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Nem romance, nem arte
HAROLDO CERAVOLO SEREZA
de Paris
"Romance", pornografia ou arte?
A pergunta que embala o marketing do filme da diretora francesa
Catherine Breillat é falsa. Apesar
da presença de um pênis de 26 cm e
de longos closes reflexivos, não é
nem uma coisa, nem outra.
O filme conta a história de um relacionamento em crise: Marie é
uma mulher ainda apaixonada;
Paul, seu companheiro, um homem que não se deixa tocar. Num
esforço sublime ela tenta uma felação. A resposta é negativa.
Para satisfazer seu apetite sexual
ela sai à cata de amantes. A primeira presa é um jovem doce e potente, mas incapaz de tocar seu coração. O ator, Rocco Siffredi, na vida
real uma estrela do pornô, gaba-se
por possuir um membro incomum. O sexo é explícito.
Breillat explora ambiguidades fáceis. Marie é uma professora primária disléxica. Seu segundo
amante é o diretor da escola onde
trabalha. Um sádico cavalheiro.
Assim, pouco a pouco, ela descobre os prazeres do sexo, ao mesmo
tempo que o relacionamento com
Paul vai se distanciando. Numa de
suas aventuras, ela é estuprada
(não existe prazer sem dor) e fica
grávida (a paternidade da criança é
desconhecida). O que se segue é
uma mensagem tradicional: a redenção vem com a maternidade.
O filme retrata uma Paris contemporânea e preocupada com as
aparências. Os apartamentos e as
roupas são o retrato exato dos estados de espírito dos personagens.
No início, Marie e Paul vestem-se
de branco e habitam pequenos
apartamentos também brancos. Já
o diretor sádico vive num apartamento vermelho e preto. Ao descobrir o próprio prazer, Marie também já se veste de vermelho.
Uma opinião masculina está
sempre sob suspeita quando uma
obra se propõe a encarar o mundo
a partir da visão feminina. A possível reação à crítica é dizer que um
homem não pode compreender os
meandros da alma feminina e,
muito menos, sua sexualidade.
O que se pode dizer é que Breillat,
apesar da proposta feminista, reforça o ideário masculino da sexualidade feminina: frigidez inicial, descoberta do prazer pela dor
e, por fim, a alegria maternal dessexualizada. A mensagem, portanto, não é pornográfica, nem artística, muito menos política.
Avaliação:
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