São Paulo, segunda, 24 de agosto de 1998

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PRODIGY NA SEXTA-FEIRA O trem da história sonora passou pelo Brasil, mas só carioca pegou


LÚCIO RIBEIRO
enviado especial ao Rio

Ainda reverberava na orelha, no cérebro e nos nervos as batidas de "Fuel My Fire", música que encerrou no Metropolitan a apresentação carioca do Prodigy já na madrugada de sábado.
Daí no mesmo sábado chegou a notícia que mais de 20 mil paulistas ficariam na mão com o cancelamento do Close-Up Planet versão SP. Indignação, aquiescência, silêncio. O corpo infelizmente voltaria ao normal antes do planejado.
O que a banda inglesa de eletropunk fez no Rio, na bela casa de espetáculos na Barra, o público paulistano não merecia ficar privado de testemunhar.
O Metropolitan, depois que o Prodigy tascou experimentos sonoros eletrônicos iniciais ("Run DMC" e "Roll & Rock"), a partir das 23h30 da sexta, ganhou contornos de uma típica filial do inferno.
A figura endiabrada de Keith Flint corria possuído por todo o palco, o calor interno do local beirava os 200 graus, a luz estrobo causava danos irrecuperáveis a qualquer retina e a platéia de cerca de 9 mil pessoas, toda ela, dava a resposta vinda de baixo que tanto pediu o faz-tudo Liam Howlett em entrevista à Folha, a condição imposta pela banda para o show ser inesquecível.
O bicho pegou quando a banda emplacou "Their Law" e "Funky Shit". A primeira, uma das melhores do álbum "Music for the Jilted Generation" (1994). A outra, a amostra inicial tirada do multimilionário CD "The Fat of the Land" (1997).
No palco, o estrobo não parava. Liam Howlett pulava nas mesas. Keith Flint, agora de cabelo preto, mas com o mesmo visual Bozo, incitava o público da frente. Maxim Reality ia de um lado ao outro, alucinado.
E o guitarrista Gizz Butt (da banda punk English Dogs) e o baterista Kieran Pepper davam mais peso e aumentava o quociente humano do Prodigy.
O show estava só começando e já não havia mais o que suar.
O massacre sonoro, luminoso, arrebatador veio com a sequência "Breathe"/ "Voodoo People"/ "Firestarter"/ "Mindfields"/ "Serial Thrilla"/ "Poison"/ "Smack My Bitch Up".
Pronto. O Metropolitan havia chegado ao século 21. E nessa viagem ao futuro era possível constatar que não existia mais ar para respirar, mas ainda sim a satisfação era um estado emocional que não estava extinto.
Depois da catarse, cinco minutos de relativa calmaria. Mas o bis chegou para jogar tudo para o alto de novo, com "Ghost Town" (versão eletrônica para o clássico ska do Specials) e "Fuel My Fire" (porrada punk que fecha o álbum "The Fat of the Land"). E acabou.
O trem da história da música passou pelo Rio. E, embora mais de 20 mil paulistas estivessem na estação prontos para embarcar, esse trem não parou. Pena.



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