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BIENAL DO LIVRO
Autores que estrearam na década passada tornam-se surpresa do evento, com obras inspiradas nos anos 70
Geração 90 molda transgressão formal
CASSIANO ELEK MACHADO
ENVIADO ESPECIAL AO RIO
Em uma Bienal fraca de
lançamentos dos "medalhões" da literatura brasileira, um expressivo grupo de "medalhinhas" vem
mostrando seu brilho. É de escritores que estrearam na literatura
nos anos 90, ou até mesmo que
começam agora, neste mesmo
maio, as melhores surpresas do
megaevento carioca.
A "literatura nova", mais parente do cinema novo do que da bossa nova, ataca em várias frentes,
mas a mais completa é a dupla de
livros "Geração 90", que teve sua
primeira edição publicada em
2001 e que faz a première da segunda dose esta tarde, com lançamento no Riocentro.
Organizado pelo escritor Nelson de Oliveira, ele mesmo um
"geração noventista", o trabalho
juntou textos de jovens contistas
em duas etapas: o primeiro volume teve o subtítulo "Manuscritos
de Computador"; agora é a vez de
"Os Transgressores".
E quais seriam as transgressões
dos 16 "transgressores" agrupados no presente livro, editado
mais uma vez pela Boitempo?
"É de transgressão formal, não
ideológica, que trata esse termo",
diz Oliveira. "Transgressão, aqui,
não é ruptura. Somos uma continuação da geração de 70, do
boom contístico do Ignácio de
Loyola Brandão, Márcia Denser,
Sérgio Sant'Anna."
O próprio organizador diz que
"colocar muita gente no mesmo
saco é arriscadíssimo", mas partiu
para o ensacamento quando teve
a percepção de que o mercado
editorial estava explodindo de títulos e que o leitor não especializado ficava sem direção.
Sua equipe de autores, e ele logo
diz que não é uma coletânea de
contos, mas de contistas, reúne
uma safra elástica: desde um escritor como o paraense Edyr Augusto, de 1954, até a carioca Simone Campos, a caçula do grupo,
nascida em, acredite, 1983.
A jovem autora do romance
"No Shopping" (ed. 7 Letras) ilustra uma das características do
grupo apontadas por Oliveira na
abertura do volume: nenhum deles escreve de modo linear.
"Tentei fazer algo mais linear,
mas não deu de jeito nenhum",
conta. E essa seria mesmo a maior
"transgressão". "Meu livro não é
muito transgressor. Não o bastante para que minha mãe não o
mostrasse para as amigas dizendo: "Olha que bonitinho o livro da
minha filhinha"."
Não é esse o caso de outros dos
"noventistas", Marcelino Freire,
um dos poucos que esteve no primeiro volume e que faz o repeteco
em "os Transgressores".
Além de participar das coletâneas e de ter organizado, com Oliveira, um dos melhores diagnósticos da prosa contemporânea, a
revista "PS:SP", o autor pernambucano apresenta na Bienal uma
"linha de crédito" para a transgressão literária.
Freire lança também hoje a série
LêProsa, que coordena para a
Ateliê Editorial, com "prosadores
tratados como leprosos". "Sofremos o mesmo preconceito", diz.
A coleção decola com um romance inédito do mineiro Rosário
Fusco (1910-77), o "A.S.A. - Associação dos Solitários Anônimos",
e com as narrativas curtas de "BaléRalé", dele mesmo.
GERAÇÃO 90: OS TRANSGRESSORES.
Org.: Nelson de Oliveira. Editora:
Boitempo. Autores: Ademir Assunção,
Altair Martins, André Sant'Anna, Arnaldo
Bloch, Claudio Galperin, Daniel Pellizzari,
Edyr Augusto, Fausto Fawcett, Ivana
Arruda Leite, Joca Reiners Terron, Jorge
Pieiro, Luci Collin, Marcelino Freire,
Marcelo Mirisola, Ronaldo Bressane e
Simone Campos. Quanto: R$ 31 (352
págs.).
BALÉRALÉ. Autor: Marcelino Freire.
Quanto: R$ 20 (144 págs).
A.S.A. Autor: Rosário Fusco. Editora:
Ateliê Editorial (os dois). Quanto: R$ 32
(290 págs.). Lançamento: hoje, às 19h
("Geração 90"), e às 14h (outros), na Libre
(Bienal)
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