São Paulo, sexta, 24 de abril de 1998

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Adriano Stuart foi jogador de futebol

especial para a Folha

Jogador de sinuca e malandro juramentado em "Festa", ex-craque do São Paulo em "Boleiros". Esses são os personagens de Adriano Stuart, um dos atores preferidos de Ugo Giorgetti.
Mas Stuart é, ele próprio, um diretor de cinema. São já 28 longas, alguns da "fase áurea da pornochanchada", como definiu, outros blockbusters com os Trapalhões.
Stuart recebeu a Folha no restaurante Elias, que tem como um de seus sócios Wanderley Luxemburgo, técnico do Corinthians, numa noite em que Zinho e Paulo Nunes, jogadores do Palmeiras, bateram cartão por lá.

Folha - O sr. não é ator do mainstream, ou seja, não faz televisão, e em cinema parece ter ganhado apenas destaque com o Ugo Giorgetti.
Adriano Stuart -
É verdade. Atualmente, eu mais dirijo do que atuo. Virei ator sazonal dos meus quatro últimos filmes, um ainda não foi lançado, o outro é "Os Matadores", do Beto Brant, e os outros são do Ugo. Perguntaram-me outro dia se eu sou o Mastroianni do Ugo. Respondi que não, porque ele não é Fellini.
Folha - O sr. se considera um ator?
Stuart -
Sou primordialmente, basicamente, um ator. Comecei minha vida profissional aos 7 anos, como ator. Trabalhei direto nisso, até os 22. Passei depois a dirigir por dinheiro. Diretor ganha mais que ator, e eu sou casado pela terceira vez, tenho três famílias para sustentar.
Folha - Como é atuar sob o comando do Ugo?
Stuart -
Ugo é um grande fã do Billy Wilder, que dizia que dirigir é saber escolher o elenco. Mais da metade da partida está ganha quando você tem um bom elenco. Ugo é um grande diretor de atores porque confia neles. Em "Festa", há uma sequência em que passo trotes. Ele, que tinha escrito o roteiro, falou para mim: "o texto aqui é muito ruim". Aí respondi que, se ele me desse dois chassis, improvisaria. Pedi apenas para ele marcar as posições de câmera.
Folha - Em "Boleiros", há vários atores experientes e muitos outros novatos. Os srs. os ajudaram? Stuart - Sim. Foi assim com o César Negro (Mamamá, um dos narradores do filme). No primeiro dia de filmagem, ele estava muito mal. Deve ter ficado impressionado com quem contracenava. Levei-o a um bar defronte, falei para ele tomar um rabo de galo, ele disse "não bebo". Disse a ele: "Se o Ugo escolheu você no meio de uma porrada de gente, você é bom". Folha - Você se identifica com seus personagens de baixa extração dos filmes do Ugo?
Stuart -
Tenho a mais absoluta identificação, eu fui jogador de futebol. Poderia ter sido profissional. Tinha contrato quase assinado com o Nacional. Treinei uns dias com os profissionais do Palmeiras, fui um dia treinar com o Santos quando o ataque era Dorval-Mengálvio-Coutinho-Pelé-Pepe. Mas eu não queria jogar fora minha carreira de ator, na época eu era contratado da Tupi. Se não tivesse nascido em circo, não tivesse sido ator na infância, aí teria sido jogador de futebol.
Folha - "Boleiros" fala da decadência dos jogadores. Para o sr., as situações retratadas também acontecem com atores?
Stuart -
Não, carreira de ator só termina com a morte. Ator muda de personagem de acordo com a idade. Se antes fazia o filho e hoje faço o pai, em cinco anos farei um avô. Claro, há os meteoros, como o Eduardo Moscovis, mas meteoros sempre existiram na TV. A decadência do ator não é vertiginosa como a do futebolista. O ator continua trabalhando. O boleiro não. Folha - As situações vividas pelos jogadores podem se repetir com os futebolistas de hoje?
Stuart -
Os jogadores formam uma elite, e acho importante que vejam que fazem muita merda com o dinheiro. O André (lateral-esquerdo), quando foi vendido do São Paulo para o Corinthians, pegou 300 paus (R$ 300 mil) na mão e comprou seis BMW de mesmo modelo, um de cada cor. (PV)



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