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São Paulo, sábado, 24 de maio de 2003

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BIENAL DO LIVRO

Autores que estrearam na década passada tornam-se surpresa do evento, com obras inspiradas nos anos 70

Geração 90 molda transgressão formal

CASSIANO ELEK MACHADO
ENVIADO ESPECIAL AO RIO

Em uma Bienal fraca de lançamentos dos "medalhões" da literatura brasileira, um expressivo grupo de "medalhinhas" vem mostrando seu brilho. É de escritores que estrearam na literatura nos anos 90, ou até mesmo que começam agora, neste mesmo maio, as melhores surpresas do megaevento carioca.
A "literatura nova", mais parente do cinema novo do que da bossa nova, ataca em várias frentes, mas a mais completa é a dupla de livros "Geração 90", que teve sua primeira edição publicada em 2001 e que faz a première da segunda dose esta tarde, com lançamento no Riocentro.
Organizado pelo escritor Nelson de Oliveira, ele mesmo um "geração noventista", o trabalho juntou textos de jovens contistas em duas etapas: o primeiro volume teve o subtítulo "Manuscritos de Computador"; agora é a vez de "Os Transgressores".
E quais seriam as transgressões dos 16 "transgressores" agrupados no presente livro, editado mais uma vez pela Boitempo?
"É de transgressão formal, não ideológica, que trata esse termo", diz Oliveira. "Transgressão, aqui, não é ruptura. Somos uma continuação da geração de 70, do boom contístico do Ignácio de Loyola Brandão, Márcia Denser, Sérgio Sant'Anna."
O próprio organizador diz que "colocar muita gente no mesmo saco é arriscadíssimo", mas partiu para o ensacamento quando teve a percepção de que o mercado editorial estava explodindo de títulos e que o leitor não especializado ficava sem direção.
Sua equipe de autores, e ele logo diz que não é uma coletânea de contos, mas de contistas, reúne uma safra elástica: desde um escritor como o paraense Edyr Augusto, de 1954, até a carioca Simone Campos, a caçula do grupo, nascida em, acredite, 1983.
A jovem autora do romance "No Shopping" (ed. 7 Letras) ilustra uma das características do grupo apontadas por Oliveira na abertura do volume: nenhum deles escreve de modo linear.
"Tentei fazer algo mais linear, mas não deu de jeito nenhum", conta. E essa seria mesmo a maior "transgressão". "Meu livro não é muito transgressor. Não o bastante para que minha mãe não o mostrasse para as amigas dizendo: "Olha que bonitinho o livro da minha filhinha"."
Não é esse o caso de outros dos "noventistas", Marcelino Freire, um dos poucos que esteve no primeiro volume e que faz o repeteco em "os Transgressores".
Além de participar das coletâneas e de ter organizado, com Oliveira, um dos melhores diagnósticos da prosa contemporânea, a revista "PS:SP", o autor pernambucano apresenta na Bienal uma "linha de crédito" para a transgressão literária.
Freire lança também hoje a série LêProsa, que coordena para a Ateliê Editorial, com "prosadores tratados como leprosos". "Sofremos o mesmo preconceito", diz. A coleção decola com um romance inédito do mineiro Rosário Fusco (1910-77), o "A.S.A. - Associação dos Solitários Anônimos", e com as narrativas curtas de "BaléRalé", dele mesmo.



GERAÇÃO 90: OS TRANSGRESSORES.
Org.: Nelson de Oliveira. Editora: Boitempo. Autores: Ademir Assunção, Altair Martins, André Sant'Anna, Arnaldo Bloch, Claudio Galperin, Daniel Pellizzari, Edyr Augusto, Fausto Fawcett, Ivana Arruda Leite, Joca Reiners Terron, Jorge Pieiro, Luci Collin, Marcelino Freire, Marcelo Mirisola, Ronaldo Bressane e Simone Campos. Quanto: R$ 31 (352 págs.).


BALÉRALÉ. Autor: Marcelino Freire. Quanto: R$ 20 (144 págs).


A.S.A. Autor: Rosário Fusco. Editora: Ateliê Editorial (os dois). Quanto: R$ 32 (290 págs.). Lançamento: hoje, às 19h ("Geração 90"), e às 14h (outros), na Libre (Bienal)


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