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CINEMA ESTRÉIAS
Oscar e Lucinda apostam tudo no delírio
THALES DE MENEZES
da Reportagem Local
Rapaz cresce debaixo de rigorosa
educação religiosa. Adulto, divide
sua crença em Deus com o vício de
apostar, seja em cartas, corridas
ou qualquer coisa. Ao ganhar,
sente a força de uma bênção.
Jovem herdeira compra uma fábrica de vidros e inicia uma relação tortuosa com um padre. A garota transfere seu desejo sexual reprimido para um ímpeto febril de
jogar, apostar. Arriscar sua fortuna é uma forma de purgação.
É na Austrália da virada do século que Oscar, o jogador, encontra
Lucinda, a jogadora. Os dois vão
trilhar uma jornada de amor irrealizado e devaneio crescente. Quanto mais reprimem seus desejos sexuais, mais se entregam a projetos
alucinados.
No ápice do delírio, Oscar acredita que deve construir uma igreja
de vidro e levá-la para o padre que
Lucinda pensa ter amado. Para isso, não hesita em atravessar o
inóspito deserto australiano, numa empreitada que vai decidir seu
destino ao lado de Lucinda.
No breve resumo, é fácil perceber que "Oscar & Lucinda - Uma
História de Amor e Loucura" está
longe de ser um filme comum.
É baseado no livro "Oscar & Lucinda", de Peter Carey, lançado
em 1988 e frequentador da lista
dos mais vendidos nos países de
língua inglesa. Carey também foi o
roteirista de "Até o Fim do Mundo", de Wim Wenders.
As obras indicam um autor excêntrico, que teve a essência de seu
trabalho captada pela diretora Gillian Armstrong. "Oscar & Lucinda" trata do questionamento da
fé, de maneira bem humorada.
A fé de seus personagens não está restrita aos ditames da religião.
Para Oscar e Lucinda, a vida reside
em acreditar, seja qual for o objeto
desse credo: Deus, amor e prazer,
sorte e azar.
Para personificar o casal, a diretora precisava de atores capazes de
interpretar pessoas alucinadas. E
conseguiu tirar de Ralph Fiennes e
da novata Cate Blanchett atuações
apaixonadas.
Duas vezes indicado ao Oscar,
por "A Lista de Schindler" e "O
Paciente Inglês", Fiennes arrisca
seu prestígio num personagem
sem glamour, beirando o patético.
Ao lado de uma atriz que deixou
há pouco as aulas no Instituto de
Arte Dramática de Sydney, ele
despreza seu habitual estilo contido de representar.
O nome de Fiennes nos cartazes
pode atrair um bom público aos
cinemas. Sem dúvida, muita gente
pode se decepcionar com essa
obra delirante, que não faz concessões ao cinema comercial.
Há um tênue equilíbrio entre o
delírio contagiante e a mais pura
melancolia. Ninguém pode torcer
pelos personagens, porque são
imprevisíveis. Como todas as pessoas costumam ser no mundo real.
"Oscar & Lucinda" é desses filmes que ganham admiradores entre aqueles que gostam de ir ao cinema em busca de alguma reflexão sobre a vida.
Pode apostar.
Filme: Oscar & Lucinda - Uma História de
Amor e Loucura
Produção: EUA, 1997
Direção: Gillian Armstrong
Com: Ralph Fiennes, Cate Blanchett
Quando: a partir de hoje, nos cines
Cinearte 2, Espaço Unibanco 4 e circuito
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