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CINEMA/ESTRÉIA
"O ALFAIATE DO PANAMÁ"
Autor se diz desapontado com pós-Guerra Fria
John le Carré reconhece influência de Greene
AMIR LABAKI
ARTICULISTA DA FOLHA
O escritor britânico John le Carré, 69, esteve pela primeira vez no
Festival de Berlim em fevereiro
passado, quando prestigiou a estréia mundial de "O Alfaiate de
Panamá". Le Carré é produtor-executivo e co-assina o roteiro.
Com a ausência de Pierce Brosnan, foi ele quem concentrou as
atenções na entrevista que sucedeu a projeção do longa. "Adorei
este filme", assumiu, sem rodeios.
"Por isso estou aqui."
Le Carré reconheceu não ser essa a regra para as versões de seus
thrillers, destacando outra exceção positiva: ""O Espião que Saiu
do Frio" (1965) era muito bom,
embora fosse dialogado demais".
Trajando terno e gravata, com
cabelos brancos cuidadosamente
penteados, Le Carré mais parecia
um diplomata deslocado do que
um produtor lançando sua mais
recente criação num dos três
maiores festivais do mundo.
Como adaptar um romance para as telas? "A primeira coisa é jogar o livro pela janela e lembrar o
que havia nele." Le Carré classificou "O Alfaiate do Panamá" como seu "primeiro romance não
ideológico, da era do materialismo pós-Guerra Fria. O sarcasmo
e a ironia refletem o desencantamento com o que se seguiu".
Ainda falando de política, disse
estar incomodado numa época
com líderes como Sharon em Israel, Putin na Rússia e Bush nos
EUA. "São como apostas no conflito. Não me parece a estratégia
mais adequada para nossos dias."
Seu "pessimismo" estende-se até
nós, "na América Latina e do Sul".
O escritor assume a dívida com
Graham Greene (1904-1991) e
"Nosso Homem em Havana",
lembrando que já havia frisado a
influência quando lançou o romance. No filme, mais que no livro, as semelhanças são evidentes
-com vantagem para Greene.
Nas telas, " O Alfaiate do Panamá" é um misto entre "Nosso Homem em Havana" (1960) e "Doutor Fantástico" (1964), com alguns toques de James Bond. A
presença de Pierce Brosnan como
o espião Osnard, que contrata como informante um alfaiate de
passado criminoso e imaginação
proporcional às dívidas bancárias, força demais a enganosa
aproximação com o universo inspirado em Ian Fleming. Estamos
aqui no reino greeniano da farsa
de espionagem -e não no de sua
glamourização.
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