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Ator é "palmeirense enlouquecido"
PAULO VIEIRA
especial para a Folha
Em "Boleiros", filme de elenco
estrelar (Lima Duarte, Marisa
Orth, Flávio Migliaccio, Denise
Fraga etc.), sobressai-se um dos
atores preferidos do diretor Ugo
Giorgetti. Otávio Augusto, que já
esteve nas duas produções anteriores do realizador de "Boleiros"
-foi um maître em "Festa" e um
impagável funcionário de IML em
"Sábado"-, é agora um juiz de
futebol corrupto.
No filme, ele é "contratado" para evitar o rebaixamento do Juventus, que precisa vencer em seu
próprio campo. Para isso, deixa de
anotar um impedimento claro, repreende o bandeirinha por tê-lo
sinalizado, marca um pênalti inexistente e exige que a cobrança seja repetida até que o gol saia.
Otávio Augusto é hoje uma figura popular na TV. Está em "Por
Amor" e em "Dona Flor e Seus
Dois Maridos". No cinema, pode
ser visto como o segurança de
"Central do Brasil". Acha ainda
tempo para o teatro, excursionando com a comédia "A Dama do
Cerrado", de Mauro Rasi.
Palmeirense confesso, descontente com o técnico Luiz Felipe
Scolari ("ele tem uma ética da
porrada"), diz que não ganha dinheiro com cinema, mas é justamente lá que consegue "aprofundar" seus personagens. O ator falou à Folha por telefone, de sua casa no Rio.
Folha - Para compor o juiz corrupto de "Boleiros" o sr. lançou
mão de algum laboratório?
Otávio Augusto - Eu sempre
acompanhei futebol, por isso, para
fazer o juiz não foi complicado. Essa é uma das muitas histórias que a
gente ouve dos próprios jogadores, o juiz que está na gaveta. Há
alguns que fazem isso, mas eles são
brilhantes, têm uma moral tão forte que não conseguem se denunciar em campo. Esse juiz tem um
problema seriíssimo, que altera
completamente sua ética. Hoje em
dia seria mais difícil para ele, há televisões transmitindo. Hoje, arma-se erro fora de campo, um jogo
na tabela, coisas assim. Meu trabalho é ver como essas pessoas, como o juiz, existem socialmente,
como funcionam interiormente.
Aí componho o personagem.
Folha - Uma das chaves em que o
filme é centrado é a decadência, os
ex-jogadores e juízes são frustrados e decadentes. Há algum paralelo com a carreira de ator?
Otávio Augusto - Os jogadores
daquele tempo não terminavam
suas carreiras milionários como os
de hoje, parecia haver mais paixão.
O ator também passa por isso, o
fim de carreira é terrível, com o
agravante de não ganharmos o suficiente para ficarmos milionários
nem quando estamos no auge.
Folha - O sr. fez "Festa", "Sábado" e agora "Boleiros". Parece que
tem um compromisso vitalício com
o Ugo Giorgetti.
Augusto -Conheci o Ugo já na
época em que ele fazia "Jogo Duro". Ele me queria em "Festa",
não para fazer o maître, mas um
dos jogadores de sinuca. No entanto, na época eu não tinha muito
tempo disponível. Somos palmeirenses enlouquecidos. Até promovi para ele um encontro com ex-jogadores de futebol numa cantina.
Folha - O sr. está atualmente numa novela e numa minissérie na
TV e, no cinema, pode ser visto em
"Central do Brasil" e em "Boleiros". Tem preferência por algum
dos "suportes"?
Augusto -Há anos que faço novelas. Cinema não tem sido assim
tão regular. No cinema procuro fazer personagens que me dão prazer, mesmo porque cinema não
paga nem razoavelmente bem.
Mas faz parte de uma coisa mais
profunda, tem discussão, denúncia. A novela dificilmente tem isso,
é uma obra em aberto, o personagem é conduzido semanalmente.
Folha - O sr. tem alguma ligação
com o futebol?
Augusto -O futebol faz parte da
gente, eu sempre joguei pelada.
Folha - O que está achando do
Palmeiras de agora?
Augusto -Eu não gosto por causa do técnico, o Scolari. Ele tem
uma ética de porrada, que futebol
é para macho. Com isso desmontou time do Palmeiras.
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