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Damienhir ST
MÁRCIA FORTES
especial para a Folha, de Londres
Com uma ambição megalomaníaca, um talento inquestionável,
uma energia inigualável e uma
fluência torrencial de idéias, ele
entrou em cena decidido a roubar
o espetáculo. E conseguiu. Aos 33
anos, Damien Hirst é o protagonista do fenômeno conhecido como a "Nova Arte Inglesa". Ele é
um "art-star" que não apenas
conquistou os palcos do cenário
artístico mundial, mas foi além de
qualquer expectativa e fundiu os
limites do sistema de arte.
Exibindo uma obra forte e polêmica que encoraja reação e debate,
Hirst alcançou o ápice da fama
percorrendo o circuito dos mais
proeminentes museus e galerias
de arte contemporânea nesta última década. Tornou-se tão grande
que o mundo das artes plásticas
não pode mais contê-lo.
Hirst começou a mover-se lateralmente no quadro da cultura,
expandindo sua atuação para os
campos da publicidade, televisão e
cinema. Agora, Hirst surpreende
mais uma vez com a natureza híbrida das suas concepções ao
montar "Pharmacy", um inédito
"restaurante-instalação" em
Notting Hill Gate, em Londres.
Tudo começou em 1988, quando
Hirst era estudante de arte na
Goldsmith College e organizou
"Freeze", uma mostra com ele
próprio e 16 colegas que chamou a
atenção para uma nova geração de
ousados artistas ingleses.
Hirst foi catapultado para a fama
internacional em 1991, ao expor
uma escultura que consistia de um
imenso tubarão invulnerável,
dentes a mostra, imerso em um
tanque de formol, intitulada
"Physical Impossibility of Death
in the Mind of Someone Living".
Essa peça foi novamente uma
das atrações centrais no ano passado na mostra "Sensation", que
bateu recordes de público na Royal Academy of Arts, em Londres.
A mostra exibia oito trabalhos de
Hirst, além de uma centena de outras obras da coleção do patrono
da jovem arte britânica, o publicitário Charles Saatchi.
Na bienal de Veneza de 1993,
Hirst causou furor com a obra
"Mother and Child Divided" -
uma vaca e um bezerro cortados
ao meio, cada metade imortalizada em um tanque transparente de
formol, com seus órgãos interiores expostos como em uma aula de
anatomia animal.
Em 1996, a mostra de Hirst na
galeria Gagosian, em Nova York,
levou admiradores como David
Bowie e Gianni Versace ao vernissage e cinco mil pessoas ao primeiro dia da exposição.
Para definir a obra de Hirst, vale
tomar emprestadas as palavras de
Marcel Proust a respeito de Baudelaire: "cruel, com uma crueldade interligada a um grau infinito
de sensibilidade".
O potencial de choque da sua
obra entremeia-se com alto vigor
intelectual e qualidade emocional.
A claridade formal e conceitual
dos trabalhos, unida a um senso
estético pop, fazem de Hirst um
grande filósofo da existência
pós-moderna.
Em paralelo às exposições, Hirst
comunica suas impressões em outros terrenos em formatos multimídia.
Em 1994, ele apareceu nas páginas da "Esquire" revolucionando
o "look" das páginas de moda; e
assinou o projeto gráfico do álbum de Dave Stewart, "Greetings
from the Gutter".
Em 95, ele dirigiu um filme promocional para a série de filmes de
terror do canal TNT; e um videoclipe para a banda "Blur". Em 96,
o artista escreveu e dirigiu o curta
para cinema "Hanging Around".
E, no ano passado, Hirst lançou
o extravagante livro-catálogo intitulado "I Want to Spend the Rest
of My Life Everywhere, with Everyone, One to One, Always, Forever, Now", uma luxuriante publicação que faz uso do mais criativo
design contemporâneo.
Incluindo reproduções - em
duas e três dimensões, como em
certos livros infantis - de suas
obras, as idéias e inspirações por
detrás delas, reportagens a seu respeito, cartas de fãs etc, o livro é um
"must". Pena que as 15 mil cópias
da primeira edição foram vendidas em cinco meses. Como a
maioria dos empreendimentos em
que Hirst se envolve, o lançamento do livro foi um sucesso absoluto.
Ainda em 97, Hirst envolveu-se
na criação do "restaurante-curatorial" Quo Vadis, no Soho londrino, decorando todo o ambiente
com obras de artes suas e de diversos outros artistas.
Agora, Hirst tomou as rédeas
completamente, criando, detalhe
por detalhe, o design de seu restaurante-instalação Pharmacy
(leia texto nesta página dupla), dez
anos após "Freeze", o estudante
de arte cresceu asas e voou longe.
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