São Paulo, quinta-feira, 24 de maio de 2001

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LITERATURA

Coletânea de ensaios de historiadores aborda a revolução estética que preparou o olhar para o cinema

Livro traça ponte do cinema com o teatro e a modernidade

SILVANA ARANTES
DA REPORTAGEM LOCAL

"O cinema foi um erro. Mas foi um erro sedutor."
A provocação do cineasta Jean-Luc Godard parece ter sido aceita (às avessas) pelo professor de história do cinema e doutor em teoria literária Ismail Xavier. Como coordenador da coleção "Cinema, Teatro e Modernidade", da editora Cosac & Naif -cujo primeiro volume, "O Cinema e a Invenção da Vida Moderna", chega semana que vem às livrarias-, Xavier pretende aquecer o debate intelectual sobre o tema.
"Todo o meu esforço é no sentido de quebrar o hábito de refletir sobre o cinema singularizadamente, como se se tratasse de manifestação artística destacada estética e historicamente do conjunto mais amplo da cultura", diz.
Para Xavier, erra, portanto, não o cinema, mas quem o compreende num aspecto reducionista, em oposição ao teatro, às artes plásticas, à literatura e à arquitetura, com os quais, de fato, dialoga.
"O Cinema e a Invenção da Vida Moderna" é um conjunto de 13 ensaios de historiadores, com um traço em comum: o estudo -por aspectos pormenorizados- da "revolução estética", em curso desde o século 18, que instituiu uma nova "organização do olhar" condizente com a linguagem cinematográfica, antes mesmo de seu aparato técnico existir.
O capítulo de Tom Gunning investiga "O Retrato do Corpo Humano: A Fotografia, os Detetives e os Primórdios do Cinema". "A Visão que se Desprende: Manet e o Observador Atento no Fim do Século 19" é o tema de Jonathan Crary, enquanto Miriam Bratu Hansen encerra o volume com um apanhado sobre "Estados Unidos, Paris, Alpes: Kracauer (e Benjamin) sobre o Cinema e a Modernidade".
Para este ano está previsto o lançamento de outros cinco títulos da coleção: "Teoria do Drama Moderno", de Peter Szondi, "Eisenstein e o Construtivismo", de François Albera, "A Tragédia Moderna", de Raymond Williams, "Um Olhar para Reinar", de Arthur Omar, e "O Olho Interminável", de Jacques Aumont.
A participação de autores brasileiros, que se inaugura no próximo semestre com Omar, deve crescer em 2002. "Pretendo convidar pessoas para organizar volumes sobre autores do cinema moderno, mesclando ensaios de pensadores brasileiros e estrangeiros, o que me parece um modelo interessante", diz Xavier.
Acertou quem pensou em Godard como um dos primeiros candidatos a merecer coletânea de ensaios.
Afinal, o cineasta de "Acossado" pode ter cometido seus erros, mas foram erros sedutores.

O CINEMA E A INVENÇÃO DA VIDA MODERNA ("Cinema and the Invention of Modern Life", 1995). Organização: Leo Charney e Vanessa R. Schwartz. Editora: Cosac & Naif (tel.0/xx/11/255-8808, info@cosacnaify.com.br). Tradução: Regina Thompson. Projeto editorial e coordenação: Ismail Xavier. 567 págs. R$ 68. Lançamento na próxima semana.



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