São Paulo, quinta-feira, 24 de maio de 2001

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MUNDO DE BACO

Sonoma surpreende cenário vinícola

JORGE CARRARA
COLUNISTA DA FOLHA

Não há dúvida que o vale de Napa é a mais famosa região vitivinícola californiana. Mas o condado de Sonoma, localizado entre Napa e a costa do Pacífico, apesar de manter um perfil mais discreto que o do seu vizinho, tem também um papel muito importante no cenário vinícola norte-americano.
A região, que conta com cerca de 16 mil hectares de vinhedos (cerca de 20% a mais do que Napa), está plantada com as mais diversas variedades que alcançam um destaque particular em cada um dos seus vales.
No do Russian River, por exemplo, as cepas oriundas da Borgonha se aninharam muito bem. É de lá que saem os belíssimos chardonnay e pinot noir de vinícolas como Kistler, William Selyem e Rochioli. Já a cabernet sauvignon encontrou terreno mais propício no do nigths (moldando belos goles da beringer ou integrando a fórmula do tremendo Peter Michel Lês Pavots) e no do Alexander (com goles como os Silver Oak e Simi Reserve).
É precisamente no vale do Alexander, no norte de Sonoma, que está localizada a vinícola Geyser Peak, cujas garrafas acabam de pousar nas prateleiras da cidade. A casa foi fundada em 1880, por Augustus Quitzow, um dos pioneiros na elaboração de vinhos na região, mas que nunca chegou a elaborar vinhos de destaque.
A virada da Geyser começa em 82 quando é vendida para a família Trione, que possuía cerca de 400 hectares de vinhedos em Sonoma. Recebe novo impulso em 1989 quando a gigante australiana Penfolds compra 50% da firma e importa Daryl Groom, enólogo responsável pela elaboração do grange, um potente shiraz, verdadeiro navio insígnia da vinícola e um dos grandes tintos do Novo Mundo (e do planeta).
A Penfold's deixa a sociedade em 92, mas Groom não só fica como traz da Austrália, para reforçar o time de "winemakers" da Geyser, Mick Schroeter, seu sucessor na modelagem do grange.
Quatro Sonoma County, a linha básica da adega, um branco chardonnay e três tintos, merlot, zinfandel e shiraz, e outro tinto, Reserve (segundo rótulo da casa depois dos topo de linha, os Bin 1), o Alexander Valley Reserve e o Alexander Meritage integram a primeira leva da Geyser Peak.
Todos impressionaram bastante. Apenas os Sonoma County apareceram a um preço um pouco caro para a sua performance. O chardonnay, safra 99, parcialmente fermentado em barris de carvalho americano e francês, tem bom aroma e sabor, típico da variedade e da madeira (maçã, toques cítricos, levíssima torrefação) que marca o final.
O merlot, um 97, mostrou fruta muito madura, evoluída, e um paladar levemente alcoólico, mas que manteve equilíbrio, e o zinfandel -também 97-, um aroma intenso que mescla baunilha, cravo, framboesa e canela com paladar um pouco tânico, mas longo, marcado por fruta e especiaria.
O shiraz, safra 98, também agradou pela fruta concentrada misturada com toques de café e torrefação e um paladar com boa acidez e também marcado pela madeira. O Reserve 98, um meritage que designa na Califórnia um vinho elaborado com um "blend" de cepas francesas (como a cabernet e a merlot), tem perfume de boa complexidade (frutas vermelhas, torrefação, cedro, baunilha, toque herbáceo) e sabor persistente com fortes pinceladas de madeira.



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