São Paulo, sexta, 24 de abril de 1998

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Palcos cariocas recebem o teatro jovem

Divulgação
Luana Piovani e Gaspar Filho em cena da peça "D'Artagnan e Os Três Mosqueteiros'', que estréia neste fim-de-semana no Rio de Janeiro


ANNA LEE
da Sucursal do Rio

Estréiam neste fim-de-semana no Rio duas peças que, apesar de abordarem temas diferentes, são feitas por produtores, diretores e atores na faixa de 19 a 26 anos movidos pelo mesmo desejo: contar histórias numa linguagem jovem.
"D'Artagnan e Os Três Mosqueteiros" é uma adaptação dos atores e produtores Pedro Vasconcelos, 24, que também é o diretor do espetáculo, e Marcelo Faria, 26, para o livro "Os Três Mosqueteiros", de 1844, do escritor francês Alexandre Dumas.
"Céus!" é um texto de Patrícia Lopes, 25, que fala sobre a visão que a geração dos anos 90 tem da morte, da vida e do amor. Patrícia, junto com Daniela Fortes, 22, também produz e atua na peça. Essa é a terceira montagem de Patrícia, que nas duas primeiras também assumiu a direção.
Pedro Vasconcelos diz que se "arriscou" a começar a dirigir "muito cedo", com 19 anos, porque sentia falta no teatro de uma linguagem com a qual o público jovem se identificasse.
"A maioria das peças feitas para jovens fala fora do tom de seu público. Falta movimento, rapidez e objetividade, características da linguagem mundial de comunicação atual. Minha geração foi educada pela televisão, e, na maioria da vezes, os jovens deixam de ir ao teatro porque o associam a uma linguagem incompreensível, diferente daquela a que estão acostumados. É isso que pretendo mudar", disse Vasconcelos.
Para isso promete levar para o teatro, na montagem "D'Artagnan e Os Três Mosqueteiros", "a velocidade do videoclipe".
"As cenas são reduzidas e apresentadas em sequência por focos de luz que conduzem a atenção do público para pontos diferentes do palco e da platéia. Tudo com ritmo e ação", explicou Vasconcelos.
Em "Céus!", Patrícia pretende "levar para o palco um teatro-festa, com traços de puro nonsense".
"Estou interessada em fazer um teatro que tenha uma linguagem jovem e descontraída, no qual as pessoas se divirtam ao assistir", disse a diretora.
Mas Vasconcelos e Patrícia concordam que, apesar das "inovações" propostas por eles, o conhecimento do teatro clássico não pode ser abandonado.
"Minha geração é muito enfraquecida culturalmente. Este trabalho pode ser positivo por trazer o jovem ao teatro e quem sabe com isso criar nele o desejo de se sentar para assistir a um espetáculo que não fale a língua dele", disse Vasconcelos.
"Talvez nossas iniciativas sejam o começo de um movimento de mudança na linguagem da dramaturgia brasileira, que, desde Nelson Rodrigues, teve poucas coisas inovadoras. Mas estou ciente de que o conhecimento do teatro clássico jamais poderá ser abandonado, até porque precisamos dele como referência para propor inovações", disse Patrícia.




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