São Paulo, sexta-feira, 24 de março de 2006

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ÚLTIMA MODA

LIBERDADE SEM DELÍRIO

Depois de quatro dias e 28 desfiles, a 19ª edição da Casa de Criadores terminou na última quarta-feira com um saldo de boas coleções, mas muitas questões a resolver, na véspera dos dez anos deste que é um dos principais eventos de moda do país.
A primeira delas apareceu já na abertura, com os estilistas do Projeto Lab, dedicado a revelar novos talentos. A passarela, salvo exceções, mostrou criadores perdidos em delírios criativos. A seleção, que poderia ser feita em parceria com as faculdades de moda, precisa e deve ser mais rigorosa.
Nos desfiles principais da temporada outono-inverno, algumas apresentações foram prejudicadas pelo styling ruim e por pequenos descuidos. Deu para perder a conta dos sapatos -muitos deles sem qualidade- que saíram dos pés das modelos (onde estão os jovens designers de sapatos?). Desfile é imagem e é preciso apuro em todos os elementos. Performances, por sua vez, como tantas que se viu no evento, são coisas para artistas. Nas mãos de fashionistas, elas infalivelmente redundam em coisa kitsch, pseudoartística. Melhor fariam os designers se se dedicassem mais às roupas.
Vale citar também a questão dos tecidos. Para quem está começando e ainda tem problemas de verba e modelagem-o que é perfeitamente normal-, a melhor pedida é experimentar primeiro com tecidos mais fáceis, como malhas e moletons.
O principal problema de alguns estilistas, porém, é a dificuldade para desenvolver conceitos claros e fortes das coleções, conjugando a liberdade criativa que a Casa de Criadores permite com uma visão mais madura dos compromissos incontornáveis da moda com o mercado e com a época.
As mulheres de Marcelu Ferraz, por exemplo, com seus excessos de divas, não existem. São fruto de um imaginário demodé e sem correspondência com a realidade feminina e contemporânea. Resultado: as modelos pareciam ter escapado de um concurso de fantasias, numa coleção atacada por uma espécie de síndrome de Clovis Bornay -mal que também fez vítimas no Projeto Lab.
Mais felizes foram Walério Araújo e Rober Dognani. O primeiro parece estar superando a caricatura super-sexy da mulher e vai descobrindo uma imagem mais poderosa e moderna, como no ótimo look prateado, desfilado por Juliana Imai. Já Dognani, que tem talento para tecidos finos, fez um desfile bem concebido e coerente, de olho na tendência gótica européia -embora num estilo ainda um pouco afetado e solene.
João Pimenta fez uma das melhores coleções da Casa de Criadores. Sua galera grunge sobrepõe moletons, robes e casacões com segurança e aposta num inverno de cores vivas e divertidas. Dreadlocks nos cabelos completaram com charme o desfile.
Gustavo Silvestre não teve grandes vôos criativos, mas mostrou uma coleção jovial, com jeans interessantes, boas estampas e vestidinhos no shape do momento: curtos e soltinhos. Fabiana Bauman fez um desfile coeso, com bons tecidos, acabamento profissional e cartela de cores acertada. Precisa apenas achar um caminho menos óbvio e mais autoral.
Na linha masculina, Ivan Aguilar, com styling acertado de Maurício Ianes (que colocou maxibotas nos meninos), fez bonito. O estilista, que já desenhou ternos para Lula, mostrou meninos modernos, com blazers curtos e longos e um ótimo trabalho nos casacos de matelassê.
A Laundry foi a surpresa do último dia do evento. Conhecida do público underground, a grife parece decidida a expandir seu território. A partir de referências góticas, investiu em vestidos curtos, shortinhos e calças de cintura alta numa coleção inteiramente em preto e branco que definiu com segurança um inverno brasileiro, prático e antenado.

ORAÇÃO CONFORTÁVEL
A marca Al Quds está fazendo sucesso com a primeira calça jeans (foto) criada para muçulmanos. A peça custa cerca de US$ 22 e tem modelagem especial, projetada para que o consumidor possa ficar de joelhos durante as orações.

AGENDA
Amanhã, Rita Wainer abre a segunda loja da grife Theodora. O novo espaço fica na r. Tinhorão, em Higienópolis.
Na segunda-feira dia 27, a V.Rom inaugura sua primeira loja, na al. Lorena, nos Jardins.
A Acervo Benjamin lança na semana que vem os novos acessórios e bolsas da linha Tarântula, de Chiara Gadaleta.

SURTO FASHION
O estilista Nicolas Ghesquière, da Balenciaga, determinou que os looks da coleção de inverno da grife só poderão ser usados em editoriais de revistas exatamente como foram mostrados na passarela. Com chapéu de montaria e tudo.


ALCINO LEITE, com Viviane Whiteman - ultima.moda@folha.com.br

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