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SALAS ESPECIAIS
Mostra abandonou núcleo histórico, que fazia sucesso entre o público, para privilegiar a produção atual; pintura e instalação são os trabalhos destacados nas oito salas especiais
Cena contemporânea
Telas de um
mestre belga,
dois artistas
chineses e o ateliê
inteiro de um
brasileiro são as
principais atrações
DA REPORTAGEM LOCAL
As salas especiais ocupam o espaço que, em outras
edições da Bienal, era denominado núcleo histórico.
Elas são dedicadas à produção contemporânea de
artistas com repercussão na cena internacional ou
que a curadoria busca evidenciar como marcos importantes em vez de apresentarem artistas definitivamente já consagrados na história da arte, como foi
o caso do suprematista russo Kasimir Malevich
(1878-1935), em 1994, ou do expressionista norueguês Edvard Munch (1863-1944), em 1996.
A mudança ocorreu na edição passada, sob a presidência de Carlos Bratke e com curadoria de Alfons
Hug, responsável pela iniciativa, e provocou polêmica. Alguns conselheiros da Bienal, como Jens Olensen, afirmaram, na época, que o núcleo histórico da
Bienal não devia ser eliminado porque era o principal chamariz da exposição.
No entanto, com o recorde de público da edição,
com 670 mil visitantes, tal tese perdeu validade.
"A Bienal cresceu. Quando criamos o núcleo histórico, em 1994, junto com o Nelson Aguilar, era realmente para atrair público, pois a Bienal estava esvaziada. Mas o público, hoje, demonstra interesse pela
arte contemporânea, e o núcleo histórico está morto", afirma Edemar Cid Ferreira, ex-presidente da
Fundação Bienal de São Paulo.
A eliminação do núcleo histórico é apoiada por críticos, artistas e curadores nacionais a partir do seguinte princípio: a Bienal deve ser responsável pela
cena contemporânea, função para a qual, afinal, foi
criada, em 1951, e os museus cuidam da história da
arte. "As instituições museológicas, hoje, têm capacidade de apresentar nomes consagrados. Nossa
função é cuidar da produção atual", diz Manoel
Francisco Pires da Costa, presidente da Bienal, que
apoiou a proposta de Hug, em sua atual gestão. O curador repete o mesmo argumento -os museus já
cuidam da produção histórica de arte.
Nesta edição, o curador alemão escolheu um time
diversificado de artistas, com destaque para a instalação e a pintura, que Hug busca reforçar nesta Bienal. Em ambas as áreas há três artistas escolhidos entre os oito que compõem esse núcleo do evento.
Do Brasil, o curador selecionou três artistas: Beatriz Milhazes, que mostra suas telas, Artur Barrio,
com uma instalação feita de jangada, e Paulo
Bruscky, que teve seu ateliê inteiro deslocado do Recife, onde mora, para o prédio da Bienal.
Compõe esse ambiente um cavalete abandonado
que, simbolicamente, marca a passagem, na obra de
Bruscky, de seu trabalho com a pintura em um sistema tradicional para a arte conceitual. E, coincidentemente, esse elemento acaba por se tornar uma metáfora para a mudança do núcleo histórico para a sala
especial: a ruptura com a tradição.
(FABIO CYPRIANO)
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