São Paulo, quinta-feira, 24 de agosto de 2000


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RELÂMPAGOS
Quieta duração

JOÃO GILBERTO NOLL

Era preciso reter a lassidão para que a comunicação pudesse se fazer. Pele oleosa, estava debaixo da árvore, a cigarra anunciando os meses de verão, e só contava com uma idéia: achava-se no reino do indistinto, desabotoado após o almoço, no bojo da luz da primavera, e assim queria ficar. De si como que desciam filamentos ao encontro do capim, da terra. Se alguém o chamasse da porta da cozinha para o café, ele não saberia naquele instante erguer o corpo e dizer: "Já vou". Emitir um juízo, expressar uma aquiescência ou uma dissensão, não importa, tudo isso exigia apoderar-se de seu próprio contorno e evadir-se em sua magra dimensão. Então, sim, chegaria e diria que o café poderia estar mais forte ou que estava esplêndido. Mas ninguém o chamou. E ele ali permaneceu, assim...


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