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LITERATURA
Coletânea de ensaios de historiadores aborda a revolução estética que preparou o olhar para o cinema
Livro traça ponte do cinema com o teatro e a modernidade
SILVANA ARANTES
DA REPORTAGEM LOCAL
"O cinema foi um erro. Mas foi
um erro sedutor."
A provocação do cineasta Jean-Luc Godard parece ter sido aceita
(às avessas) pelo professor de história do cinema e doutor em teoria literária Ismail Xavier. Como
coordenador da coleção "Cinema, Teatro e Modernidade", da
editora Cosac & Naif -cujo primeiro volume, "O Cinema e a Invenção da Vida Moderna", chega
semana que vem às livrarias-,
Xavier pretende aquecer o debate
intelectual sobre o tema.
"Todo o meu esforço é no sentido de quebrar o hábito de refletir
sobre o cinema singularizadamente, como se se tratasse de manifestação artística destacada estética e historicamente do conjunto mais amplo da cultura", diz.
Para Xavier, erra, portanto, não
o cinema, mas quem o compreende num aspecto reducionista, em
oposição ao teatro, às artes plásticas, à literatura e à arquitetura,
com os quais, de fato, dialoga.
"O Cinema e a Invenção da Vida
Moderna" é um conjunto de 13
ensaios de historiadores, com um
traço em comum: o estudo -por
aspectos pormenorizados- da
"revolução estética", em curso
desde o século 18, que instituiu
uma nova "organização do olhar"
condizente com a linguagem cinematográfica, antes mesmo de
seu aparato técnico existir.
O capítulo de Tom Gunning investiga "O Retrato do Corpo Humano: A Fotografia, os Detetives e
os Primórdios do Cinema". "A
Visão que se Desprende: Manet e
o Observador Atento no Fim do
Século 19" é o tema de Jonathan
Crary, enquanto Miriam Bratu
Hansen encerra o volume com
um apanhado sobre "Estados
Unidos, Paris, Alpes: Kracauer (e
Benjamin) sobre o Cinema e a
Modernidade".
Para este ano está previsto o lançamento de outros cinco títulos
da coleção: "Teoria do Drama
Moderno", de Peter Szondi, "Eisenstein e o Construtivismo", de
François Albera, "A Tragédia Moderna", de Raymond Williams,
"Um Olhar para Reinar", de Arthur Omar, e "O Olho Interminável", de Jacques Aumont.
A participação de autores brasileiros, que se inaugura no próximo semestre com Omar, deve
crescer em 2002. "Pretendo convidar pessoas para organizar volumes sobre autores do cinema
moderno, mesclando ensaios de
pensadores brasileiros e estrangeiros, o que me parece um modelo interessante", diz Xavier.
Acertou quem pensou em Godard como um dos primeiros
candidatos a merecer coletânea
de ensaios.
Afinal, o cineasta de "Acossado" pode ter cometido seus erros,
mas foram erros sedutores.
O CINEMA E A INVENÇÃO DA VIDA
MODERNA ("Cinema and the Invention
of Modern Life", 1995). Organização: Leo
Charney e Vanessa R. Schwartz. Editora:
Cosac & Naif (tel.0/xx/11/255-8808,
info@cosacnaify.com.br). Tradução:
Regina Thompson. Projeto editorial e
coordenação: Ismail Xavier. 567 págs. R$
68. Lançamento na próxima semana.
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