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ÚLTIMA MODA
LIBERDADE SEM DELÍRIO
Depois de quatro dias e 28
desfiles, a 19ª edição da Casa
de Criadores terminou na
última quarta-feira com um
saldo de boas coleções, mas muitas questões a resolver, na véspera dos dez anos deste que é um
dos principais eventos de moda
do país.
A primeira delas apareceu já na
abertura, com os estilistas do Projeto Lab, dedicado a revelar novos
talentos. A passarela, salvo exceções, mostrou criadores perdidos
em delírios criativos. A seleção,
que poderia ser feita em parceria
com as faculdades de moda, precisa e deve ser mais rigorosa.
Nos desfiles principais da temporada outono-inverno, algumas
apresentações foram prejudicadas pelo styling ruim e por pequenos descuidos. Deu para perder a
conta dos sapatos -muitos deles
sem qualidade- que saíram dos
pés das modelos (onde estão os
jovens designers de sapatos?).
Desfile é imagem e é preciso apuro em todos os elementos. Performances, por sua vez, como tantas
que se viu no evento, são coisas
para artistas. Nas mãos de fashionistas, elas infalivelmente redundam em coisa kitsch, pseudoartística. Melhor fariam os designers se se dedicassem mais às
roupas.
Vale citar também a questão
dos tecidos. Para quem está começando e ainda tem problemas
de verba e modelagem-o que é
perfeitamente normal-, a melhor pedida é experimentar primeiro com tecidos mais fáceis,
como malhas e moletons.
O principal problema de alguns
estilistas, porém, é a dificuldade
para desenvolver conceitos claros
e fortes das coleções, conjugando
a liberdade criativa que a Casa de
Criadores permite com uma visão mais madura dos compromissos incontornáveis da moda
com o mercado e com a época.
As mulheres de Marcelu Ferraz,
por exemplo, com seus excessos
de divas, não existem. São fruto
de um imaginário demodé e sem
correspondência com a realidade
feminina e contemporânea. Resultado: as modelos pareciam ter
escapado de um concurso de fantasias, numa coleção atacada por
uma espécie de síndrome de Clovis Bornay -mal que também
fez vítimas no Projeto Lab.
Mais felizes foram Walério
Araújo e Rober Dognani. O primeiro parece estar superando a
caricatura super-sexy da mulher
e vai descobrindo uma imagem
mais poderosa e moderna, como
no ótimo look prateado, desfilado
por Juliana Imai. Já Dognani, que
tem talento para tecidos finos, fez
um desfile bem concebido e coerente, de olho na tendência gótica
européia -embora num estilo
ainda um pouco afetado e solene.
João Pimenta fez uma das melhores coleções da Casa de Criadores. Sua galera grunge sobrepõe moletons, robes e casacões
com segurança e aposta num inverno de cores vivas e divertidas.
Dreadlocks nos cabelos completaram com charme o desfile.
Gustavo Silvestre não teve grandes vôos criativos, mas mostrou
uma coleção jovial, com jeans interessantes, boas estampas e vestidinhos no shape do momento:
curtos e soltinhos. Fabiana Bauman fez um desfile coeso, com
bons tecidos, acabamento profissional e cartela de cores acertada.
Precisa apenas achar um caminho menos óbvio e mais autoral.
Na linha masculina, Ivan Aguilar, com styling acertado de Maurício Ianes (que colocou maxibotas nos meninos), fez bonito. O
estilista, que já desenhou ternos
para Lula, mostrou meninos modernos, com blazers curtos e longos e um ótimo trabalho nos casacos de matelassê.
A Laundry foi a surpresa do último dia do evento. Conhecida do
público underground, a grife parece decidida a expandir seu território. A partir de referências góticas, investiu em vestidos curtos,
shortinhos e calças de cintura alta
numa coleção inteiramente em
preto e branco que definiu com
segurança um inverno brasileiro,
prático e antenado.
ORAÇÃO CONFORTÁVEL
A marca Al Quds está fazendo sucesso com a primeira calça jeans (foto) criada para muçulmanos. A peça custa cerca
de US$ 22 e tem modelagem
especial, projetada para que o
consumidor possa ficar de joelhos durante as orações.
AGENDA
Amanhã, Rita Wainer abre a
segunda loja da grife Theodora. O novo espaço fica na r. Tinhorão, em Higienópolis.
Na segunda-feira dia 27, a
V.Rom inaugura sua primeira
loja, na al. Lorena, nos Jardins.
A Acervo Benjamin lança
na semana que vem os novos
acessórios e bolsas da linha
Tarântula, de Chiara Gadaleta.
SURTO FASHION
O estilista Nicolas
Ghesquière, da Balenciaga,
determinou que os looks da
coleção de inverno da grife
só poderão ser usados em
editoriais de revistas exatamente como foram mostrados na passarela. Com
chapéu de montaria e tudo.
ALCINO LEITE, com Viviane Whiteman - ultima.moda@folha.com.br
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