São Paulo, sexta, 24 de abril de 1998

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Paralamas testam renovação

da Reportagem Local

Uma boa notícia abre "Hey Na Na", o mais novo álbum dos Paralamas do Sucesso: a primeira faixa, "Por Sempre Andar", avisa que o sempre constante uso exagerado de sopros ficou, por ora, para trás.
Paralamas afastam assim o rótulo de cover do cover -ou seja, de sub-Skank- que o anterior "Nove Luas" havia dolorosamente estabelecido.
A façanha deve ser creditada ao produtor Chico Neves, responsável, em 97, pela modernização de Lenine e, agora, pelo decréscimo de apelo vulgar no trabalho dos Paralamas.
Neves confere a faixas como "O Trem da Juventude" e "Depois da Queda, o Coice" roupagens despojadas, renovadas; despe a arte paralâmica, sobretudo, de um ranço de pretensão que os acompanha desde o início do período pós-pop, após o ápice criativo de "Big Bang" (89).
Mas não se neutraliza o ímpeto de Herbert Vianna ao que se poderia denominar "MPB antropológica", aparentemente inspirada pelos "pensadores" de araque David Byrne e Arto Lindsay -no quesito antropologia, ademais, o irmão de Herbert, Hermano, sempre foi mais hábil.
Paralamas saíram de banda descompromissada -como de resto seus colegas de geração, dona de mimos como "Cinema Mudo", "Sonífera Ilha", "Corações Psicodélicos", "Menina Veneno".
Mais que os outros todos, quiseram se intelectualizar. A voz de Herbert continuou juvenil, mas -embora colhesse méritos como reevidenciar artistas como Zé Ramalho- um discurso pseudo-acadêmico entrou em choque com as melodias pop simples que sempre seguraram o público da banda.
Após os extremos de "Severino" (94, antipaticamente acadêmico) e "Nove Luas" (96, insuportavelmente populista), Paralamas ainda pagam o preço da inconstância.
A voz de Herbert foi adquirindo verniz antipático, coisa que versos como "um dia em Provença/ perto de Brignoles/ o primeiro homem a pisar no Sol" ou matreirices Mercosul ainda maximizam.
Outros versos, como "palavrões, não almofadas/ como as que proferem Gil e Brown", agravam a impressão de que Paralamas crêem em música como irmandade, conjunto de rapapés atirados de lá para cá.
Tais banalidades não combinam com as melodias competentes que a banda sempre produziu -"Esqueça o Que Te Disseram sobre o Amor (Vai Ser Diferente)", "Tendo a Lua", "Se Você Me Quer"...
E não concatenam quando as melodias são tolas -"O Amor Não Sabe Esperar" (Marisa Monte desperdiçada em tentativa de nova "Onde Você Mora", já suficientemente triste), "Ela Disse Adeus".
Conflituoso, "Hey Na Na" evidencia a banda bem mais interessada em coerência do que em outras ocasiões, mas ainda instável. Por ora, parece de volta à turbulência de "Os Grãos" (91) -não deixa de ser bom ponto de referência. (PAS)

Disco: Hey Na Na Banda: Os Paralamas do Sucesso Lançamento: EMI Quanto: R$ 18, em média


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