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PATRIMÔNIO
Catorze obras do pintor primitivista José Antonio da Silva, um dos mais importantes do Brasil, estão abandonadas
Murais apodrecem no interior de SP
ELIANE SILVA
da Agência Folha, em São José do Rio Preto
Em São José do Rio Preto, no interior de São Paulo, 14 murais de
José Antonio da Silva, um dos
mais importantes pintores primitivistas do Brasil, apodrecem em
um imóvel no centro da cidade,
onde ele foi revelado e viveu por
mais de 30 anos.
Outras 92 pinturas e 52 esculturas do artista estão encerradas no
porão do Teatro Municipal da cidade à espera de uma reforma no
prédio do Centro Cultural, que
abriga o Museu de Arte Primitivista José Antonio da Silva.
Os 14 painéis abandonados, de
0,60 m x 0,80 m, contam a vida de
Silva, que morreu há quatro anos,
e foram pintados pelo artista diretamente nas paredes da casa que
abrigou o antigo Museu de Arte
Contemporânea de Rio Preto entre 1966 e 1980, quando foi inaugurado o Centro Cultural.
O imóvel onde estão os murais é
da prefeitura, mas está cedido há
26 anos a um centro de tratamento para drogados, mantido pela
Betel, uma entidade beneficente.
O prédio nunca passou por reformas, e os painéis não tiveram
restauração. As obras apresentam
rachaduras devido à infiltração de
água nas paredes, estão sujas, sem
iluminação e sem cuidados.
Os clientes e a maioria dos funcionários do centro não sabem de
quem são as obras que se estragam nas paredes.
Segundo o professor e escritor
Romildo Sant'Anna, 51, o artista
nunca recebeu o reconhecimento
que merecia em Rio Preto. "Silva
era um pintor primitivista brilhante. Integrou a Bienal Internacional de São Paulo várias vezes,
foi festejado por grandes críticos
como Pietro Maria Bardi e participou de exposições na Europa,
Cuba e Estados Unidos. Mas sempre foi tratado como exótico, louco ou folclórico na cidade que escolheu para morar", afirmou.
Sant'Anna analisou a obra de
Silva em sua tese de doutorado na
USP, que foi transformada em livro publicado primeiro em Cuba
e depois no Brasil com o título
"Silva/Selva: Quadros e Livros"
(editora Unesp).
"Rio Preto teve de engolir Silva
porque ele ganhou prêmios internacionais e tinha admiradores fora da cidade e do país. Não aplaudi-lo seria mostrar total ignorância", disse a escritora e jornalista
Dinorath do Valle.
Sant'Anna, que dirigiu o museu
Silva por cinco anos, afirmou que
as pinturas-murais precisam ser
levadas para um museu. "O poder
público as despreza." Sant'Anna
contou que o artista também pintou imagens de sua vida nas paredes da casa onde morava. Mas o
imóvel foi demolido.
Olívio Tavares, crítico e cineasta, também lamenta que as obras
de Silva estejam abandonadas em
Rio Preto, mas afirmou que os
murais não representam o melhor da pintura do primitivista.
No final de 98, Araújo organizou uma exposição das obras de
Silva na Pinacoteca de São Paulo.
Foram mostrados 220 trabalhos
do artista. Ele publicou também
um livro ("Silva, a Pintura e não o
Romance") e editou um CD-ROM com as principais obras,
biografia e cronologia do artista.
"Silva foi o retratista de um certo Brasil caipira, mas não bucólico. Ele era espontâneo com um
componente crítico muito forte
em suas telas." Segundo Araújo,
só a pintura do goiano Antonio
Poteiro se compara à de Silva.
"Prefiro dizer que Silva era um
pintor espontâneo e não primitivista, ou naïf, porque essa expressão pode lembrar uma arte
primária, ingênua. Ele não tinha
nada de ingênuo", afirmou.
Segundo ele, as obras, especialmente da fase entre 1954 e 1960,
valem de US$ 2.000 a US$ 16 mil.
O Museu de Arte Primitivista
José Antonio da Silva está fechado desde outubro de 1998, quando o prédio do Centro Cultural
foi interditado pela prefeitura.
Mesmo fechado à visitação, as
obras ficaram expostas nas paredes até setembro, quando começaram a ser transferidas para o
porão do Teatro Municipal.
Na época, a museóloga Katia
Filippini, que prestava serviços à
prefeitura, alertou a administração de que as peças precisavam
de cuidados e teriam de ser expostas em uma sala climatizada.
Atualmente, a prefeitura não
tem funcionários especializados
no trato com obras de arte. Antonio Sergio Lourenço, dos serviços gerais, é quem cuida dos três
museus do município.
Ele foi o criador dos cavaletes
de madeira que sustentam as
obras de Silva no porão do teatro. "Vi uma reportagem na TV e
tentei copiar o modelo."
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