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Adriano Stuart foi jogador de futebol
especial para a Folha
Jogador de sinuca e malandro
juramentado em "Festa", ex-craque do São Paulo em "Boleiros".
Esses são os personagens de
Adriano Stuart, um dos atores
preferidos de Ugo Giorgetti.
Mas Stuart é, ele próprio, um diretor de cinema. São já 28 longas,
alguns da "fase áurea da pornochanchada", como definiu, outros
blockbusters com os Trapalhões.
Stuart recebeu a Folha no restaurante Elias, que tem como um
de seus sócios Wanderley Luxemburgo, técnico do Corinthians,
numa noite em que Zinho e Paulo
Nunes, jogadores do Palmeiras,
bateram cartão por lá.
Folha - O sr. não é ator do mainstream, ou seja, não faz televisão, e
em cinema parece ter ganhado
apenas destaque com o Ugo Giorgetti.
Adriano Stuart - É verdade.
Atualmente, eu mais dirijo do que
atuo. Virei ator sazonal dos meus
quatro últimos filmes, um ainda
não foi lançado, o outro é "Os Matadores", do Beto Brant, e os outros são do Ugo. Perguntaram-me
outro dia se eu sou o Mastroianni
do Ugo. Respondi que não, porque
ele não é Fellini.
Folha - O sr. se considera um
ator?
Stuart -Sou primordialmente,
basicamente, um ator. Comecei
minha vida profissional aos 7
anos, como ator. Trabalhei direto
nisso, até os 22. Passei depois a dirigir por dinheiro. Diretor ganha
mais que ator, e eu sou casado pela
terceira vez, tenho três famílias para sustentar.
Folha - Como é atuar sob o comando do Ugo?
Stuart -Ugo é um grande fã do
Billy Wilder, que dizia que dirigir é
saber escolher o elenco. Mais da
metade da partida está ganha
quando você tem um bom elenco.
Ugo é um grande diretor de atores
porque confia neles. Em "Festa",
há uma sequência em que passo
trotes. Ele, que tinha escrito o roteiro, falou para mim: "o texto
aqui é muito ruim". Aí respondi
que, se ele me desse dois chassis,
improvisaria. Pedi apenas para ele
marcar as posições de câmera.
Folha - Em "Boleiros", há vários
atores experientes e muitos outros
novatos. Os srs. os ajudaram?
Stuart - Sim. Foi assim com o César Negro (Mamamá, um dos narradores do filme). No primeiro dia
de filmagem, ele estava muito mal.
Deve ter ficado impressionado
com quem contracenava. Levei-o a
um bar defronte, falei para ele tomar um rabo de galo, ele disse
"não bebo". Disse a ele: "Se o Ugo
escolheu você no meio de uma
porrada de gente, você é bom".
Folha - Você se identifica com seus
personagens de baixa extração
dos filmes do Ugo?
Stuart -Tenho a mais absoluta
identificação, eu fui jogador de futebol. Poderia ter sido profissional. Tinha contrato quase assinado
com o Nacional. Treinei uns dias
com os profissionais do Palmeiras,
fui um dia treinar com o Santos
quando o ataque era Dorval-Mengálvio-Coutinho-Pelé-Pepe. Mas
eu não queria jogar fora minha
carreira de ator, na época eu era
contratado da Tupi. Se não tivesse
nascido em circo, não tivesse sido
ator na infância, aí teria sido jogador de futebol.
Folha - "Boleiros" fala da decadência dos jogadores. Para o sr., as
situações retratadas também
acontecem com atores?
Stuart -Não, carreira de ator só
termina com a morte. Ator muda
de personagem de acordo com a
idade. Se antes fazia o filho e hoje
faço o pai, em cinco anos farei um
avô. Claro, há os meteoros, como
o Eduardo Moscovis, mas meteoros sempre existiram na TV. A decadência do ator não é vertiginosa
como a do futebolista. O ator continua trabalhando. O boleiro não.
Folha - As situações vividas pelos
jogadores podem se repetir com
os futebolistas de hoje?
Stuart -Os jogadores formam
uma elite, e acho importante que
vejam que fazem muita merda
com o dinheiro. O André (lateral-esquerdo), quando foi vendido
do São Paulo para o Corinthians,
pegou 300 paus (R$ 300 mil) na
mão e comprou seis BMW de mesmo modelo, um de cada cor.
(PV)
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