São Paulo, segunda, 24 de agosto de 1998

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

A política vai ao cinema

"Segredos do Poder" e "Mera Coincidência" mostram os bastidores das campanhas, em que tudo é válido, inclusive criar guerras fictícias; "O Anti-Herói" ri dos revolucionários

LÚCIO RIBEIRO
Editor-adjunto da Ilustrada

Este texto, sobre o filme "Segredos do Poder", corre o risco de estar igual ao texto do lado, do filme "Mera Coincidência", pois não há como deixar de enfocar o sujeito da hora na mídia internacional: o nosso amigo Bill Clinton, aquele.
Nos últimos anos, tem sido agitado o toma-lá-dá-cá político que cerca o presidente americano. Ele pode até mandar mísseis na cabeça de sudaneses e afeganes, mas o Capitão América também tem levado na cabeça bombas enviadas, entre outros, por Hollywood.
Tanto "Mera Coincidência" quanto este "Segredos do Poder", que chegam agora ao vídeo, mostram com quantos escândalos, mentiras e conchavos se constrói um bom presidente dos EUA.
"Segredos do Poder" ("Primary Colors"), filme escolhido para abrir Cannes 98, talvez ficasse melhor na seção de documentários da locadora, por ter mais um jeito de noticiário de televisão do que propriamente de uma obra cinematográfica.
Guiado pelas mãos do tarimbado diretor Mike Nichols, "Segredos do Poder" bota o impecável John Travolta na pele de Pinton, ops, Clinton. O filme se baseia no livro "Cores Primárias" (recém-lançado no Brasil), que por sua vez é claramente inspirado na campanha de Bill Clinton à Presidência dos EUA, em 1992.
Voltando, Travolta e Emma Thompson são Bill e Hillary Clinton, que no filme ganham os nomes de Jack e Susan Stanton.
A trajetória do casal rumo à Casa Branca é contada do ponto de vista do assessor de campanha, o negro idealista Henry Burton (Adrian Lester), que passa o filme inteiro em dúvida entre apoiar ou abandonar Jack/Bill, que é mulherengo, joga sujo com os oponentes, mente, mas por outro lado é capaz de derramar uma lágrima sincera pela causa do povo sofrido, desempregado, analfabeto.
Jack é o bem e o mal, o mocinho e o bandido, a vergonha da nação e o herói em busca do sonho americano, tudo ao mesmo tempo.
É esse jogo ambíguo bem tramado por Mike Nichols que dá graça a "Segredos do Poder", que caminha entre a sátira, o drama e a comédia, sem nunca decepcionar.
Pelo filme de Nichols -e se eu fosse americano em época de eleição-, eu nunca votaria em Jack Stanton/Bill Clinton. Ou votaria, sim.


Filme: Segredos do Poder (Primary Colors)
Produção: EUA, 1997
Direção: Mike Nichols
Com: John Travolta, Emma Thompson, Adrian Lester, Kathy Bates
Lançamento: Play Arte Home Video




Texto Anterior | Próximo Texto | Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.