São Paulo, terça-feira, 24 de setembro de 2002

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DANÇA

Bailarinos interagem com imagens de manifestações populares na coreografia "Festa", de Mani Marina Blandini

Carnaval do Brasil sobe ao palco em Lyon

Christian Ganet/Divulgação
Cena de "Festa", de Mani Marina Blandini e Gaetano Battezzato, com o grupo Teatri del Vento, que está na Bienal da Dança de Lyon


ANA FRANCISCA PONZIO
ENVIADA ESPECIAL A LYON

Cenas do Carnaval de Olinda e Salvador, projetadas em tela gigante, integram um dos mais sofisticados espetáculos da 10ª Bienal da Dança de Lyon, evento francês que começou dia 10 e se encerra no próximo domingo.
"Festa", a produção com título em português que utiliza imagens de manifestações populares brasileiras, é uma concepção de Mani Marina Blandini, italiana que já viveu no Brasil, onde trabalhou sob inspiração das esculturas produzidas por Frans Krajcberg.
Na 10ª Bienal de Lyon, Blandini integra o grupo de artistas franceses ou radicados na França, que apresentam espetáculos inspirados na América Latina, tema deste ano do evento. Na programação, espetáculos como o de Blandini procuram ampliar a temática da Bienal, que está reunindo grupos de dança de 11 países latino-americanos, inclusive o Brasil.
Nascida na Sicília, Blandini vive na França desde 1994, quando associou-se a outro coreógrafo italiano, Gaetano Battezzato, para fundar o grupo Teatri del Vento, que hoje é uma das companhias subvencionadas pela região do Rhône-Alpes, onde se localiza Lyon. "Sou uma nômade", diz Blandini, que depois de morar no Brasil entre o final dos 80 e começo dos 90, voltou no início de 2002 para filmar festas populares.
Nesse retorno ao Brasil, ela colheu cenas que, ao final, somadas às filmagens semelhantes que realizou na Argentina e México na mesma época, totalizaram 80 horas de material. Selecionado e editado, esse documentário sem narrativa permitiu a Blandini dar continuidade a uma linguagem cênica que pesquisa fusões entre dança e imagens.
Em "Festa", que estreou quarta no Teatro da Ópera de Lyon, as imagens filmadas na América Latina começam a ser projetadas antes do espetáculo, enquanto o público se acomoda. Ocupando a toda a boca de cena, elas criam pistas para as contraposições que o Teatri del Vento desenvolve em seguida, sobre o comportamento caótico. "O espetáculo procura despertar uma reflexão sobre ordem e caos. As imagens colhidas na América Latina não são usadas para uma interpretação folclórica, mas para integrar um tema universal, relativo ao comportamento humano", diz Battezzato, autor da coreografia de "Festa".
Visualmente, "Festa" proporciona uma fusão magnífica de imagens reais e virtuais. Projetado, o filme realizado por Blandini se mistura à dança-teatro que se desenvolve no palco, como uma dimensão inconsciente dos personagens, imersos no limiar do caos que envolve o cotidiano contemporâneo.
"Dançar em constante contato com as imagens é uma das marcas do Teatri del Vento", explica Blandini, que, em 1986, chegou ao Brasil disposta a estudar danças sagradas. Depois de viver em Salvador, onde deu aulas na Universidade Federal da Bahia, ela mudou-se para o Pantanal mato-grossense, para observar os movimentos dos animais.
Na época, conheceu Krajcberg, que vivia na casa construída em cima de uma árvore em Nova Viçosa, sul da Bahia. Impressionada com o trabalho do escultor, também fez da natureza local a fonte de inspiração de uma coreografia filmada, "Incorporarvore", que, ao ser exibida em Paris, lhe rendeu o convite para instalar um grupo de dança na França.


BIENAL DA DANÇA DE LYON. Até 29 de setembro. Na internet: www.biennale-de-lyon.org.

A jornalista Ana Francisca Ponzio viajou a convite da organização da Bienal da Dança de Lyon.



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