São Paulo, sexta, 24 de abril de 1998

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King Shelter também tinha seu Sherlock

da Sucursal do Rio

Os contos de King Shelter têm muito do refinamento intelectual de Patrícia Galvão. Suas histórias são, em grande parte, ambientadas na França -país que a escritora adorava e onde viveu no início dos anos 30.
Como todo escritor de histórias policiais, Pagu-Shelter tem seu "detetive-mor": é Cassira A. Ducrot, definido pela autora como "o mais completo Sherlock da Sureté", a polícia francesa.
Ducrot é descrito como um admirador da lógica e do bom senso, mas não usa apenas essas qualidades para suas investigações. Em várias situações, parte para a ação -atira, luta, apanha, bate.
Em alguns dos contos, Cassira A. Ducrot contracena com o próprio King Shelter -outra técnica raramente utilizada pelos autores de histórias policiais na época.
"Os contos narrados na primeira pessoa eram comuns, mas são raros aqueles em que o próprio autor interage na história", explicou Geraldo Ferraz.
É da personagem Shelter, no conto "A Mão Viva da Morta", uma descrição de Ducrot:
"Era ainda bastante jovem para que eu pudesse crer em sua propalada eficiência. Parecia muito um estudante boêmio com seu chapéu largo, a echarpe colorida, os olhos imprecisos, ora gaiatos, ora tristes. Gosta de um Dubonnet, de comer no La Tour dÁrgent, é elegantíssimo e nasceu no Midi."
Em "Safra Macabra", os contos foram publicados em ordem cronológica. Os títulos contribuem para o clima "noir" das histórias: há "O Mistério da Máscara de Sangue", "As Noivas da Morte", "Morte no Varieté" e "O Mistério do Navio Perdido", entre outros.
O primeiro dos contos é "A Esmeralda Azul do Gato do Tibet", onde Pagu-Shelter já apresenta elementos que surgirão em vários outros contos: uma pitada de culturas exóticas misturada a um toque fantástico.
No conto, uma misteriosa esmeralda vinda da Índia causa "acidentes" em um castelo do interior da França, onde vive a rica, jovem e solitária herdeira da jóia.
Mais adiante, em "A Peste Azul", um náufrago pertencente a uma tribo desconhecida dos mares do sul espalha uma estranha doença entre os passageiros do navio que o recolhera.
"O que se percebe é que, a partir do primeiro conto, Pagu vai se soltando. Sua narrativa ganha um ritmo que evidencia o prazer que ela tinha em escrever", afirmou o filho da autora.
O prazer surge ainda em pequenas brincadeiras da autora. No conto "O Dinheiro dos Mutilados", a personagem Violeta Cottot é uma jovem francesa que, sob o pseudônimo "Mossidora", escreve "as mais perfeitas novelas policiais contemporâneas" para uma revista chamada "Delinquente".
(CG)



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