São Paulo, quarta-feira, 24 de setembro de 2008

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Ben Allison apresenta a "evolução" do jazz

Baixista americano criador de coletivo que deu novo fôlego ao gênero toca em SP

"Jazz é um tipo de música em constante evolução. Ele precisa mudar, senão morre", diz Allison, que prefere o novo ao clássico


CARLOS CALADO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

No início dos anos 90, o baixista norte-americano Ben Allison assumiu uma missão tão arriscada quanto necessária: tentar salvar o jazz de se tornar peça de museu. Em parceria com outros músicos jovens radicados em Nova York, ele criou o Jazz Composers Collective, um coletivo de compositores e instrumentistas que trouxe novo fôlego criativo a esse gênero musical.
"Quando entrei em cena, no final dos anos 80, havia um forte movimento conservador no jazz. Por isso havia o medo crescente de que o jazz pudesse se tornar uma arte de repertório, como a música clássica européia", relembra o músico de 41 anos, que está em São Paulo para três apresentações.
Hoje, ele e seu quinteto, o Man Size Safe, formado por Ron Horton (trompete), Michael Blake (sax), Steve Cardenas (guitarra) e Michael Sarin (bateria) tocam no Ao Vivo Music. Na sexta e no sábado, serão os convidados dos concertos que a orquestra Jazz Sinfônica fará no Auditório Ibirapuera.
Nessas três apresentações entram composições de Allison que fazem parte de seu álbum mais recente, "Little Things Run the World" (pequenas coisas dominam o mundo), lançado em janeiro, nos Estados Unidos. Segundo Dan Ouellette, crítico da revista "Down Beat", um CD que "promete ficar entre os melhores de 2008".
Aos desavisados, vale o recado: quem for às apresentações de Allison com o Man Size Safe esperando ouvir releituras de clássicos do gênero, como um standard de Duke Ellington ou uma velha canção de Cole Porter, pode se decepcionar.
"Para mim, esse tipo de música fala de uma época que já passou. Elas foram, e ainda são, grandes músicas, mas não fizeram parte de minha juventude", justifica o jazzista, que combina em suas composições influências de diversos gêneros, como o pop, o rock, ritmos latinos ou música africana, além do jazz de vanguarda.

Evolução do jazz
"Acho que o jazz é uma música em constante evolução. Ele precisa mudar, senão morre", afirma Allison, ressaltando a necessidade que ele e seus parceiros sentem de renovar essa música. "Nós faríamos uma injustiça às grandes mentes musicais que vieram antes de nós, se não corrêssemos riscos para criar algo novo."
Durante os 12 anos em que dirigiu o Jazz Composers Collective (1992-2004), Allison seguiu à risca esse ideal, desenvolvendo-se como compositor, arranjador e instrumentista, ao lado de outros inventivos parceiros, como o pianista Frank Kimbrough, o trompetista Ron Horton e os saxofonistas Ted Nash e Michael Blake.
"Para mim, esse projeto significou uma fantástica explosão de criatividade", sintetiza, esboçando um balanço. "Ao final desse trabalho, o JCC tinha feito mais de cem concertos, exibindo mais de 250 músicos e 50 compositores, que estrearam mais de 300 obras. Mesmo que o JCC esteja morto como organização, o espírito do que tentamos fazer permanece em muitos grupos que seguem tocando pelo mundo."
Mesmo que sua obra não seja tão popular como as de jazzistas mais conservadores, Allison não pode reclamar de falta de reconhecimento. Desde a década passada seu nome aparece nas enquetes das revistas especializadas, que elegem os destaques do ano, em diversas categorias: de compositor e arranjador em ascensão a melhor baixo acústico.


BEN ALLISON
Quando: hoje, às 21h (Ao Vivo Music), e sex. e sáb., às 21h (Auditório Ibirapuera)
Onde: Ao Vivo Music (r. Inhambu, 229, tel. 0/xx/11/5052-0072); Auditório Ibirapuera (av. Pedro Álvares Cabral, s/nº, portão 2, pq. Ibirapuera, tel. 0/ xx/11/6846-6000)
Classificação indicativa: não recomendado para menores de 18 anos
Quanto: R$ 25 (Ao Vivo Music) e R$ 30 (Auditório Ibirapuera)




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