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King Shelter também tinha seu Sherlock
da Sucursal do Rio
Os contos de King Shelter têm
muito do refinamento intelectual
de Patrícia Galvão. Suas histórias
são, em grande parte, ambientadas na França -país que a escritora adorava e onde viveu no início
dos anos 30.
Como todo escritor de histórias
policiais, Pagu-Shelter tem seu
"detetive-mor": é Cassira A. Ducrot, definido pela autora como
"o mais completo Sherlock da Sureté", a polícia francesa.
Ducrot é descrito como um admirador da lógica e do bom senso,
mas não usa apenas essas qualidades para suas investigações. Em
várias situações, parte para a ação
-atira, luta, apanha, bate.
Em alguns dos contos, Cassira A.
Ducrot contracena com o próprio
King Shelter -outra técnica raramente utilizada pelos autores de
histórias policiais na época.
"Os contos narrados na primeira pessoa eram comuns, mas são
raros aqueles em que o próprio
autor interage na história", explicou Geraldo Ferraz.
É da personagem Shelter, no
conto "A Mão Viva da Morta",
uma descrição de Ducrot:
"Era ainda bastante jovem para
que eu pudesse crer em sua propalada eficiência. Parecia muito um
estudante boêmio com seu chapéu
largo, a echarpe colorida, os olhos
imprecisos, ora gaiatos, ora tristes. Gosta de um Dubonnet, de comer no La Tour dÁrgent, é elegantíssimo e nasceu no Midi."
Em "Safra Macabra", os contos
foram publicados em ordem cronológica. Os títulos contribuem
para o clima "noir" das histórias:
há "O Mistério da Máscara de
Sangue", "As Noivas da Morte",
"Morte no Varieté" e "O Mistério
do Navio Perdido", entre outros.
O primeiro dos contos é "A Esmeralda Azul do Gato do Tibet",
onde Pagu-Shelter já apresenta
elementos que surgirão em vários
outros contos: uma pitada de culturas exóticas misturada a um toque fantástico.
No conto, uma misteriosa esmeralda vinda da Índia causa "acidentes" em um castelo do interior
da França, onde vive a rica, jovem
e solitária herdeira da jóia.
Mais adiante, em "A Peste
Azul", um náufrago pertencente a
uma tribo desconhecida dos mares do sul espalha uma estranha
doença entre os passageiros do navio que o recolhera.
"O que se percebe é que, a partir
do primeiro conto, Pagu vai se soltando. Sua narrativa ganha um ritmo que evidencia o prazer que ela
tinha em escrever", afirmou o filho da autora.
O prazer surge ainda em pequenas brincadeiras da autora. No
conto "O Dinheiro dos Mutilados", a personagem Violeta Cottot
é uma jovem francesa que, sob o
pseudônimo "Mossidora", escreve "as mais perfeitas novelas policiais contemporâneas" para uma
revista chamada "Delinquente".
(CG)
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