São Paulo, sexta-feira, 24 de março de 2000


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Atriz indicada implorou pelo papel

especial para a Folha, em NY

Quem não a conhece muito bem acha que Julianne Moore tira a roupa em frente às câmeras com a mesma naturalidade que Jean-Claude van Damme simula socos e pontapés. "Não é verdade", disse a atriz .
O fato de ser hoje uma das atrizes mais requisitadas e versáteis de Hollywood não desvia a atenção da mídia para as cenas de nudez que ela já teve de fazer durante a carreira. Filmes como "Short Cuts - Cenas da Vida", "Boogie Nights" (papel que lhe garantiu indicação para o Oscar de coadjuvante em 97) e agora "Fim de Caso" revelam o lado mais sensual, ou menos vestido, da atriz.
Mas Julianne faz questão de dizer que "tirar a roupa na frente das câmeras não deixa de ser constrangedor só porque você fez isso uma centena de vezes".
Moore, 39, que é separada e tem um filho de 2 anos, apareceu pela primeira vez aos olhos do grande público em 1995 quando atuou ao lado de Hugh Grant na comédia romântica "Nove Meses".
O ano de 99, reservaria outra sorte à atriz: ela atuou em um total de cinco filmes ("Magnolia", "Fim de Caso", "O Marido Ideal", "A Fortuna de Cookie" e "A Map of the World") e, de quebra, recebeu sua segunda indicação para o Oscar.
A Sarah Miles que interpreta em "Fim de Caso", é o mais complexo papel de sua carreira.
"Sarah é um dos vértices desse complicado e intrigante triângulo amoroso. A história se passa durante a Segunda Guerra e é recheada de interpretações sobre amor, sexo, traição e ciúme", disse a atriz.
Sua sutil mas intensa atuaçãogerou os mais elogiosos comentários por parte da crítica especializada. Mas a atriz não para por aí. Ela anunciou que vai substituir Jodie Foster na continuação de Silêncio dos Inocentes ("Hanibbal"), que começa a ser filmado em maio na Itália. (CC e ML)

Folha - Corre à boca pequena que você escreveu uma carta a Neil Jordan (diretor do filme) pedindo o papel.
Julianne Moore -
Eu não pedi, eu implorei. Estava em Londres filmando "O Marido Ideal" e o roteiro caiu nas minhas mãos. Eu então pedi para me encontrar com Neil, que estava em Dublin, naquela mesma semana.
No último minuto, ele não pôde ir e eu pensei "que ótimo, perdi minha chance". Para piorar, eu sabia que ele estava selecionando outras atrizes e que tinha dito que jamais escolheria uma americana para viver o papel de Sarah Miles.
Então, redigi uma carta sentimental, dizendo que eu gostaria muito, muito, muito de ser considerada para interpretar Sarah e enviei a ele. Eu pensei "bem, pelo menos fiz o que devia" e lavei minhas mãos.
Pouco tempo depois, Neil me ligou pedindo que eu fosse fazer um teste. Cheguei lá e vi que éramos eu e mais duas atrizes britânicas disputando a vaga. Quando finalmente fui escolhida, recebi a notícia em estado de choque.

Folha - O problema maior era simular o sotaque inglês?
Moore -
O grande empecilho sempre foi o fato do livro ser um dos mais lidos e respeitados pelo público inglês. Neil não queria correr riscos, ele estava mesmo decidido a selecionar uma atriz inglesa.

Folha - Com toda essa pressão, foi difícil fazer o sotaque?
Moore -
Eu tenho uma certa experiência em simular o sotaque britânico por causa das peças que fiz "off Broadway", mas dessa vez eu estava contracenando com atores ingleses de verdade. Creio que foi mais difícil por isso.

Folha - Como foi trabalhar com Ralph Fiennes?
Moore -
Foi sensacional. Ele é uma pessoa fantástica. É educado, gentil e me ensinou muito. Eu posso dizer que ele e Stephen Rea (que também está no filme) são meus dois atores prediletos. Eu espero ter uma nova oportunidade de trabalhar com eles.

Folha - O que você acha das convicções religiosas da personagem que interpreta nesse filme?
Moore -
Eu acho que qualquer um que já amou alguém profundamente, e isso vale para relações com filhos também, sabe o que é gostar de alguém mais do que de você mesmo.
Nessas circunstâncias, se alguém disser que para essa tal pessoa sobreviver, você precisará começar a ir à igreja e à missa, não há dúvida de que você irá fazê-lo. É mais ou menos isso o que acontece com Sarah nesse filme. Ela está preocupada em salvar a vida do homem que ama.
Seu amor por Deus vem depois disso, vem do sacrifício a que ela se submete. Não quero soar ridícula, mas a Bíblia diz que Deus é a reencarnação e a luz. Isso significa que Deus é tudo e que amar alguém dessa forma tão intensa é, no fundo, amar a Deus.

Folha - Mudando completamente de assunto, você parece sempre muito confortável nas cenas de Moore - Ninguém fica confortável fazendo esse tipo de cena. É sempre constrangedor e minha sorte é que, dessa vez, Neil tinha uma mensagem clara para passar, não era sexo puro, e isso me ajudou a relaxar.

Folha - Você gosta de se ver na tela?
Moore -
É uma coisa delicada. Normalmente vejo meus filmes duas vezes e é isso. É estranho porque os filmes, na verdade, congelam uma parte da sua vida. Eles trazem de volta gostos, cheiros, roupas, pessoas. Para um ator, rever o filme faz você rever uma parte da sua vida. E o ator precisa mudar constantemente. Por isso vejo meus filmes duas vezes e, depois disso, engaveto.


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