São Paulo, sexta, 24 de abril de 1998

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"Detective" era "pulp fiction" de sucesso

da Sucursal do Rio

King Shelter estreou nas últimas páginas da edição número 196 de "Detective", revista que, sob o comando de Nelson Rodrigues, tinha como slogan "Mistério! Ação! Perigo!".
Poucas edições depois, Shelter já havia se transformado em atração da revista. Seus contos eram publicados nas primeiras páginas de "Detective", antes mesmo da já então conhecida Agatha Christie.
Nos anos 40, "Detective" (que havia sido lançada em 1936) era o mais bem sucedido exemplo de "pulp fiction" no Brasil. As revistas impressas em papel barato (o "pulp" que deu origem ao termo) reuniam desde clássicos como "Drácula", de Bram Stoker, ou "O Fantasma da Ópera", de Gaston Leroux, ao que havia de mais pobre na literatura americana.
"Havia muita coisa vagabunda, bem "pulp', mas muitas vezes no meio da porcaria se encontrava uma pérola, como um novo conto de Hammett ou alguma reedição de Conan Doyle (criador de Sherlock Holmes)", disse Geraldo Ferraz.
Ao assumir a direção da revista, no início dos anos 40, Nelson Rodrigues fez algumas modificações gráficas: "Detective" passou a ter ilustrações, sumários dos contos em sua apresentação e um maior cuidado com a montagem dos textos, o que deu à revista uma aparência mais leve.
"Mas não havia tanto critério editorial. Às vezes Nelson misturava um "western' aos contos policiais. Eu costumo dizer que ele completava a revista com o que aparecia", disse Ferraz.
Como fã desse tipo de literatura, Ferraz suspeita que outros autores possam ter contribuído para a revista usando pseudônimos. "Talvez o próprio Nelson, que na mesma época escrevia como Suzana Flag, possa ter escrito alguns contos", disse.
"Detective" tinha como sua principal concorrente a revista "X-9". No início dos anos 50, as revistas policiais entraram em decadência. Com o surgimento de outras revistas -"muitas com uma coloração mais sexy", explicou Ferraz-, as "pulp fictions" tiveram que buscar outros caminhos.
A "X-9" tentou mudar seu perfil publicando versões romanceadas de crimes reais, mas não deu certo. "As revistas já não tinham mais fôlego. A derrocada dos Diários Associados afundou com a "Detective'. Pouco depois, a "X-9' também desapareceu", contou Ferraz. (CG)



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