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CRÍTICA
Stoklos recria vozes para temas disparatados
NELSON DE SÁ
enviado especial a Curitiba
Tem acontecido seguidamente
neste festival: lá pela segunda hora, o espetáculo se vê sem palavras
e acaba abruptamente, como que
improvisado.
Foi assim com Antônio Abujamra, Gerald Thomas e até com
Fernando Guerreiro, no Fringe. E
foi assim com "Vozes Dissonantes", de Denise Stoklos.
Como os demais, a atriz e diretora se saiu com uma proclamação em primeira pessoa, em parte
sobre sua própria dificuldade, no
caso, de fazer um espetáculo só
com os pensadores "dissonantes"
do Brasil.
E nem chega a ser verdade: até
começar o que ela chamou de
"mantra", no final, que está mais
para um discurso, o monólogo
encadeia cenas bem realizadas
com textos diversos de autores
que vão de Caminha a frei Betto.
Sua interpretação de um sermão de padre Vieira, com direito
a um jorro de gestos ricamente
expressivos, como era próprio
dos sermões barrocos, é uma
comprovação brilhante de que a
obra de Vieira é das mais teatrais,
embora raramente seja vista como tal.
O jesuíta fala da "antropofagia"
dos brancos, que vivem para tirar
proveito uns dos outros. São temas os mais diversos, até disparatados, aqueles de "Vozes Dissonantes" -do potencial de energia do Maranhão ao trânsito. Mas
em todos está presente a revolta
"dissonante", contra a opressão
de cinco séculos.
"Solitude"
"Solitude", monólogo de Alice
K. sobre texto de Zeami, no Fringe, exige que o público entre em
outra sintonia, distante da pressa
e do ruído cotidianos.
Na praia, sob o som das ondas,
o tempo é outro nesta peça nô que
retrata a solidão. Mas é difícil entrar em outro tempo, quando na
sala ao lado outras peças tocam
trilhas ruidosas -e o som vaza.
Alice K. chega a parecer heróica,
mantendo a concentração sob o
ataque incessante.
O melhor da peça está nas cenas
em que a solidão se desmancha
em sensualidade, em sequências
gestuais que vão da timidez à violência. É como se a personagem
enfrentasse uma saudade da sensualidade: ela foi deixada na praia
depois de, como diz, ter sido amada e desarmada.
De outro lado, alguns jogos com
objetos resultam óbvios. E no
mais das vezes "Solitude" é bem
melhor com gestos e coreografia
do que com o verbo.
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