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"O ENVIADO"
Terror se esvai com um roteiro tolo
INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA
Podem ser uma delícia os filmes de terror: são, entre outras, o melhor modo de explorar
as relações entre o real e o imaginário, instaurando um terreno de
plena ambigüidade. Isso é o que
se tem em um filme bem-sucedido como "A Vila", por exemplo. E
o que não acontece com "O Enviado", dirigido por Nick Hamm.
As razões são muitas e de várias
ordens. Existe um bom ponto de
partida: um casal inconsolável
com a perda de seu filho, que acaba de fazer oito anos, recebe a
proposta de um médico para que
seja feita uma clonagem.
OK, temos aí um tema próximo
de "Frankenstein", em que o homem aspira tomar o lugar de
Deus, embora devidamente atualizado. Que a coisa vai dar errado,
sabemos de imediato.
Até que os primeiros momentos
de desarranjo são promissores.
Assim que completa oito anos, o
jovem Adam começa a ter terríveis pesadelos com o outro Adam,
o que morrera: ele é a aparição de
si mesmo, o terror de si mesmo.
Mas quem é o outro? Sonho, aparição, zumbi ou o quê?
Essa sensação de dúvida quanto
ao destino de Adam e esperança
quanto ao destino do filme logo se
esvai, tanto porque o roteiro é tolo, como porque Hamm não controla as situações de dúvida. Se em
determinados momentos trabalha quase à maneira de M. Night
Shyamalan (e o efeito é apenas
imitativo), com mais freqüência
recorre ao terror de sustos, por
vezes sem qualquer justificativa.
À medida que avança, o filme
ressente-se de inconsistências, como a fragilíssima construção dos
personagens e a deficiente criação
de atmosfera. Assim, ninguém se
espantará de que o exercício a que
"O Enviado" mais se dedica seja
tropeçar nas próprias pernas.
O Enviado
Godsend
Direção: Nick Hamm
Produção: EUA/Canadá, 2004
Com: Rebecca Romijn-Stamos, Robert
De Niro
Quando: a partir de hoje nos cines
Center Norte, Interlagos e circuito
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