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TEATRO
Estréia no Fringe "Pequenos Trabalhos Para Velhos Palhaços", de autor romeno inédito
Vida e arte de palhaços em crise
VALMIR SANTOS
enviado especial a Curitiba
"Pequenos Trabalhos para Velhos Palhaços" entra em cartaz
hoje na mostra Fringe do Festival
de Teatro de Curitiba. Peça e autor são inéditos no Brasil: trata-se
de Matei Visniec, dramaturgo
contemporâneo nascido na Romênia e naturalizado francês. Ele
chega por meio do ator Alexandre
David, que assistiu a montagem
da obra na mostra "off" do Festival de Avignon, quatro anos atrás.
A estréia nacional em Curitiba
tem direção de André Paes Leme
("Capital Federal"). Além de David, o elenco é formado por Augusto Madeira e Cláudio Simões,
todos do Rio, onde cumprem
temporada a partir de 11 de abril
no teatro do Planetário, na Gávea.
Em "Pequenos Trabalhos...", o
reencontro de três palhaços -Filipeto, Nicolau e Pepino- serve
para rememorar os melhores momentos do ofício, pontuados pela
amizade. Num segundo momento, porém, eles são guindados à
realidade e têm de disputar entre
si a vaga para "um velho palhaço", como pede o anúncio de um
jornal.
"É quando os três percebem
que estão num lugar decadente,
opressivo, à espera do teste. Trocam elogios e se digladiam ao
mesmo tempo, por conta da necessidade de sobreviver", afirma o
ator Cláudio Simões, 31.
Pepino, o mais velho, adora recitar Shakespeare. Nicolau, o
mais jovem, é especializado em
pantomimas. Filipeto é um grande ilusionista. Cada um em sua
habilidade, eles tentam abocanhar o ganha-pão.
"O que um velho palhaço pode
oferecer senão seus velhos números?", eis o questionamento que
os acomete. Não bastasse a crise
social, deparam com a própria
crise do circo. Cambalhotas, tropeções, tortas no rosto e o nariz
vermelho, enfim, o território mágico do "ventre de lona" ainda é
capaz de comover alguém? "Não
deixa de ser uma metáfora do fazer artístico em todas as áreas",
diz Simões.
A montagem brasileira acrescenta um prólogo interativo no
qual os três atores realizam um
sorteio de dados, com a cumplicidade da platéia, para ver quais papéis irão interpretar (eles ensaiaram para assumir qualquer um
dos personagens).
"Beneditas"
A Cia. Confraria da Dança, de
Campinas (SP), estréia no Fringe
"Beneditas", uma releitura do sincretismo religioso brasileiro a
partir da representação de santidades femininas: Nossa Senhora
Aparecida, Imaculada Conceição, Nossa Senhora do Rosário e
Iemanjá, entre outras.
Não é uma história linear. "Tudo é construído por meio de imagens de lembranças de festas populares, como a do Divino Espírito Santo, a congada, o reisado e
outras manifestações tradicionais do interior", explica a dançarina Diane Ichimaru, 34, que
criou, dirige e interpreta "Beneditas" ao lado de Grácia Navarro,
35, com quem contracena.
Ambas nasceram no interior
paulista e trazem em sua formação a cultura de raiz popular -a
primeira em Bragança Paulista e
a segunda em Presidente Prudente. Em cena, também cantam
e tocam percussão para dar vida
às beneditas/benditas que entoam seus ditirambos em procissões, átrios de igreja, capelas ou
terreiros de umbanda ou candomblé.
Segundo Diane, a pesquisa para
o espetáculo "é da vida inteira",
está impregnada na história pessoal das intérpretes. A sistematização dos estudos e da concepção
coreográfica durou quatro meses, até a estréia, em setembro de
1998. Ela não gosta da definição
de dança-teatro para o trabalho
da Confraria, e tampouco se acomoda com a classificação de dança contemporânea. "São expressões que limitam muito, imprimem um rótulo", justifica. "Fazemos dança com base na pesquisa
de linguagem da cultura popular." A Confraria foi criada em
1996 e "Beneditas" é seu primeiro
trabalho.
Responsável por um dos melhores espetáculos encenados no
ano passado em Curitiba -"A
Boa", de Aimar Labaki -, o diretor Ivan Feijó marca presença no
mesmo Fringe com "A Maçã de
Eva", monólogo do casal italiano
Dario Fo e Franca Rame, com interpretação de Clarice Abujamra,
que já cumpriu temporada em
SP.
São depoimentos de uma mulher, "uma espécie de Eurídice
que viola todas as regras, substitui Orfeu e desce ao inferno em
meio aos fantasmas do mal e do
pecado para resgatar a sua melhor parte".
O jornalista Valmir Santos viaja
a convite da organização do festival
Saiba mais sobre o Festival de
Teatro de Curitiba na Internet,
em www.uol.com.br/fol
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