NINA LEMOS
COLUNISTA DA FOLHA

Os programas de TV que apostam no gênero da auto-ajuda, aqueles que ensinam o telespectador a fazer coisas do dia-a-dia, como se vestir ou arrumar um namorado(a), continuam em alta na TV paga.
Em "Traga Seu Marido na Coleira", que estréia hoje no GNT, uma adestradora de cães, Annie Clayton, ajuda mulheres a resolverem problemas conjugais. Como assim? É isso mesmo. Uma senhora adestradora de cachorros, com 17 anos de experiência e pose de professora, ensina a casadas a arte de "treinar seus maridos".
"Se o seu homem não te dá atenção, aplique nele a técnica da recompensa", diz a treinadora. E o que vemos na TV? A mulher insatisfeita passeando com um cachorro, que recebe um punhado de ração cada vez que faz a coisa certa. Ela faz isso para aprender a depois fazer o mesmo com o marido em casa. Surreal.
O tempo todo são repetidas frases como: "leve-o na rédea curta", "eles são fáceis de serem adestrados". E os homens são comparados com raças de cachorro. "Ele parece um husky siberiano". "O comportamento dele é parecido com o de um boxer", fala, com segurança, a apresentadora.
E não se trata de um programa de humor.
Todo esse festival de absurdos é baseado em pesquisas científicas. De acordo com os produtores do programa, o DNA dos homens e o dos cães equivalem em 85%. Então, basta treinar seu marido para conseguir o que quer. É absurdo. Mas é, sim, uma série com telespectadores participando, em estilo "reality show".
No primeiro episódio, uma aposentada tenta fazer seu marido lhe dar mais atenção. O que vemos na TV? Uma senhora segurando um arco pelo qual um cachorro pula. Mas como assim? "Agora você tem confiança para ser independente e mostrar isso para o seu marido", diz Clayton.
No final, depois de ver mulheres comparando homens com cães e oferecendo rações para animais como se eles fossem seus maridos, a impressão que fica é que, se homens são cachorros, as mulheres são loucas.