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A política vai ao cinema
"Segredos do Poder" e "Mera Coincidência" mostram os
bastidores das campanhas, em que tudo é válido, inclusive
criar guerras fictícias; "O Anti-Herói" ri dos revolucionários
LÚCIO RIBEIRO
Editor-adjunto da Ilustrada
Este texto, sobre o filme "Segredos do Poder", corre o risco de estar igual ao texto do lado, do filme
"Mera Coincidência", pois não há
como deixar de enfocar o sujeito
da hora na mídia internacional: o
nosso amigo Bill Clinton, aquele.
Nos últimos anos, tem sido agitado o toma-lá-dá-cá político que
cerca o presidente americano. Ele
pode até mandar mísseis na cabeça de sudaneses e afeganes, mas o
Capitão América também tem levado na cabeça bombas enviadas,
entre outros, por Hollywood.
Tanto "Mera Coincidência"
quanto este "Segredos do Poder",
que chegam agora ao vídeo, mostram com quantos escândalos,
mentiras e conchavos se constrói
um bom presidente dos EUA.
"Segredos do Poder" ("Primary Colors"), filme escolhido
para abrir Cannes 98, talvez ficasse
melhor na seção de documentários da locadora, por ter mais um
jeito de noticiário de televisão do
que propriamente de uma obra cinematográfica.
Guiado pelas mãos do tarimbado diretor Mike Nichols, "Segredos do Poder" bota o impecável
John Travolta na pele de Pinton,
ops, Clinton. O filme se baseia no
livro "Cores Primárias" (recém-lançado no Brasil), que por
sua vez é claramente inspirado na
campanha de Bill Clinton à Presidência dos EUA, em 1992.
Voltando, Travolta e Emma
Thompson são Bill e Hillary Clinton, que no filme ganham os nomes de Jack e Susan Stanton.
A trajetória do casal rumo à Casa
Branca é contada do ponto de vista
do assessor de campanha, o negro
idealista Henry Burton (Adrian
Lester), que passa o filme inteiro
em dúvida entre apoiar ou abandonar Jack/Bill, que é mulherengo, joga sujo com os oponentes,
mente, mas por outro lado é capaz
de derramar uma lágrima sincera
pela causa do povo sofrido, desempregado, analfabeto.
Jack é o bem e o mal, o mocinho
e o bandido, a vergonha da nação e
o herói em busca do sonho americano, tudo ao mesmo tempo.
É esse jogo ambíguo bem tramado por Mike Nichols que dá graça
a "Segredos do Poder", que caminha entre a sátira, o drama e a comédia, sem nunca decepcionar.
Pelo filme de Nichols -e se eu
fosse americano em época de eleição-, eu nunca votaria em Jack
Stanton/Bill Clinton. Ou votaria,
sim.
Filme: Segredos do Poder (Primary Colors)
Produção: EUA, 1997
Direção: Mike Nichols
Com: John Travolta, Emma Thompson,
Adrian Lester, Kathy Bates
Lançamento: Play Arte Home Video
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