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CRÍTICA
Roqueiro é romântico alucinado
DA REPORTAGEM LOCAL
"Para Quando o Arco-Íris
Encontrar o Pote de Ouro"
confirma o que o disco anterior e
as canções para Marisa Monte e
Cássia Eller já indicavam: Nando
Reis solo, longe dos Titãs, é um
romântico obsessivo, alucinado.
Essa deve ser, pelo menos por
enquanto, a característica mais
admirável do autor e também a
do novo disco, rasgado em várias
passagens.
Ouvindo algumas de suas canções mais inspiradas, como "All
Star", "Quem Vai Dizer Tchau" e
"Relicário" (delicadíssima, fecho
grande para o CD), chega-se a
uma personagem apaixonada, arrebatada. O amor, para tal narrador, é enfrentado com coragem a
cada acorde, mesmo quando pareça impossível.
Daí saem o surrealismo de "O
Segundo Sol" (a bela canção que
fez no ano passado para Cássia
Eller e que concorre ao Grammy
latino) e, na faixa-título de agora,
o tal arco-íris que sonha chegar ao
pote de ouro, o encontro entre linhas paralelas apenas no infinito.
Em "All Star", o romantismo à
primeira vista é quase adolescente, de alguém desesperado para
encontrar de novo seu amor.
"Estranho é gostar tanto do seu
All Star azul/ estranho é pensar
que o bairro das Laranjeiras, satisfeito, sorri/ quando chego ali/ e
entro no elevador/ aperto o 12 que
é o seu andar/ não vejo a hora de
te encontrar/ e continuar aquela
conversa/ que não terminamos
ontem/ ficou pra hoje."
Bem, o romantismo cai dois
graus quando o autor revela que
"All Star" foi feita para a amiga
Cássia Eller, quando se encontravam para produzir o disco da cantora. Mas, seja como for, o narrador encontra virtude ao transmitir, aos 37, euforia e paixão que os
da sua idade já nem querem ter
mais. É o contrário de muita coisa
que anda por aí, aleluia.
Bem, aí há os obstáculos. O mais
marcante foi, sempre, sua voz esganiçada, que chegava a chocar
quando foi lançada a estréia solo,
"12 de Janeiro".
O disco novo é o primeiro pulo
de gato rumo à resolução desse
impedimento -ele já modula a
voz a ponto de ela não incomodar, e, como o próprio artista define, é mesmo possível cantar bem
cantando mal. Terá mais espinhos pela frente, mas o esforço de
superação já é evidente.
Sob outro ângulo, as letras simbolistas de Nando também ainda
oscilam. Estão acima de muito do
que se tem produzido aqui em
canção popular, principalmente
quando aparecem mais simples.
Mas ainda tropeçam nos jogos
de palavras demais ("O Vento
Noturno do Verão", "Nosso
Amor"), na verborragia (a faixa-título, "Eles Sabem", "No Recreio"), na excessiva uniformidade instrumental/musical/formal
que torneia muitos dos versos.
Enfim, "Para Quando o Arco-Íris..." é disco de um cara que está
crescendo, e aí nem importam os
prós e os contras de sua banda de
origem ser experiente ou gigante
ou inchada. Para ser artista de
frente, Nando Reis está em começo de trilha. Ele vai bem devagar,
vai subindo a montanha.
(PAS)
Para Quando o Arco-Íris
Encontrar o Pote de Ouro
Artista: Nando Reis
Lançamento: WEA
Quanto: R$ 20, em média
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