São Paulo, segunda, 24 de agosto de 1998

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"Não uso mais pasta de dente Close-Up"

da Reportagem Local

"Não queria o dinheiro de volta, não queria mixaria de R$ 25. Queria ver os caras. A Close-Up Planet não tá (sic) nem aí pra gente. E tem mais: não vou mais usar pasta de dente Close-Up."
O desabafo da estudante e skatista Ivani Souza Santos, 15, resume a insatisfação dos cerca de 8.000 adolescentes que passaram horas na porta do Anhembi no sábado.
Ivani e um grupo de 15 amigos, entre 15 e 18 anos, chegaram ao local às 22h de sexta. Vinham do Capão Redondo, zona sul, e pretendiam dormir lá. "Nem dormimos. A empolgação era muita."
"Quando avisaram que o show não aconteceria, nos deitamos no chão e gritamos "Prodigy! Prodigy!'", conta a menina.
O office boy Vander Gonçalves Batista, 15, reclama que gastou condução, lanche, tempo -"duas horas só para vir de Taboão da Serra"- e o que ganhou foi "vontade de quebrar tudo".
"Mas como não se deve fazer essas coisas, me aguentei. Meu amigo Djavan ficou mais revoltado do que eu. Nem dormiu na noite de sábado, de tanta raiva", diz.
Quem teve mesmo que aguentar a ira adolescente foi a telefonista de plantão ontem no Anhembi. "Mais de mil telefonemas", diz Tania Barreto, 24, que não conseguiu tempo nem para almoçar.
"Ligam xingando, dizem que vão por fogo, explodir o Anhembi etc. Um deles disse que ia dar um tiro na minha testa", diverte-se.
Xingamento, aliás, é o que não falta: "A gente levantou maior cedo (sic) pra ir na bosta desse show, ninguém deu informação que não ia ter, e depois a polícia ainda amontoa a gente", fala a balconista Andréa, do Imirim, zona norte.
O fã número um Wesley Salles Bezerra, 21, tem discos do Prodigy desde 1992 e chegou ao Anhembi às 4h do sábado. Estudante de direito, vê a boa vontade de seus ídolos -"até cancelaram o show no Chile"-, mas não perdoa a organização do festival. "Colocam uma ilusão na nossa cabeça e depois destroem tudo."
Há ainda quem veio de fora. Uma produtora de vídeo, que não quis se identificar, mentiu para seu chefe no Nordeste, ganhou um dia livre e pegou um avião para ver o show em São Paulo. "A passagem ninguém vai me devolver", reclama. (IVAN FINOTTI)



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