da Reportagem Local

O selo curitibano Revivendo comemora seus dez anos de existência com um daqueles lançamentos que desafiam as regras do mercado (e do óbvio) para prestar serviço à memória da música popular brasileira: o caixotinho de quatro CDs "No Tempo do Rádio", com o cantor carioca Orlando Silva (1915-1978).
São ao todo 66 faixas recolhidas de gravações feitas ao vivo de apresentações de Orlando em programas de rádio e televisão -muitas das quais, portanto, nunca antes lançadas comercialmente em disco.
Essa orientação não priva a coleção de sucessos populares do cantor, do tipo "Carinhoso", "Rosa", "Nada Além", "Faixa de Cetim", "Sertaneja", "Curare" ou "Espelho do Destino" -invariavelmente em versões menos rigorosas que as já conhecidas.
Mas, em geral, a caixa se faz de material obscuro, não poucas vezes composto por autores igualmente obscuros.
Entre as canções que, segundo a Revivendo, Orlando Silva nunca gravou comercialmente, contam-se a valsa "Serenata" (de Sivan Castelo Neto), "Brasil Novo" (samba getulista de Saint-Clair Senna e Alcyr Pires Vermelho) e "Recordações" (de Newton Teixeira e Haroldo Barbosa), em dueto infelizmente quase inaudível com Marília Batista.
Alguns autores clássicos da MPB também comparecem, como Ary Barroso ("Despacho"), Lupicinio Rodrigues (o samba de ciúmes e desamor "Brasa" -"é que as mulheres da rua/ têm a alma melhor que a sua/ sabem melhor me agradar"), Noel Rosa ("Três Apitos", "Feitiço da Vila"), Ataulfo Alves ("O Prazer É Todo Meu") e Dorival Caymmi ("O Que É Que a Baiana Tem").
"Rosinha" é capítulo à parte na coleção: Elizeth Cardoso apresenta, em registro de 1966, o programa "Bossaudade", da TV Record, introduzindo em tom descontraído o terceto de Orlando com Cyro Monteiro e Mauricy Moura.
Ao vivo, Orlando canta peças que originalmente seus maiores rivais haviam gravado: "Chuvas de Verão", de Fernando Lobo, lançada primeiro por Francisco Alves, "Promessa", de Custódio Mesquita e Ewaldo Ruy, por Silvio Caldas, ou "Rosa de Maio", dos mesmos autores, por Carlos Galhardo.
Aparecem aí vários Orlandos, mas a uniformidade só se dá num aspecto: a maioria das gravações recuperadas é de qualidade sofrível, o que torna penosa a audição. Paira uma melancolia por sobre os aplausos de auditório que surgem ao fundo, embaçados, tão distantes quanto o tempo em que aquela era a qualidade técnica permitida.
O pacote fica, por isso tudo, contra-indicado aos curiosos por Orlando, tanto quanto deve levar à loucura os obcecados por Orlando -isto é, se estas duas categorias de pessoas ainda existem em 1998.
(PEDRO ALEXANDRE SANCHES)

Caixa: No Tempo do Rádio Artista: Orlando Silva Lançamento: Revivendo Quanto: R$ 72, em média (4 CDs)


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