São Paulo, sexta, 24 de abril de 1998

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Ator é "palmeirense enlouquecido"

PAULO VIEIRA
especial para a Folha

Em "Boleiros", filme de elenco estrelar (Lima Duarte, Marisa Orth, Flávio Migliaccio, Denise Fraga etc.), sobressai-se um dos atores preferidos do diretor Ugo Giorgetti. Otávio Augusto, que já esteve nas duas produções anteriores do realizador de "Boleiros" -foi um maître em "Festa" e um impagável funcionário de IML em "Sábado"-, é agora um juiz de futebol corrupto.
No filme, ele é "contratado" para evitar o rebaixamento do Juventus, que precisa vencer em seu próprio campo. Para isso, deixa de anotar um impedimento claro, repreende o bandeirinha por tê-lo sinalizado, marca um pênalti inexistente e exige que a cobrança seja repetida até que o gol saia.
Otávio Augusto é hoje uma figura popular na TV. Está em "Por Amor" e em "Dona Flor e Seus Dois Maridos". No cinema, pode ser visto como o segurança de "Central do Brasil". Acha ainda tempo para o teatro, excursionando com a comédia "A Dama do Cerrado", de Mauro Rasi.
Palmeirense confesso, descontente com o técnico Luiz Felipe Scolari ("ele tem uma ética da porrada"), diz que não ganha dinheiro com cinema, mas é justamente lá que consegue "aprofundar" seus personagens. O ator falou à Folha por telefone, de sua casa no Rio.

Folha - Para compor o juiz corrupto de "Boleiros" o sr. lançou mão de algum laboratório?
Otávio Augusto -
Eu sempre acompanhei futebol, por isso, para fazer o juiz não foi complicado. Essa é uma das muitas histórias que a gente ouve dos próprios jogadores, o juiz que está na gaveta. Há alguns que fazem isso, mas eles são brilhantes, têm uma moral tão forte que não conseguem se denunciar em campo. Esse juiz tem um problema seriíssimo, que altera completamente sua ética. Hoje em dia seria mais difícil para ele, há televisões transmitindo. Hoje, arma-se erro fora de campo, um jogo na tabela, coisas assim. Meu trabalho é ver como essas pessoas, como o juiz, existem socialmente, como funcionam interiormente. Aí componho o personagem.
Folha - Uma das chaves em que o filme é centrado é a decadência, os ex-jogadores e juízes são frustrados e decadentes. Há algum paralelo com a carreira de ator?
Otávio Augusto -
Os jogadores daquele tempo não terminavam suas carreiras milionários como os de hoje, parecia haver mais paixão. O ator também passa por isso, o fim de carreira é terrível, com o agravante de não ganharmos o suficiente para ficarmos milionários nem quando estamos no auge.
Folha - O sr. fez "Festa", "Sábado" e agora "Boleiros". Parece que tem um compromisso vitalício com o Ugo Giorgetti.
Augusto -
Conheci o Ugo já na época em que ele fazia "Jogo Duro". Ele me queria em "Festa", não para fazer o maître, mas um dos jogadores de sinuca. No entanto, na época eu não tinha muito tempo disponível. Somos palmeirenses enlouquecidos. Até promovi para ele um encontro com ex-jogadores de futebol numa cantina.
Folha - O sr. está atualmente numa novela e numa minissérie na TV e, no cinema, pode ser visto em "Central do Brasil" e em "Boleiros". Tem preferência por algum dos "suportes"?
Augusto -
Há anos que faço novelas. Cinema não tem sido assim tão regular. No cinema procuro fazer personagens que me dão prazer, mesmo porque cinema não paga nem razoavelmente bem. Mas faz parte de uma coisa mais profunda, tem discussão, denúncia. A novela dificilmente tem isso, é uma obra em aberto, o personagem é conduzido semanalmente.
Folha - O sr. tem alguma ligação com o futebol?
Augusto -
O futebol faz parte da gente, eu sempre joguei pelada.
Folha - O que está achando do Palmeiras de agora?
Augusto -
Eu não gosto por causa do técnico, o Scolari. Ele tem uma ética de porrada, que futebol é para macho. Com isso desmontou time do Palmeiras.



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