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Corpos convivem com cores
especial para a Folha, de Londres
A obra de Damien Hirst é um
universo de contradições, onde celebrações da vida e do desejo se justapõem a elucubrações sobre a inevitabilidade da
morte e a decadência humana.
São alegres bolotas sobre tela
nas "spot paintings", bolas de
gomos coloridos e balões flutuantes nas esculturas da série
"Celebration", em contraste
com uma gama de elementos
macabros como cadáveres de
animais, cabeças decepadas,
cinzeiros lotados e lixo cirúrgico. Uma cosmologia representativa da visão paradoxal que
Hirst mantém sobre tudo.
"Gosto de falar algo e contradizer o que digo em seguida", disse o artista em conversa ao telefone, "e só me sinto
confortável continuamente fazendo coisas que contradizem
todo o resto que já fiz".
Talvez isso explique sua decisão de abrir um restaurante
-um negócio, uma máquina
de fazer dinheiro- que ao
mesmo tempo é uma experiência visual ou, como ele pondera, "um ideal artístico".
"Sempre falei do meu desejo
de fazer uma arte mais viva, ou
com mais vida. Mas arte não é
vida, e eu tenho consciência
dos paradoxos", diz Hirst.
"Quero empregar o que eu tenho em outras funções, quero
fazer coisas reais. Meu filho é
real, minha namorada é real,
beber, comer e fumar é real".
Significados artísticos não
são fixos ou absolutos. Como
artista, Hirst se alinha a Andy
Warhol, que fez filmes para o
cinema, fundou a revista "Interview" e publicou literatura
conceitual nos anos 60 e 70, e
Jeff Koons, que desceu na onda
da celebridade até o final, ao
casar-se com Cicciolina.
"Estou interessado em relacionamentos. Tudo se relaciona, eu me relaciono com todos
os objetos e pessoas. Por que a
arte só pode se relacionar com
a arte"?
Inúmeras opiniões críticas
dizem que Hirst perdeu a integridade artística. Uma coisa ele
admite: "Tenho a maior dificuldade de levar qualquer coisa
muito a sério. Eu poderia colocar uma galinha em um tanque
e intitular a obra de "Galinha'", ironiza o artista.
Nesse sentido, depois de ter
feito esculturas com tubarões,
vacas, ovelhas e porcos em formol, Pharmacy parece mesmo
seu empreendimento mais
criativo.
O fato é que Hirst progride,
"de forma orgânica", sem diretrizes estabelecidas. "Sabe o
que eu mais gosto da vida? Tudo. E o que eu quero na vida?
Sou um egoísta, quero tudo",
afirma ele, voraz. "Arte não é
tudo. Escolher por quê?"
O que mais impressiona nessas declarações hiperbólicas é
que elas não são meras palavras lançadas ao vento. Hirst
realmente vive de acordo com
o que filosofa. Seus filmes, capas de discos, cenários de óperas, campanhas nas revistas
das moda, restaurante e, por
último mas para sempre, suas
obras de arte, estão aí para
comprovar que o seu negócio é
mesmo tudo.
(MF)
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