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RELÂMPAGOS
Quieta duração
JOÃO GILBERTO NOLL
Era preciso reter a lassidão
para que a comunicação pudesse se fazer. Pele oleosa, estava debaixo da árvore, a cigarra anunciando os meses
de verão, e só contava com
uma idéia: achava-se no reino
do indistinto, desabotoado
após o almoço, no bojo da luz
da primavera, e assim queria
ficar. De si como que desciam
filamentos ao encontro do capim, da terra. Se alguém o
chamasse da porta da cozinha
para o café, ele não saberia
naquele instante erguer o corpo e dizer: "Já vou". Emitir
um juízo, expressar uma
aquiescência ou uma dissensão, não importa, tudo isso
exigia apoderar-se de seu
próprio contorno e evadir-se
em sua magra dimensão. Então, sim, chegaria e diria que o
café poderia estar mais forte
ou que estava esplêndido.
Mas ninguém o chamou. E ele
ali permaneceu, assim...
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