

E-mail: palomino@uol.com.br


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